A gafe que salvou o Oscar

Era tamanha a expectativa em torno de La La Land que ninguém desconfiou quando Warren Beatty e Faey Dunaway anunciaram o prêmio de melhor filme para o longa de Damien Chazelle. Equipe e elenco subiram ao palco, começaram os discursos emocionados e veio a inesperada interrupção. “Na verdade não ganhamos.” Veja também a lista dos filmes e artistas premiados.

Oscar 2017 Melhor Filme - Foto: Kevin Winter AFP

O prêmio fora anunciado errado e era, na verdade do belo Moonlight, de Barry Jenkins. O produtor do musical Jordan Horowitz rapidamente tomou o microfone para dizer: “Houve um erro. Subam aqui, não é uma piada”, interrompeu. “Ficarei muito orgulhoso de entregar esse Oscar aos meus amigos de Moonlight.”

Beatty justificou-se dizendo que, quando abriu o envelope, leu o nome de Emma Stone seguido do título do filme. Fez uma breve pausa, interpretada como tentativa de criar um suspensa, e mostrou o papel para Dunaway, que fez o anúncio. “Parece que estou sonhando”, reagiu Jenkins assim que chegou ao microfone.

O constrangimento da situação se assemelhou a assistir a um casamento que é interrompido no momento em que o padre pergunta se alguém tem algo a dizer contra a união. E lembra muito um dado momento do longa estrelado por Emma Stone e Ryan Gosling, em que os personagens são mostrados vivendo o que poderia ter sido e não foi. A vida imita a arte.

A mistura de gafe e saia-justa veio a calhar numa cerimônia que já se arrastava há pelo menos uma hora, presa às tradições e formatos que a engessam se pensada como um programa de televisão. Uma boa surpresa foi a apresentação de Justin Timberlake logo no início, animando o clima para o início dos trabalhos.

O mestre-de-cerimônias Jimmy Kimmel suou para fugir ao protocolo o máximo que pode. É uma pena que tenha se prendido demais aos modelos que está acostumado a fazer em seu talk-show. A começar pelas dezenas de referências à sua suposta rixa com Matt Damon, piada compreendida apenas pelo público que o acompanha, e pelos quadros que está habituado a apresentar rotineiramente.

Também plantou uma pegadinha com um grupo de participantes de um tour por Hollywood, que supostamente não sabiam que estavam prestes a ser introduzidos no Dolby Theater – a despeito de toda a publicidade e segurança que rondam o local – e entraram no meio da cerimônia fazendo selfies com Denzel Washington e companhia.

Kimmel também brincou com Donald Trump, famoso por seus tuítes críticos nas cerimônias passadas, e seu notável silêncio. Foi o apresentador, por sinal, quem mais fez críticas ou comentários citando a administração do presidente (“Não era bom quando era a Academia que era racista?”), quando mesmo artistas que notoriamente se posicionaram em outras premiações nesta temporada optaram por discursos de aceitação mais pessoais e familiares. Muitos se ativeram a ressaltar a diversidade que o cinema pode celebrar e a empatia que pode causar, sem fazer menção direta à política norte-americana.

A exceção foi a carta enviada pelo diretor de O Apartamento, o iraniano Asghar Farhadi, que não compareceu à cerimônia em protesto à proibição de entrada nos Estados Unidos de cidadãos de nove países de maioria muçulmana. “Minha ausência é um ato de respeito aos cidadãos iranianos e os de outras seis nações que não podem entrar nos Estados Unidos. Medidas como está criam medo (…) Guerras. Cineastas podem virar suas câmeras para criar empatia entre nós e os outros. Empatia que a gente precisa agora mais do que nunca”, declarou o diretor iraniano por meio de sua porta-voz.

Previsto por muitos como o novo recordista do Oscar, La La Land levou apenas seis dos 14 prêmios a que estava indicado. Emma Stone foi premiada como a melhor atriz do ano, assim como a canção City of Stars, que ganhou interpretação de Jon Legend e foi a eleita em canção original. O filme levou ainda as categorias melhor fotografia, direção de arte, trilha sonora e diretor.

Filmes como Lion – Uma Jornada para Casa, Estrelas Além do Tempo e A Qualquer Custo saíram sem nenhuma menção da Academia, enquanto Até o Último Homem recebeu os prêmios de edição e mixagem de som. Já A Chegada venceu apenas edição de som.

Viola Davis foi ovacionada pelo discurso emocionado ao receber o prêmio de melhor atriz coadjuvante por Um Limite Entre Nós. Seu companheiro de cena, contudo, perdeu o prêmio de melhor ator para Casey Affleck, de Manchester À Beira Mar, que ganhou também roteiro original.

A confusão perpetrada pela produção do Oscar não faz justiça às inúmeras qualidades de Moonlight. A atuação impecável de Mahershala Ali foi coroada com o prêmio de ator coadjuvante, assim como o roteiro adaptado por Jenkins e Tarell Alvin McCraney. Por pouco, não perdeu o posto merecido de filme do ano.

É uma pena que a equipe desse potente longa tenha sido privada de seu grande momento de glória ao ter que dividir a cena com tamanho fiasco, lembrado daqui por diante como o dia em que o Oscar trocou os pés pelas mãos. A consagração do filme teria sido ainda maior se Jenkins tivesse levado a estatueta de direção (que ficou com Damien Chazelle, de La La Land) e, assim, se tornasse o primeiro negro a vencer a categoria.

Relação dos premiados

Melhor filme:
Moonlight: Sob a Luz do Luar
Outros indicados: Hacksaw Ridge, Estrelas Além do Tempo, Lion: uma jornada para casa, Cercas (Fences), A Qualquer Custo, Manchester à beira-mar e La La Land – Cantando estações

Melhor ator:
Casey Affleck – Manchester a beira mar
Outros indicados: Denzel Washington – Cercas (Fences), Ryan Gosling – La La Land – Cantando estações, Andrew Garfield – Até o Último Homem e Viggo Mortensen – Capitão Fantástico

Melhor atriz:
Emma Stone – La La Land – Cantando estações
Outras indicadas: Natalie Portman – Jackie, Meryl Streep – Florence: Quem é Essa Mulher?, Ruth Negga – Loving e Isabelle Huppert – Elle

Melhor diretor
Damien Chazelle, La La Land
Outros indicados: Denis Villeneuve, Arrival (A Chegada), Mel Gibson, Hacksaw Ridge, Kenneth Lonergan, Manchester à beira-mar e Barry Jenkins, Moonlight

Melhor ator coadjuvante:
Mahershala Ali – Moonlight: Sob a luz do luar
Outros indicados: Jeff Bridges – Até o Último Homem, Lucas Hedges – Manchester à beira-mar, Dev Patel – Lion: uma jornada para casa e Michael Shannon – Animais Noturnos

Melhor atriz coadjuvante
Viola Davis – Cercas (Fences)
Outras indicadas: Naomie Harris – Moonlight, Nicole Kidman – Lion, Octavia Spencer – Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures) e Michelle Williams – Manchester à beira-mar

Melhor animação:
Zootopia – Essa Cidade é o Bicho
Outras indicados: Kubo e a Espada Mágica, Moana: Um Mar de Aventuras, Minha Vida de Abobrinha e A Tartaruga Vermelha

Melhor filme estrangeiro:
O apartamento (Irã), do diretor Asghar Farhadi
Outros indicados: Land of mine (Dinamarca), A mand called Ove (Suécia), O apartamento (Irã), Tanna (Austrália) e Toni Erdmann (Alemanha)

Melhor roteiro adaptado:
Moonlight
Outros indicados: Lion, Cercas (Fences), Estrelas além do tempo e A chegada

Melhor roteiro original:
Manchester à beira-mar
Outros indicados: La la land: Cantando estações, A qualquer custo, O lagosta, 20th century woman

Melhor design de produção:
La la land: Cantando estações
Outros indicados: A chegada , Animais fantásticos e onde habitam, Ave, Cesar! e Passageiros

Melhor fotografia:
La La Land – Cantando as Estações

Outros indicados: A chegada, Lion: uma jornada para casa e Moonlight: Sob o sol do Luar

Efeitos visuais:
Mogli
Outros indicados: Deepwater horizon, Doutor Estranho, Kubo e a Espada Mágica e Rogue One: Uma história Star Wars

Melhor curta-metragem:
Sing
Outros indicados: Ennemis Intérieurs, La femme et le TGV, Silent night e Timecode

Melhor documentário:
O.J.: Made in America
Outros indicados: Fogo no Mar, I am not your negro, Life, Animated e A 13ª Emend

Melhor documentário de curta-metragem:
The white helmets
Outros indicados: 41 miles, Extremis, Joe's violin e Watani: My homeland

Melhor cabelo e maquiagem:
Suicide Squad
Outros indicados: A Man Called Ove e Star Trek Beyond

Melhor edição de som:
A chegada
Outros indicados: Deepwater horizon, Até o último homem, La la land: Cantando estações e Sully: O herói do rio Hudson

Melhor mixagem de som:
Até o último homem
Outros indicados: A Chegada, La la land: Cantando estações, Rogue One: Uma história Star Wars e 13 Hours: The secret soldiers of Benghazi

Melhor curta de animação:
Piper
Outros indicados: Blind Vaysha, Borrowed Time, Pear Cider and Cigarettes e Pearl

Melhor canção original:
City Of Stars – La La Land
Outros indicados: The Fools Who Dream – La La Land, Can't Stop – Trolls, The Empty Chair – Jim, The James Foley Story e How Far I'll Go – Moana

Melhor trilha sonora:
Justin Hurwitz – La la land: Cantando estações
Outros indicados: Mica Levi – Jackie, Nicholas Britell – Moonlight: Sob a luz do luar, Thomas Newman – Passageiros

Melhor figurino:
Animais fantásticos e onde habitam – Colleen Atwood
Outros indicados: Allied, Florence: Quem é essa mulher?, Jackie e La la land: Cantando estações

Melhor montagem:
Até o Último Homem
Outros indicados: La La Land: A Cidade das Estrelas, Moonlight: Sob a luz do Luar