Ruth de Aquino: #Dia7euVoudePreto ou de Verde-Amarelo?  

O presidente Jair Bolsonaro pediu que a gente use verde e amarelo nas celebrações da Independência do Brasil no próximo sábado. “Não é para me defender ou defender quem quer que seja, é para mostrar para o mundo que aqui é o Brasil, que a Amazônia é nossa”, disse Bolsonaro ao lançar a campanha Semana do Brasil, no Palácio do Planalto. Uma apelação. Típica de populista nacionalista. Não é para defender o presidente, viu?

Por Ruth de Aquino

fora Collor

Mas quem se ajoelha e chora diante do bispo bilionário Edir Macedo, dono da rede Record, esconjurando no Templo de Salomão em São Paulo “o inferno da mídia”, é capaz de tudo. Até mesmo de apelar à vilipendiada Amazônia como troféu da pátria. O presidente tenta assim um mote patriótico para dissociar-se de sua crescente impopularidade, como comprovam as pesquisas.

Os tropeços de Bolsonaro com a floresta começaram antes mesmo de ele ser eleito e prosseguiram quando ele afirmou publicamente que os dados do Inpe sobre as queimadas eram mentirosos, invenção de ONGs, e demitiu seu diretor, o físico Ricardo Galvão, por ser o mensageiro. Acusações infundadas e injustas, como se provou logo depois. Mas quem processa presidente por calúnia? Ainda mais depois que o dono da Universal consagrou Bolsonaro “como o profeta Samuel um dia consagrou o rei Davi”. Difícil. Macedo profetizou: Bolsonaro “vai arrebentar”. Os universitários já acham que o presidente está arrebentando. Com a Educação.

A história recente do Brasil mostra que convocar a população para ir às ruas de verde e amarelo pode acabar virando tiro na culatra. No dia 13 de agosto de 1992, o então presidente Fernando Collor de Mello, alvo de CPI no Congresso, usou encontro com taxistas no Palácio do Planalto para, aos gritos e socos no púlpito, convocar “todo o Brasil” a ir às ruas, no domingo seguinte, dia 16, com as cores da bandeira. Era para mostrar que os defensores do impeachment estavam em minoria.

“A minoria atrapalha, a maioria trabalha. Vamos mostrar que já é hora de dar um basta a tudo isso. Vamos inundar o Brasil de verde e amarelo”, disse Collor. Em cadeia de rádio e televisão dois dias depois, reforçou o pedido.

Várias cidades acabaram vestidas de preto, com roupas e bandeiras nas fachadas das casas e dos prédios. A reação popular e dos jovens caras-pintadas incentivou o movimento pelo impeachment. Em São Paulo, a manifestação começou em frente ao Teatro Municipal e, no Rio, houve carreata no Centro. Câmara e Senado selaram o impeachment de Collor, afastado da Presidência no dia 2 de outubro.

Agora, 27 anos depois, Bolsonaro volta a convocar todos a vestir o verde-amarelo como se nós já não soubéssemos que a Amazônia é nossa. Da população e não da Presidência. O espetáculo das queimadas é tenebroso. Há outras coisas que já eram nossas até 2019, mas o presidente anda esquecido – como as bolsas de pós-graduação para pesquisadores, o cinema nacional, a cultura, o respeito à liberdade de imprensa sem discriminação, a aceitação de todas as orientações sexuais e todos os tipos de família, a inclusão efetiva da mulher no Poder Executivo, o Estatuto do Desarmamento, o rigor contra as infrações de trânsito.

Em reação, surgiu nas redes sociais, com força, a hashtag #dia7euVoudePreto e, no rastro, apareceram memes, gifs e sugestões criativas de figurinos para o 7 de setembro anti-Bolsonaro. A UNE é um dos articuladores do movimento. Dá para entender. “O preto significa luta pela situação da Amazônia e da educação. É um grito de quase morte”, disse o presidente da UNE Iago Montalvão à Época. Já estão confirmados atos por todo o Brasil. No Rio, será na Candelária. Em São Paulo, na Praça Oswaldo Cruz. Horários variados.

E você, agora, vai de preto ou de verde-amarelo?