Movimento dos rodoviários do Pará resiste à reforma trabalhista

“É um momento histórico para a classe rodoviária. Conquistamos o nosso tão sonhado ‘ponto biométrico’, um anseio de décadas e que nenhuma outra gestão conseguiu realizar. Agora, o trabalhador irá registrar sua entrada, saída, horas extras e hora de intervalo, com máximo de segurança, garantido todos os direitos que o trabalhador precisa ter”, disse o presidente do Sindicato dos Rodoviários do Pará, Altair Brandão.

Por Railídia Carvalho

rodoviários do Pará enfrentam reforma trabalhista com greve na grande Belém - reprodução

Os trabalhadores conquistaram o reajuste salarial sobre o INPC + 1%. Não houve acordo quanto à volta da jornada de 6h20, reivindicada pela categoria. O ponto biométrico deverá ser implantado em até cinco meses nas empresas, de acordo com o Tribunal de Justiça do Trabalho da 8° Região.    

Foram cinco dias de greve – da qual participaram, segundo o sindicato, 12 mil rodoviários.O movimento foi uma resposta diante da tentativa de retirada de direitos já assegurados em acordos coletivos anteriores e à postura da Justiça do Trabalho impondo multa ao sindicato. A Polícia Militar do estado também agiu de forma violenta ferindo e prendendo dirigentes sindicais, de acordo com denúncia dos trabalhadores.

Enfrentamento vitorioso

A reforma trabalhista sancionada pelo governo Michel Temer tem sido utilizada desde a implantação em novembro do ano passado como passaporte para a redução de direitos no momento da negociação coletiva. É o caso de diversas categorias, entre elas, os marceneiros de São Paulo e os professores de estabelecimentos particulares de Minas Gerais.

No Pará não foi diferente e de acordo com o economista José Trindade, em artigo publicado no portal da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), “a greve dos rodoviários constitui o primeiro movimento de enfrentamento dos trabalhadores urbanos de Belém após a promulgação da famigerada Lei 13.467/17, da reforma trabalhista, que impôs o fim da CLT e da regulação trabalhista brasileira”.

Precariedade para população e trabalhador

O economista destacou que a greve revelou as precárias condições de trabalho a que é submetido o trabalhador e o serviço de má qualidade oferecido à população que, na sua grande maioria, depende do transporte coletivo rodoviário. “A qualidade da frota constituída em sua maioria por veículos com idade média de mais de 12 anos e de precária manutenção, segundo a própria Prefeitura de Belém”, escreveu José Trindade.

Na opinião de Cléber Resende, presidente da CTB-PA, foi estratégica a vitória do ponto biométrico. “Isso garantirá o real aferimento da jornada da categoria”, avaliou o dirigente. Ele ainda completou que o movimento derrotou o governador do estado, Simão Jatene (PSDB), “que jogou a polícia em cima dos grevistas no sábado (21), prendendo sindicalistas e ferindo vários trabalhadores”.

Adilson Araújo, presidente da CTB nacional, destacou o apoio que o movimento dos rodovidários do Pará recebeu de diversos segmentos de trabalhadores. “Foi uma reação à nova legislação trabalhista, que deixou os empresários ainda mais intransigentes e dispostos a destruir conquistas, impor retrocessos e consolidar o arrocho dos salários. Ao declarar a ilegalidade do movimento, negando aos rodoviários o direito de lutar e realizar greve, a Justiça colocou-se ao lado dos patrões”, criticou Adilson. “A categoria merece apoio e solidariedade de toda a classe trabalhadora.”