Mídia pinça frase de Marcelo Odebrecht, mas omite fraude em documentos
O depoimento de Marcelo Odebrecht ao juiz Sergio Moro nesta quarta-feira (11), ganhou amplo destaque por parte da grande mídia que pinçou uma frase do "empresário" em que ele em tom de ameaça e tom de ironia diz ao advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que quanto mais enviar aos investigadores da Lava Jato seus e-mails recuperados, "mais complica" a vida do ex-presidente.
Por Dayane Santos
Publicado 12/04/2018 16:03
"Eu já devo ter encaminhado mais de 3 mil e-mails, entendeu? Eu digo para o senhor o seguinte: é melhor que a defesa do Lula fique com os e-mails, porque quanto mais eu vou… mais complica a vida dele", disse Marcelo Odebrecht.
A frase do empresário parece muito contundente e como tem sido a prática nos processos da Lava Jato e a cobertura da grande mídia, a palavra do delator vale mais do que as provas.
No entanto, a Globo e outros meios de comunicação não citaram o laudo da Polícia Federal que confirmou o que disse a perícia feita pela defesa do ex-presidente Lula de que os documentos apresentados pela empreiteira à Justiça foram fraudados para passar como provas de repasses de propinas a políticos registrados no Drousys, o sistema de contabilidade paralela da Odebrecht.
A PF entregou o laudo da perícia feita nos sistemas e de acordo com seis peritos da PF, 842 arquivos foram identificados como "uma espécie de não conformidade", ou seja, fraudados.
A Rede Globo, em sua tática de novela em que estabelece o julgamento a partir dos personagens, tratou de fazer uma edição colocando Moro como o super juiz que combate os advogados de defesa – como se defender o cliente fosse um papel menor – e buscando desqualificar os argumentos dos advogados.
A audiência é parte do processo que trata sobre a suposta compra de um terreno, pela empreiteira, para a construção de uma sede do Instituto Lula. Mas a entidade nunca chegou a ocupar e ter a propriedade do imóvel.
O depoimento foi marcado após a defesa de Lula pedir a verificação da autenticidade do material apresentado por Odebrecht, visto que as perícias apontaram fraude. O advogado Cristiano Zanin afirmou durante a audiência que não teve acesso ao conteúdo integral dos e-mails e do sistema, conforme havia solicitado, e que só questionaria em relação àqueles que o empresário selecionou e apresentou.
Moro então disse que a audiência foi marcada atendendo a um pedido da defesa de Lula. Zanin, no entanto, rebateu negando ter solicitado a audiência, mas sim a verificação da autenticidade do material apresentado por Marcelo Odebrecht.
"Eu acho que é um pouco brincadeira da defesa", afirmou Moro. "Não, brincadeira não é. A defesa necessita ter acesso ao material", reafirmou o advogado, reforçando que o pedido estava devidamente documentado em e-mails trocados com um agente da Polícia Federal.
No laudo feito pelos peritos, os sistemas da empreiteira possuem finalidades distintas: o primeiro é um sistema de acesso remoto, contendo diversas funcionalidades. O segundo, dizem os peritos, é um sistema de Informação utilizado nas funções contábeis e financeiras.
Os peritos contratados pela defesa do ex-presidente Lula já haviam denunciado a fraude. Sem ter acesso ao sistema, mas a partir da análise feita nos papéis entregues por Marcelo e anexados pelo Ministério Público Federal, o peritos identificaram sinais de fraude com adulterações grosseiras, como alguns extratos com marcas de montagem ou enxerto, além da inconsistências em datas de transações e em assinaturas. Mas o MPF sustenta, a partir da documentação, que a Odebrecht custeou a aquisição do imóvel.
Marcelo entregou supostos emails datadas de julho de 2010 até março de 2012, com mostrariam como executivos da empreiteira escondiam as transações e se preocuparam em não expor a empresa como real compradora do terreno. Os e-mails também mencionam pessoas e empresas que teriam sido usadas como intermediárias da Odebrecht e de Lula na transação.
Apesar da grande quantidade de mensagens, não há nenhuma citação nominal ao ex-presidente do material entregue. A defesa do ex-presidente também aponta que os e-mails apresentados por Marcelo Odebrecht "não servem para fazer qualquer prova" contra o Lula "e tampouco tiveram a autenticidade evidenciada pelo laudo" da PF.