Aliada do golpe, mídia quis transformar recomendação em julgamento

O Globo, Folha e Estado de S. Paulo destacam que o relator das contas da presidenta Dilma Rousseff em 2014, senador Adir Gurgacz (PDT-RO), “contraria” o Tribunal de Contas da União, como se ele fosse obrigado a seguir o TCU. As manchetes revelam apenas como o golpismo que marcou o ano de 2015 passou o carro na frente dos bois. A oposição, aliada a jornais conservadores, pretendia cassar uma presidenta eleita acusando-a de um suposto crime (as chamadas “pedaladas”) que não foi julgado.

Manchetes de jornais

“Relator contraria TCU e pede aprovação das contas de Dilma”, grita a manchete principal do jornal O Globo. Internamente, a Folha de S. Paulo usa o mesmo texto: “Relator contraria TCU e pede aprovação das contas de Dilma. No Estado de S. Paulo, uma ligeira mudança: “Relator sugere aprovar contas de Dilma e contraria TCU”.

O que chama a atenção nas três manchetes é o uso do verso contrariar, como se o senador Adir Gurgacz (PDT-RO) fosse obrigado a seguir as recomendações do Tribunal de Contas da União.

Na realidade, o TCU apenas aconselha os senadores, que são soberanos para julgar as contas presidenciais. Ou seja: as manchetes demonstram apenas o quanto alguns jornais conservadores foram apressados em sua cruzada golpista. Pretendiam cassar o mandato de uma presidenta legitimamente eleita, acusando-a de um suposto crime (as “pedaladas fiscais”) que ainda nem foi julgado.

Nas reportagens dos jornais, há também outro ponto comum. O relator é sempre tratado como um “aliado do governo Dilma”, como se isso desqualificasse seu voto.

No entanto, ao longo de 2015, os ministros do TCU, e e em especial o relator Augusto Nardes (citado na Zelotes), jamais foram citados como “aliados” da oposição ou da mídia. Seus votos, que, repita-se, não têm o peso de uma decisão judicial, foram tratados como sentença definitiva e transitada em julgado pelos arquitetos do golpe.

Sabe-se agora como a mídia e os golpistas passaram o carro na frente dos bois. Tudo indica que as contas da presidenta Dilma em 2014 serão aprovadas. E as de 2015 nem começaram a ser avaliadas.