Parlamentares repudiam ataques de Bolsonaro a Michelle Bachelet

Em seus tuites diários, Jair Bolsonaro atacou nesta quarta-feira (4) o pai da alta comissária da ONU para direitos humanos e ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, Alberto Bachelet, que foi torturado e morto pela ditadura militar de Augusto Pinochet, no Chile.

*Por Christiane Peres, do PCdoB na Câmara

A crítica veio após ela dizer em uma entrevista que o Brasil sofre "redução do espaço democrático", com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos.

Na rede social, Bolsonaro afirmou que Michelle Bachelet seguia a linha do presidente francês, Emmanuel Macron, em “se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira”. A sequência do tuite – apagada posteriormente da página do presidente – expõe a vergonha agressão ao pai da ex-presidente chilena.

"Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece de que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai, brigadeiro à época", prosseguiu Bolsonaro, que publicou também uma foto de Bachelet, quando presidente, ao lado das ex-presidentes do Brasil, Dilma Rousseff e da Argentina, Cristina Kirchner.

O ataque foi repudiado por deputados da oposição, que classificaram a atitude de “repugnante”.

Vice-líder do PCdoB, deputado Márcio Jerry (MA), afirmou que Bolsonaro “envergonha o Brasil” com o ataque.

O assunto repercutiu no Plenário da Câmara, onde parlamentares de diversas legendas criticaram a postura do presidente do Brasil.

A líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), foi uma das que criticou Bolsonaro e afirmou que o presidente não está à altura do cargo que ocupa.

“Bachelet foi profundamente agredida hoje por Bolsonaro. Foi agredida na sua história, na sua dor de filha. A ditadura chilena foi das mais cruéis da América Latina e seu pai foi morto por tortura. Bolsonaro não está à altura do cargo que ocupa. Ele apequena o Brasil. Nos dá vergonha ter um presidente que assume essa postura”, disse a parlamentar.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), diz que o Brasil está cada vez mais isolado no cenário internacional. “Bolsonaro acaba de levar uma invertida histórica de Sebastián Piñera (presidente do Chile), um de seus poucos aliados, pelos ataques desumanos que fez a Michelle Bachelet e à memória do seu pai”, afirmou.

“O presidente chileno respondeu ao insulto de Jair Bolsonaro ao pai da ex-presidenta Bachelet, morto pela ditadura de Pinochet. No Chile nem a direita defende a ditadura. É o Brasil, mais uma vez, sendo humilhado diante do mundo por conta do comportamento troglodita de Bolsonaro”, afirmou Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

Alberto Bachelet era general de brigada da Força Aérea chilena e se opôs ao golpe militar dado por Augusto Pinochet em setembro de 1973. Ele foi preso e torturado pelo regime e morreu sob custódia, em fevereiro de 1974. A ex-presidente chilena também foi presa e torturada por agentes de Pinochet em 1975.

Conselho de Direitos Humanos da ONU

Os ataques de Bolsonaro também foram malvistos na ONU no momento que em que o país busca apoio para a eleição a uma vaga no Conselho de Direitos Humanos da organização.

Para a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), Bolsonaro “aprofunda o desgaste do país” com suas declarações.

O mal-estar acontece semanas antes do discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro, em Nova York. Por tradição, o presidente do Brasil sempre fica responsável por fazer a fala inicial desse encontro.

Repúdio de aliado

Em pronunciamento nesta tarde, o presidente do Chile, Augusto Piñera, disse que toda pessoa tem o direito de ter seu juízo histórico sobre o governo do país nos anos 1970 e 1980, mas disse discordar das falas de Bolsonaro.

"Não compartilho em absoluto com a opinião de Bolsonaro em respeito a ex-presidente do Chile, e especialmente em um tema tão doloroso como na morte de seu pai", afirmou Piñera.