Aluisio Arruda: Brasil, Argentina e o “efeito Orloff” 

A eleição de 2018 no Brasil foi uma espécie de plesbicito: de um lado, a chapa Haddad/Manuela, que defendia um projeto nacional de desenvolvimento; de outro, a chapa Bolsonaro/Mourão, que defendia, de forma camuflada e não debatida, por receio de perder votos, a defesa do projeto neoliberal, do Estado mínimo, do livre mercado. Acabou ganhando as eleições com base numa campanha de ódio aos partidos de esquerda baseado nas fake news e no “caixa 2”.

Por Aluisio Arruda*

Macri e Bolsonaro

O primeiro projeto, implementado por Lula, mesmo com debilidades, e mal continuado por Dilma, apesar de tudo, propiciou avanços ao País. O Brasil, da 12ª posição na economia mundial, chegou à 6ª. Em 2010, quando Dilma venceu a eleição, o crescimento do PIB estava em 7%. Após o início do boicote ao seu governo – que levaria ao impeachment –, já era de 3,5%.

Temer, imediatamente ao assumir, implantou as reformas neoliberais, com o discurso para geração de mais empregos e mais progresso. Nos seus quase três anos de governo, o PIB, quando não foi negativo, não passou de 1%.

Bolsonaro eleito, tendo à frente seu “superministro” Paulo Guedes, implantou o mesmo plano de Temer e do mercado, de forma muito mais radical e ligeira, sem nenhum pudor em cortar direitos e verbas principalmente na Educação e em quase todos os demais ministérios. Agilizou as privatizações, transformou o BNDES – antes um banco do fomento – em uma agência de privatizações para vender quase todas as estatais, enfim implantando ao máximo a política de Estado mínimo, do livre mercado.

Mas onde foi que essa política deu certo? Em países que se aventuraram por esse caminho, o desastre foi total – Grécia, Espanha, México e, aqui do nosso lado, a Argentina. Todos foram parar no FMI, atolados em dívidas; o desemprego, a violência, a fome e a miséria se multiplicaram exponencialmente. Por outro lado, os bancos, as multinacionais e principalmente os rentistas e agiotas ganharam rios de dinheiro.

Citando apenas os dados da Argentina, pelo curto espaço neste artigo, no governo Macri a inflação mais que dobrou, de 25% para 56%; a taxa de juros foi de 38% para 60%; a desvalorização do peso passou de 15 por dólar para 46; a dívida externa saltou de US$ 161 bilhões para US$ 279 bilhões; o poder de compra do salário mínimo dos argentinos despencou de US$ 580 para US$ 279; o desemprego aumentou 50%; e o risco do país para investimentos de foi 487 para 900 pontos.

Esses são os principais motivos da derrota de Macri nas prévias de domingo, com resultado total de 49% para Alberto Fernández/Cristina Kirchner e 33% para o atual presidente, que perdeu fragorosamente em todas as regiões do país, principalmente na província de Buenos Aires.

Após quase oito meses de governo Bolsonaro, não se verificou nenhuma ação benéfica ao povo e ao país – muito pelo contrário. Quase que diariamente ficamos estupefatos com tanta estripulia, maldades, arrogância, ataques aos direitos, ao meio ambiente e à democracia, mas principalmente o entreguismo descarado e a subserviência aos países que nos exploram. Desde o governo Temer e agora com Bolsonaro, o Brasil regrediu a 10ª posição na economia, o desemprego está em mais de 13 milhões, o PIB continua o mesmo do governo Temer e a Indústria, assim como todos os setores da economia, ao invés de crescer, regridem.

Por tudo isso, categoricamente podemos afirmar que seremos vítimas do “efeito Orloff”, ou seja a continuar esse governo, infelizmente o Brasil será amanhã a Argentina. E pior, com uma grande dúvida: os argentinos, pelo resultado das prévias, deverão em breve se livrar do carrasco Macri. E nós, brasileiros, até quando vamos suportar?

* Aluisio Arruda é jornalista, arquiteto e urbanista