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PCdoB reúne mais de cem profissionais de comunicação em SP

Pensar a comunicação como um sistema mais integrado e dinâmico na estrutura partidária foi o foco dos debates que aconteceram durante o Encontro Nacional de Comunicação do PCdoB, que aconteceu de sexta a domingo, na capital paulista. Ao todo estiveram pre

"Ao encerrar este Encontro Nacional de Comunicação do PCdoB, aproveito para ressaltar o grande papel que todos os profissionais aqui presentes tiveram no debate sobre o projeto de comunicação do nosso partido. Com base nas questões colocadas por cada um de vocês, vamos dar prosseguimento às principais propostas de melhoria de nossa secretaria", disse o secretário de Comunicação, Altamiro Borges (Miro), no último dia do Encontro, realizado em São Paulo nos 31 de março, 1 e 2 de abril. De acordo com Miro, "temos um grande time de jornalistas trabalhando em nossa redação central, em São Paulo, bem como espalhados por nossos comitês estaduais e municipais, assessorias de mandatos parlamentares e de entidades. O que precisamos é pôr em prática as medidas necessárias para otimizar nosso trabalho".

 

As propostas surgidas de discussões em grupos partiram de uma proposta de plano de trabalho da comunicação, dividido em investimento no Vermelho, mudanças em A Classe Operária, assessoria de imprensa, programa de tevê e rádio, campanha eleitoral, materiais publicitários e sistema de comunicação. No domingo, os participantes puderam expor suas opiniões que, somadas ao projeto original, serão a base para as mudanças que o partido pretende pôr em prática a partir deste ano.

 

Conjuntura

 

O evento de comunicação também teve a preocupação de contribuir para a formação de

seus profissionais. Na abertura do evento, José Reinaldo Carvalho, secretário de Relações Internacionais do PCdoB e Emir Sader, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, trataram da conjuntura mundial e nacional e a batalha de idéias. Para Carvalho, é preciso que o setor de comunicação de um partido revolucionário esteja ligado à formação de uma consciência socialista, especialmente após a queda da União Soviética, que ocasionou a derrocada do pensamento socialista. Para ele, o cenário atual indica a retomada da luta de setores progressistas em diversos países, impulsionada principalmente pela crítica aos efeitos nocivos do neoliberalismo e ao imperialismo estadunidense. "Com o fim da União Soviética, os anos 90 marcaram a preparação para o hegemonismo norte-americano. O que vimos a partir da era Bush foi um aumento da agressividade do império contra países e povos independentes, como Afeganistão e Iraque", disse.

 

Com a desculpa de derrotar o terrorismo, a doutrina de segurança nacional da Casa Branca propõe uma guerra infinita, o que levará o mundo a viver, ainda por um longo tempo, sob a égide da guerra. No entanto, Carvalho ressalta que há sinais de desgaste desta política e de insatisfação dos povos, o que tem contribuído para intensificar a luta contra o imperialismo e enfraquecê-lo. Segundo Emir Sader, a maior força de sustentação da hegemonia norte-americana não é a econômica, mas a ideológica, que acaba sendo absorvida por meio de instrumentos diversos.

 

Na América Latina, outro foco das ações dos Estados Unidos, Carvalho ressaltou que, embora diferenciadas, as experiências vividas em países como Venezuela, Brasil, Bolívia e Argentina reforçam a posição crescente de resistência às políticas de intervenção estadunidenses. "Hoje percebemos uma mudança qualitativa em relação aos anos 90, ainda que estejamos caminhando para iniciar a transição ao socialismo. Mas, a realidade atual já permite a acumulação de forças e o revigoramento da esquerda", explicou. Neste sentido, Emir Sader defendeu a política externa do governo Lula, independente em relação aos Estados Unidos, fator que pode regredir se as forças conservadoras vencerem as eleições deste ano.

 

No âmbito nacional, Sader salientou que o Brasil é uma das principais ditaduras do mundo porque impõe uma das piores desigualdades sociais a uma parte muito grande de sua população. Na análise categórica de José Reinaldo Carvalho, ou o Brasil rompe com as estruturas e elites retrógradas ou não conseguirá evoluir num projeto de desenvolvimento que traga prosperidade para o país. "A sociedade vem se degradando porque as questões estruturais ainda não foram resolvidas", explicou. E salientou que a batalha política de 2006, assim como as demais vividas no Brasil especialmente após a redemocratização, encerra em si um conflito entre dois campos opostos: os conservadores, defensores do status quo, e os setores progressistas, de esquerda e nacionalistas, ligados às questões sociais e de cunho nacional desenvolvimentista.

 

Democratização dos meios

 

No sábado, as atividades tiveram início com um debate sobre a luta pela democratização dos meios de comunicação, do qual participaram Hamilton Otávio de Souza, professor de jornalismo da PUC/SP e editor da revista Sem Terra; Manoel Rangel, diretor da Ancine e do Instituto Maurício Grabois e Graça Rocha, presidente da Federação das Associações de Rádios Comunitárias do Rio de Janeiro.

 

Em sua apresentação, Hamilton Souza classificou de nova forma de coronelismo o uso que se faz hoje dos grandes meios de comunicação do país. "O controle dos meios perpassa a questão econômica. É uma forma de assegurar o poder desses grupos", disse. Ele lembrou as várias ocasiões em que a mídia teve papel fundamental na condução da política nacional, como na eleição de Fernando Collor, em 1989. Ele ressaltou ainda, entre outros pontos, que a participação estrangeira nas empresas de comunicação nos transforma em colônias do imperialismo.

 

Já Manoel Rangel tratou da convergência digital e salientou a importância da produção de conteúdo independente e regional. Graça Rocha, por sua vez, protestou contra a perseguição que as rádios comunitárias sofrem e fez um apelo para que os profissionais da área assumam também a luta pela democratização deste meio.

 

 

De São Paulo,

Priscila Lobregatte