Prefeitos e vices comunistas discutem campanha e conjuntura nacional
Na bela capital sergipana, comunistas que ocupam a prefeitura e a vice-prefeitura de diversas cidades brasileiras debateram, neste sábado, a campanha de 2006 levando em conta a experiência que cada um teve na administração pública, fator determinante para
Publicado 04/04/2006 19:43
Com a presença do recém-empossado prefeito Edvaldo Nogueira, realizou-se em Aracaju, dia 1º/04, no Hotel Quality, o 3º Encontro de Prefeitos e Vice-Prefeitos do PCdoB, focado no debate do papel dos governantes locais comunistas na campanha eleitoral que se avizinha. O tema, segundo o presidente nacional do Partido, Renato Rabelo, que fez a intervenção de abertura, abordando o cenário político atual, tem grande importância neste instante da vida partidária porque se articula a luta pela continuidade das mudanças desencadeadas pelo governo Lula.
Ronald Freitas, secretário nacional de Relações Institucionais e Políticas Públicas, que coordenou os trabalhos, observou que a presente disputa eleitoral será um importante momento na trajetória política dos comunistas. “É a primeira vez na sua história que o PCdoB participa de uma eleição presidencial como integrante do governo”, assinalou.
Presença ativa no encontro tiveram os prefeitos João Lemos, de Camaragibe, Pernambuco e Tânia Portugal, de São Sebastião do Passé, Bahia, vice-prefeitos, secretários municipais e assessores técnicos, que enriqueceram o debate com referências a experiências vividas nos seus municípios, além de dirigentes do PCdoB sergipano, como o presidente estadual Bosco Rolemberg.
A política no posto de comando
“No governo municipal, é preciso exercitar uma audaciosa política de frente ampla, combinando permanentemente a unidade e a luta, através do debate das idéias, da busca do convencimento e da solução de contradições através da discussão política. Ao mesmo tempo, é importante ter claro nosso próprio projeto: quantos votos precisamos conquistar para os candidatos do PCdoB”, afirmou a prefeita de Olinda, Luciana Santos, a quem coube abordar o tema “Trabalho Institucional e Eleições”, secundada por comentários adicionais do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira.
“Na relação entre a questão local e a nacional”, prosseguiu Luciana, “é necessário definir os campos, demonstrar ao povo de que lado estamos, para ficarmos bem situados politicamente”.
Segundo a prefeita, em Olinda o governo é plural, tem uma composição que vai do PCdoB e do PT ao PL e ao PP, passando pelo PSB e pelo PDT, o que induz a uma conduta hábil no momento eleitoral.
“Os aliados que estão no governo fazem campanha para seus candidatos, inclusive alguns secretários municipais – o que respeitamos. E assim ficamos absolutamente à vontade para jogar nossa própria força na campanha dos candidatos do PCdoB. A condição de força hegemônica no governo nos permite disputar apoios para os nossos candidatos, agindo de modo ofensivo junto ao povo”, disse a prefeita.
Para ela a questão central é a aplicação da linha política do PCdoB no âmbito do governo local e isso implica um esforço redobrado de construção partidária, pois ter maioria eleitoral e hegemonia política no município é fundamental em todos os momentos da gestão pública, sobretudo nas situações críticas.
Quando a prefeita se elegeu pela primeira vez, em 2000, o PCdoB, ainda frágil no município, sequer uma vaga de vereador conseguiu conquistar. Em 2004, na sua reeleição, os comunistas obtiveram a maior votação dentre todos os partidos para a Câmara Municipal e elegeram a maior bancada, com três vereadores. Ampliaram consideravelmente sua base militante, tornaram-se influentes na vida social e cultural da cidade e conquistaram a hegemonia no movimento comunitário.“Foram conquistas obtidas através de muito trabalho e muito contato direto com o povo”, lembra Luciana.
Já o prefeito Edvaldo Nogueira chamou atenção, na experiência de Aracaju, para a correta combinação entre as políticas sociais básicas, como educação, saúde e assistência social, com obras físicas e intervenções urbanísticas que dêem ao governo visibilidade perante a população. “Aqui fazemos política o tempo todo junto ao povo, dando um tratamento eficiente, do ponto de vista da comunicação, a cada ação do governo, desde a assinatura da ordem de serviço à inauguração da obra”, ressaltou Nogueira. Na condição de prefeito da capital, caberá a ele a coordenação política da campanha do ex-prefeito Marcelo Déda, do PT, candidato ao governo do estado.
Quadro de acirramento da luta política
Renato Rabelo, ao discorrer sobre o quadro político nacional, lembrou que historicamente em nosso país, sobretudo de 1930 em diante, as disputas presidenciais são palmilhadas por elementos de crise política. A elite dominante sempre tentou restringir a democracia e liquidar toda e qualquer ameaça de presença popular no governo da nação. Por isso, hoje, tenta por todos os meios interromper a experiência com Lula na presidência. Realiza verdadeira “cruzada moral” ao estilo da velha UDN, hoje encarnada pelo PSDB, associada a expedientes de natureza golpista. Instalou no Senado uma espécie de poder paralelo, apoiado na CPI dos Bingos, com o objetivo de atacar o governo e o presidente da República.
Salientando a natureza acirrada do embate político em curso, Renato afirmou que a construção de um novo poder político – nosso grande desafio – não é fácil. Exige um novo projeto de desenvolvimento, a formação de uma nova maioria política, mediante coalizão de forças poderosa, e ampla participação popular, desembocando numa nova Constituinte. “Hoje ainda estamos distantes disso, daí a necessidade de mobilizarmos o povo para elegermos novamente o presidente Lula”, disse.
Segundo Renato, na campanha eleitoral, caberá aos militantes do PCdoB defender os feitos do atual governo e apontar para novas perspectivas, tendo como fio condutor o desenvolvimento econômico sustentável, em bases socialmente inclusivas, democráticas e soberanas, destravando os investimentos.
De Aracaju,
Luciano Siqueira,
vice-prefeito de Recife