Haddad: Bolsonaro despreza meio ambiente e liberdade de imprensa 

Em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo neste sábado (10), o ex-candidato à presidência da República, Fernando Haddad (PT), conta como foi o cenário que cercou a fala de Jair Bolsonaro sobre “fazer cocô dia sim, dia não" na coletiva de imprensa. Segundo Haddad, para Bolsonaro, só o meio ambiente é mais desprezível que a liberdade de imprensa.

Haddad em Curitiba - Joka Madruga / PT Nacional

No artigo, Haddad explica que "Bolsonaro editou medida provisória desobrigando empresas de capital aberto de publicar seus balanços em jornais impressos. Com sua espontaneidade característica, sugeriu que o objetivo era comprometer a sustentabilidade do jornal Valor, que, na sua opinião, não vende o que ele próprio entende por verdade, mas faz política partidária. E concluiu seu discurso: 'Espero que o jornal Valor sobreviva à MP de ontem'. No dia seguinte, na expectativa de consertar velhos estragos, produzindo novos, corrigiu-se, dizendo que a intenção, na verdade, não era retaliar quem lhe criticava, mas evitar o desmatamento. Como tudo, escapa-lhe o compromisso da indústria brasileira de papel e celulose com o reflorestamento, até como expediente de, pela certificação de origem da madeira, enfrentar a concorrência internacional predatória".

Para o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, os deboches de Bolsonaro demonstram que "só a liberdade de imprensa é mais desprezível do que o meio ambiente". Como já foi revelado em vários discurso, Bolsonaro acredita que meio ambiente é uma preocupação apenas de veganos. "Angela Merkel e Emmanuel Macron não são veganos, que eu saiba, mas parecem bastante preocupados com o descaso do governo brasileiro com o meio ambiente. Em julho, a área da Amazônia com alerta de desmatamento subiu 278%, comparada ao mesmo mês de 2018", esclarece Haddad no artigo.

Ele recorda ainda que Bolsonaro, em um evento da indústria automotiva, referindo-se à reunião do G-20, desdenhou dos dois chefes de governo com mais ironia: 'Imagina o prazer que eu tive de conversar com Macron e Merkel". Depois de dizer que "agora [o Brasil] tem presidente da República', deixou o evento sob gritos de 'mito', bradados pela seleta audiência. Merkel foi ainda ofendida pelo vice-presidente da República", escreveu Haddad.

O ex-ministro lembrou ainda do vice-presidente da República, general Mourão, que "subvertendo fatos, associou os recentes tremores em público da chanceler a um suposto medo que ela teria das encaradas de Donald Trump. Seria oportuno se fôssemos apresentados a um único militar bolsonarista que defenda o Brasil com a coragem com que Merkel defende a Alemanha. Mourão foi além, chamando Donald Trump de "nosso presidente", dando nome e sobrenome àquele a quem Bolsonaro talvez tenha se referido um dia antes", publicou Haddad.

"O fato concreto é que, por imposição do acordo Mercosul-UE, o Brasil não poderá, para seu próprio bem, abandonar o Acordo de Paris sobre mudança climática, a menos que rompa aquele acordo. Trump escalou seu secretário de Comércio para soprar a um Bolsonaro assumidamente "cada vez mais apaixonado" as supostas armadilhas da aproximação com a Europa, sem especificá-las. Talvez seja o caso de se preocupar mais com as armadilhas do amor, sentimento raramente presente no tabuleiro da geopolítica mundial", conclui o artigo de Haddad..