Angela Albino: Muito além da redação do Enem

Enquanto para os milhões de brasileiras e brasileiros que prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2015 o resultado deve sair na primeira quinzena de janeiro de 2016, para a sociedade a prova deste ano deixou uma reflexão permanente que vai muito além do tema da redação, “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.

Por Angela Albino*

Angela Albino (PCdoB-SC)

A importância da discussão do tema é cada vez mais atual e necessária. Precisamos, com muita urgência, falar de gênero, falar de igualdade entre homens e mulheres, em todas as esferas, principalmente nas escolas, espaços fundamentais na formação da cidadania.

Recentemente, um estudo com o Mapa da Violência contras as mulheres foi divulgado e trouxe números alarmantes, que colocaram o Brasil como o quinto país do mundo no ranking global de assassinatos de mulheres. A taxa só é maior em El Salvador, na Colômbia, na Guatemala e na Rússia. O detalhe assustador é que a maioria dos crimes foi cometida por alguém da própria família. Em nosso país 13 mulheres são assassinadas por dia. Em todo o ano de 2013 foram mais de 4,7 mil mortes, a maioria das vítimas tinha entre 18 e 30 anos e mais de seis em cada 10 mulheres eram negras. Entre 2003 e 2013, o número de assassinatos de mulheres negras aumentou 54%, enquanto o mesmo crime contra mulheres brancas caiu quase 10%.

Lamentavelmente, as estatísticas deste último levantamento comprovam que estamos longe do fim da violência de gênero e devem acender um alerta nacional que reforcem a luta pela conscientização sobre as consequências dessa tragédia. Infelizmente, apesar de ter salvado 300 mil vidas desde sua entrada em vigor, em 2006, a Lei Maria da Penha, e a Lei do Feminicídio, sancionada em março deste ano, não parecem serem suficientes para o enfrentamento desta dura realidade que aflige tantas mulheres pelo Brasil.

É preciso de uma vez por todas que os homens aprendam que nós mulheres não somos propriedade de ninguém, muito menos podemos ser agredidas verbalmente, psicologicamente, fisicamente ou sexualmente. De forma nenhuma. Essa lição vai muito além da redação do Enem.