Letalidade contra negro e pobre marca ações policiais do Brasil e EUA

Um estudo comparativo entre as polícias do Brasil e dos Estados Unidos revelou que as corporações dos dois países agem de forma seletiva, conforme região em que atuam.

polícia militar - Marcelo Carmargo EBC/Reprodução

Segundo a autora do levantamento e especialista em violência policial, Martha Huggins, docente na Tulane University, de New Orleans (EUA), apesar de apresentar uma letalidade menor que a registrada no Brasil, a polícia estadunidense atua igualmente sob o viés racista e é violenta com as minorias.

O estudo compõe o conjunto de denúncias da violência policial das corporações brasileiras, como revelam o relatório Atlas da Violência de 2018 – divulgado em junho –, a recente pesquisa sobre letalidade das polícias civis e militares paulistas, organizada pela Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, que conclui que a população negra e periférica são 65% das vítimas da violência policial.

Durante debate realizado nesta terça-feira (21), sobre “Polícias no Brasil e nos EUA: geografia de assassinatos e raças”, na Universidade de São Paulo (USP), Martha explicou que a corporação, como “integrante de um sistema político”, ganha legitimidade do governo para praticar as arbitrariedades. Os pesquisadores Adalmir Leonídio, coordenador do Observatório de Criminalização da Pobreza e dos Movimentos Sociais, e Angela Mendes de Almeida, do Observatório das Violências Policiais, citam ainda a existência de uma “cultura” voltada para a segregação.

“A polícia não é feita para matar, ela é feita para impedir o delito e, se for necessário, prender”, contesta Angela, acrescentando a desmilitarização como um caminho para o fim da violência. “Na maior parte dos países não existe polícia militar, a polícia é civil”.