Ao contrário do Brasil, Espanha se aproxima de Cuba

Enquanto o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro hostiliza Cuba, sobretudo com sua escalada de ameaças ao programa “Mais Médicos”, a Espanha se aproxima da ilha caribenha.

Pedro Sanchez Diaz-Carnel

Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, iniciou na quinta-feira (22) uma visita oficial histórica a Cuba, 32 anos depois da de Felipe González e quase 20 de uma Cúpula Ibero-Americana ter levado José Maria Aznar e o rei Juan Carlos a Havana.

O dirigente espanhol viajou para Cuba com o objetivo de consolidar a relação bilateral entre os dois países, num novo contexto de abertura econômica por parte da ilha revolucionária. Sánchez levou uma delegação de empresários com interesse em explorar um mercado de 11,5 milhões de habitantes. O primeiro-ministro participou de um fórum com cerca de 200 empresas de ambos os países, incluindo as gigantes de telecomunicações Telefonica e a companhia aérea Iberia, segundo a Agência France Press (AFP).

Sánchez leva na bagagem não apenas a intenção de reforçar os laços comerciais, mas também uma cadeira de madeira especial: a cadeira que pertenceu ao general cubano Antonio Maceo, considerado um dos heróis da independência, e tem as suas iniciais, assim como uma estrela da revolução pela independência. A cadeira foi levada para Espanha pelo general Valeriano Weyler y Nicolau, que combateu contra Maceo (que morreu numa emboscada das tropas espanholas em dezembro de 1896). Nascido em Palma, Weyler levou para Maiorca a cadeira como despojo de guerra. Os seus herdeiros cederam a cadeira e o resto do seu património à Câmara de Palma, sendo exposta no Museu Histórico Militar de San Carlos.

Há anos que as autoridades cubanas pedem a cedência da cadeira. Agora, com um acordo de empréstimo por algum tempo, Sánchez levou-a na sua bagagem, apesar dos protestos de última hora dos herdeiros do general espanhol. O problema é que, segundo o El Mundo, Sánchez leva-a sem garantias de que será devolvida, enquanto o Diário de Mallorca escreve que a cedência será por dois anos.

Felipe González

O objetivo da Espanha, que mantém relações diplomáticas ininterruptas com Cuba (sua antiga colónia) desde 1902, é aumentar a presença na ilha nos ramos de turismo, energias renováveis e infraestruturas. Sánchez ainda se reuniu com a comunidade espanhola em Cuba, com mais de 140 mil pessoas.

O socialista Felipe González foi o último chefe do governo espanhol a fazer uma visita oficial a Cuba, em novembro de 1986. Uma visita que, segundo o El País, a imprensa espanhola da época apelidou de "estranha", chegando a falar de "sequestro". Tudo porque, após a recepção oficial, o então líder cubano Fidel Castro levou González para pescar em Cayo Piedra. No barco foi também, entre outros, o escritor Gabriel García Márquez. No final da viagem, fecharam acordos que abriram caminho à sólida presença empresarial espanhola na ilha.

Esta é também a primeira visita de um líder europeu à ilha desde a tomada de posse de Miguel Díaz-Canel como presidente, em abril, tendo sucedido a Raúl Castro. Sánchez também passou pela Velha Havana, acompanhada pelo historiador oficial da cidade, Eusebio Leal, que lidera a renovação em curso dos monumentos da era colonial da cidade. Antes de retornar a Madri, Sánchez também realizou uma reunião com intelectuais, artistas, empresários privados e líderes religiosos cubanos.