Gravação mostra Bolsonaro ameaçando “sair na porrada” com Randolfe

Declaração foi gravada pelo senador Jorge Kajuru

Foto: Sérgio Lima/Poder 360

Uma gravação feita pelo senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) flagrou o presidente Jair Bolsonaro ameaçando “sair na porrada” com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A declaração ocorreu no sábado (10), em conversa entre os dois políticos. Foi Randolfe quem requereu a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a apurar as criminosas omissões do governo federal na pandemia de Covid-19.

Kajuru já havia publicado no domingo a maior parte do diálogo, que trata da ampliação do escopo da CPI. O novo trecho foi divulgado nesta segunda-feira (12), em entrevista à Rádio Bandeirantes. Nessa parte da gravação, Kajuru diz ao presidente que não participaria da CPI, caso o tom do colegiado fosse de revanche.

“Se você não participa (da CPI), daí a canalhada lá do Randolfe Rodrigues vai participar. E vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desse”, diz Bolsonaro, na gravação apresentada por Kajuru durante a entrevista. Também nesta segunda, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) entrou com representação no Conselho de Ética do Senado contra Kajuru.

Mais cedo, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, o presidente criticou Kajuru por ter gravado a conversa. Ele defendeu, contudo, a divulgação da íntegra. “Não é vazar. É te gravar. Gravação só com autorização judicial”, disse Bolsonaro, que há cinco anos defendeu a divulgação de conversas entre a então presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, interceptadas pela Lava Jato. “Pode divulgar tudo, da minha parte”, arrematou o presidente.

Apesar da reclamação de Bolsonaro, Kajuru afirmou que avisou ao presidente que iria divulgar a conversa entre os dois e que ele não se opôs. “Eu coloquei no ar às 13h. Às 12h40, eu liguei para dar duas notícias para ele. A primeira, que o senador Alessandro Vieira tinha feito um requerimento para a CPI investigar governadores e prefeitos, que era desejo dele. Falei para ele: ‘Daqui a pouco vou colocar nosso papo no ar’. Despedi dele, coloquei no ar”, relatou Kajuru. “Já fiz várias vezes conversas por telefone com ele e coloquei no ar. Quando interessava para ele, ele não reclamava.”

O senador relatou que não avisou Bolsonaro que estava gravando a conversa no momento do diálogo, mas disse que o motivo é que naquele momento não sabia se iria publicar. “Simplesmente gravei para ter. Eu gravo todo mundo que conversa comigo. É um direito meu.”

Apesar de Bolsonaro afirmar que a gravação só poderia ter ocorrido com uma autorização judicial, a legislação não proíbe gravações telefônicas realizadas por uma das partes da conversa. A interceptação telefônica – quando a conversa é gravada por um terceiro não envolvido no diálogo – é que exige autorização judicial.

Após a divulgação da fala, Randolfe afirmou que “a violência costuma ser uma saída para os covardes que têm muito a esconder”. Segundo o senador, “briga de rua nunca foi e nunca poderá ser a principal preocupação de homens públicos. Principalmente no difícil momento que o nosso país está passando. A única briga que nós temos que ter neste momento é por vacina no braço e comida no prato dos brasileiros. Preocupações estas que, lamentavelmente, o presidente da República não tem”.

Com informações do O Globo e do Estadão