Para sindicalistas, após dois anos de golpe Brasil andou para trás

O dia 17 de abril de 2016 entrou para a história como o Dia da Vergonha para o Brasil. Por 367 votos favoráveis e 137 contrários, a Câmara dos Deputados, presidida por Eduardo Cunha, atualmente preso por corrupção, disse sim com ênfase ao processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff.

Por Marco Aurélio Ruy

Deputados comemoram impeachment - reprodução

“Foi vergonhoso assistir àquele espetáculo dantesco com deputados federais mandando tchauzinhos e beijinhos para o papai e a mamãe, além de outras pirotecnias que fizeram a imprensa mundial rir do Brasil”, diz Vânia Marques Pinto, secretária de Políticas Sociais da CTB.

Pior ainda, mesmo sem provas, “discursaram em nome de Deus, homenagearam torturadores, gritaram e saltitaram contra a corrupção e poucos dias depois se viam envolvidos em ilícitos”, conta Ivânia Pereira, vice-presidenta da CTB.

As pessoas que querem entender melhor os acontecimentos, podem se inscrever em cursos sobre o golpe em diversas universidades federais e estaduais em todo o país. Vale lembrar também que já está em cartaz no Brasil, inclusive o premiado documentário “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, que retrata os bastidores do processo de impeachment em todas as suas nuances.

Exatos dois anos depois, “vê-se que o Brasil andou para trás. A reforma do ensino médio pretende a privatização desse nível escolar. O governo projeta acabar com as universidades federais públicas, propõe liquidar com o SUS (Sistema Único de Saúde) e massacra a classe trabalhadora com a reforma trabalhista e tem a intenção de liquidar com a aposentadoria”, ressalta Ivânia.

A presidenta Dilma foi afastada do cargo no dia 12 de maio de 2016, assumindo o seu vice, Michel Temer. O processo foi instaurado no Senado, presidido por Ricardo Lewandowski, então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

Temer assumiu e imediatamente começou o desmonte do Estado. Vânia lembra que “mesmo como interino montou a sua equipe de trabalho com um ministério composto somente por homens brancos e velhos”.

Extinguiu num primeiro momento o Ministério da Cultura. Atacou as conquistas das mulheres, dos negros, dos LGBTs , da juventude e dos direitos humanos numa tacada só. “Foi logo mostrando o real objetivo do golpe: acabar com as conquistas da classe trabalhadora”, diz Ivânia.

Alimentados pela mídia burguesa, milhares de pessoas saíram às ruas de todo o país com camisas da Confederação Brasileira de Futebol pedindo o afastamento da presidenta. A campanha foi infame.

“Sucessivos ataques misóginos eram estampados nos jornais e nas revistas, sem nenhuma comprovação ou preocupação com os fatos”, afirma Vânia. Quatro meses depois o golpe era consumado com o afastamento definitivo da presidenta eleita constitucionalmente por mais de 54 milhões de eleitoras e eleitores. O Brasil ficou dividido. "Somente as eleições deste ano podem apaziguar o país", reforça.

“Muito importante lembrar-se desse fatídico dia, para entendermos porque não tivemos a capacidade de defender a nossa presidenta”, assinala Ivânia. “Tudo o que vem ocorrendo mostra que o golpe veio para perpetuar a corrupção, os desmandos e o aniquilamento dos sonhos de um futuro digno para o país e seu povo”.