Dia Nacional da Visibilidade Trans: o que temos a ver com isso?

No dia 29 de janeiro é o dia nacional da visibilidade trans, esse dia foi escolhido porque em 29 de janeiro de 2004, pela primeira vez na história do nosso país, travestis e transexuais estiveram no Congresso Nacional para que falassem aos parlamentares brasileiros sobre a realidade dessa população que até o momento só era vista como prostituição e pessoas anormais.

Andrey Roosewelt Chagas Lemos e Danieli Balbi*

Comunidade LGBT - Foto: Acervo UJS

Lamentavelmente o Brasil é o país que mais mata transexuais e travestis, o desrespeito às identidades trans acarretam na expulsão dos lares e das escolas. Consequentemente, essas pessoas são excluídas do mercado do trabalho, o que corrobora com a prostituição e a informalidade sendo a única alternativa de sobrevivência e contribuindo diretamente para um quadro de vulnerabilidade social. A prostituição como única forma de sobrevivência coloca essas pessoas num quadro de vulnerabilidade social. Além da exposição de risco à infecções, as pessoas travestis e transexuais também estão expostas à violência, pois a ausência de políticas públicas voltadas para educar a sociedade para o respeito e a valorização da diversidade, a ignorância a respeito das identidades de gênero e de orientação sexual e afetiva são resultados de um país que é laico na Constituição, mas que ainda tem uma forte influência de setores conservadores legitimados por discursos fundamentalistas e dogmas religiosos que excluem a população LGBT de direitos e contribuem com o extermínio dessa população.

Uma outra informação que muito nos preocupa é que a estimativa de vida de uma pessoa transexual no Brasil é de 35 anos de vida, enquanto a da população em geral brasileira é de setenta anos, ou seja, o Brasil condena as pessoas transexuais a viverem a metade pela metade. E você o que tem feito com relação a isso? O que nós temos a ver com isso?

O movimento de travestis e transexuais no Brasil há décadas vem lutando pela visibilidade de demandas historicamente reprimidas, gritando para serem ouvidas e ouvidos, pedindo socorro Temos exemplos de ações pontuais, parcerias mínimas, medidas pela metade, paliativas. O Departamento Nacional de IST, Aids e Hepatites Virais desde 2001 vem fortalecendo a participação dessas pessoas em espaços de controle social com foco na saúde e prevenção. Em 2004, o governo brasileiro criou em o Programa Brasil sem Homofobia e em seguida o Processo Transexualizador e a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, mas as travestis, mulheres transexuais e homens trans precisam de respeito nas famílias, acolhimento na escola e no posto de saúde, oportunidade de trabalho para garantir dignidade e uma cultura que desconstrua as opressões de gênero que são impostas em nossa sociedade fruto do patriarcado.

Há anos, nesse dia, lamentamos a violência e a perda de amigas e amigos. A transfobia tem matado todos os dias, precisamos respirar, com algum espaço de celebração da vida, que colabore com ações estratégicas e articuladas para a promoção do respeito e valorização dessas pessoas. Por enquanto as pessoas trans estão carregadas de dores e angústias, contabilizando corpos mortos, empunhamos bandeiras e procurando seguir na luta contra a transfobia. O Brasil, infelizmente, segue matando e marginalizado transexuais e travestis.

É evidente que há alguns avanços em nossa conta, fruto de grande mobilização do segmento. Contudo, ainda não estamos com as bandeiras históricas que possam garantir o direito à sua identidade como a retificação do registro civil com nome e sexo adequado à sua identidade, direito ao amor e afeto da família e da sociedade, direito ao acesso ao mercado de trabalho com dignidade e oportunidades igual a qualquer outro cidadão.

Nós, que sonhamos com uma sociedade mais justa, mais igualitária, sem opressão, defendemos que existem várias formas de manifestar o masculino e feminino, existem muitas maneiras de expressar sua identidade e seu desejo afetivo, existem diferentes expressões da humanidade, e essa diversidade precisa ser valorizada e respeitada enquanto dimensão da cidadania das pessoas.

É pelo compromisso com a vida e a plena cidadania do segmento trans que a UNALGBT saúda às companheiras e aos companheiros travestis e transexuais, reafirmando nosso compromisso com o fim das assimetrias que se estabelecem na nossa sociedade de classes, que necessita marginalizar pessoas por gênero, etnia, sexualidade e outras apresentações simbólicas e concretas para efetivar a exploração do homem pelo homem. Por isso conclamamos todas e todos a lutarem contra a transfobia, convidamos a você e ao conjunto da sociedade brasileira e internacional a assumirem um compromisso humano com a construção de um processo civilizatório que através de políticas afirmativas e o enfrentamento às desigualdades possamos alcançar mais respeito e mais oportunidades para todas e todos.

Menos transfobia, menos lgbtfobia, menos machismo, menos racismo e mais cidadania para as pessoas trans. Para lutar contra a transfobia não precisa ser trans, precisa ter compromisso com a vida e com o futuro da nossa humanidade!!!

Na esteira da luta, nossa bandeira também é azul e rosa, hoje e sempre!