NYT: A democracia no Brasil pode ser corroída se barrarem Lula

Na véspera do julgamento do ex-presidente Lula, o jornal diário estadunidense The New York Times publicou um artigo, nesta terça-feira (23), onde critica duramente o poder judiciário brasileiro, na figura do juiz Sérgio Moro e trata da "escassa evidência de provas". Para o periódico, a democracia no Brasil pode ser definitivamente corroída se impedirem Lula, sem provas, de concorrer às eleições presidenciais deste ano.

Lula NYT

O artigo assinado pelo co-diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas em Washington e o presidente da Just Foreign Policy, Mark Weisbrot, sob o título "Democracia do Brasil empurrada para o Abismo", discorre sobre a história do Brasil recente, lembra que a democracia do país é bastante jovem e admite que o "Estado de direito já havia sido atingido por um golpe devastador em 2016". 

Pela primeira vez uma publicação do jornal chama de "golpe" da "direita" o afastamento de Dilma Rousseff da presidência do Brasil, onde foi eleita (2010) e reeleita (2014) em um processo democrático, mas sofreu "um golpe devastador em 2016". Segundo o artigo, ela foi acusada e afastada do cargo, "enquanto o próprio promotor federal do governo concluiu que não era um crime".

"Embora houvesse funcionários envolvidos na corrupção de partidos em todo o espectro político, não houve acusações de corrupção contra a Sra. Rousseff no processo de impeachment", apontou o NYT.

O artigo faz uma dura crítica ao Poder Judiciário brasileiro e qualifica o ex-presidente Lula como "o líder político mais importante da história brasileira". Para o jornal o poder judiciário, na figura do juiz Sergio Moro que foi o responsável de colocar "a democracia brasileira à beira do abismo".

Julgamento

O periódico ressalta que a democracia "pode ser mais corroída quando um tribunal de apelação de três juízes decidir se a figura política mais popular do país será impedido de competir nas eleições presidenciais de 2018 , ou mesmo preso". 

E desqualifica os argumentos do processo e a imparcialidade do julgamento e ainda atribuí ao juiz Sérgio Moro o gosto pelo "espetáculo", lembrando que Lula foi levado para depoimento em condução coercitiva.

"O juiz Moro organizou um espetáculo para a imprensa em que a polícia apareceu na casa do Sr. da Silva e levou-o para interrogatório – apesar de o Sr. da Silva ter dito que iria denunciar voluntariamente para interrogatório", lembrou o jornal.

Tribunal imparcial

"Não há muita pretensão de que o tribunal seja imparcial. O presidente do painel de apelação já elogiou a decisão do juiz de julgamento de condenar o Sr. da Silva por corrupção como "tecnicamente irrepreensível", e o chefe de gabinete do juiz postou em sua página no Facebook uma petição pedindo a prisão do Sr. Silva".

Falta de provas

O artigo discorre ainda sobre a frágil consistência do julgamento e a "escassa evidência de provas".

"O suborno alegadamente recebido pelo Sr. da Silva é um apartamento de propriedade da OAS. Mas não há provas documentais de que o Sr. da Silva ou sua esposa já tenham recebido títulos, alugados ou mesmo ficaram no apartamento, nem que tentaram aceitar esse presente".

"A evidência contra o Sr. da Silva baseia-se no testemunho de um executivo da OAS condenado, José Aldemário Pinheiro Filho, que sofreu uma pena de prisão reduzida em troca da evidência do estado de viragem. Segundo o relato do importante jornal brasileiro Folha de São Paulo, o Sr. Pinheiro foi impedido de negociar a súplica quando ele originalmente contou a mesma história que o Sr. da Silva sobre o apartamento. Ele também passou cerca de seis meses na prisão preventiva. (Esta evidência é discutida no documento de sentença de 238 páginas)".

O texto afirma ainda que mesmo sem provas, o ex-presidente Lula foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e meio de prisão. "…essa escassa evidência foi suficiente para o juiz Moro", critica. "Em algo que os americanos poderiam considerar como um processo de canguru".

A íntegra do artigo publicado em inglês.