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Tarso Genro: Nota rápida sobre a conjuntura política

O ministro da Articulação Política enumera 10 ítens para que o PT, PSB e PCdoB e a esquerda democrática do país mantenham a resistência e a contra-ofensiva para reeleger Lula presidente. ''Não nos iludamos, diz Genro, o período eleitoral vai exacerbar a g

1) Escrevo esta nota à 10 horas do dia 28 de março, quando já foi substituído o Ministro Palloci por Guido Mantega, no Ministério da Fazenda. Esta substituição ocorreu após um dramático percurso de desgaste, que combinou dois movimentos bem nítidos, por parte dos adversários e inimigos do Governo Lula: de uma parte, a defesa da política econômica do Ministro porque avocam esta política como "deles"; de outra, a responsabilização do Ministro por envolvimento com o "grupo de Ribeirão Preto" e com a violação do sigilo bancário do caseiro Nildo;

 

2) A violação de qualquer sigilo bancário é inaceitável, é evidente, e os responsáveis devem responder penalmente. O envolvimento do Ministro com grupos de eventuais lobistas é inaceitável, é evidente, e isso deve ser investigado. Não estou afirmando que as acusações coincidem com a verdade, ou se são verdades parciais ou pura invenção. Conheço muito pouco o Ministro Palloci e as suas relações políticas . Independentemente das divergências que tenhamos com ele, porém, as suas ações macro-econômicas permitiram que um país que recebemos quebrado continuasse a andar e abrir perspectivas de futuro. O que impressiona, porém é o que pode ser lido no "sub-texto" da sua saída e da própria crise;

 

3) Vamos comparar. Recentemente uma agressão tipicamente fascista de um "escritor" – ataque a bengaladas contra o ex-Ministro José Dirceu- e a afirmativa de um líder da oposição que "daria um soco na cara do Presidente", foram "naturalizados" pela mídia. Nenhuma crítica dura nem sistemática foi feita aos dois agressores. Alguns comentaristas, subliminarmente, inclusive elogiaram estes atos de marginalidade política.

 

4) O sigilo do Presidente do Banco Central Henrique Meirelles foi quebrado: nenhum escândalo foi feito. Deputados violaram dados sigilosos das CPIs – o que é mais grave, na minha opinião do que violar sigilo bancário – e nenhuma indignação ou reflexo importante foram vistos na mídia "democrática" do país. Longe de querer acobertar qualquer erro de qualquer dirigente. Mas é bom perguntar: por que dois pesos e duas medidas?

 

5) Independentemente de que várias das críticas contra o PT e o governo sejam justas ou injustas e os fatos veiculados sejam, ou não, verdadeiros, o que está em curso é uma tentativa de eliminação política da esquerda com credenciais democráticas para governar. Está em curso um claro processo de recuperação -aproveitando nossos erros- do projeto tucano-pefelista e dos seus conhecidos padrões de honestidade pública, já revelados nos processos de privatização;

 

6) Ajuda a "recuperação" política da direita o fato de que o nosso Partido, até agora, não apresentou um "juízo de valor político" sobre a conduta dos membros do PT que exerceram funções de relevo no Partido e no governo Lula. Eles estão expostos publicamente, supostamente com algum grau de responsabilidade política ou penal. Se eles cometeram deslizes éticos ou ilegalidades por decisão própria, isso deve ser reconhecido pelo Partido, publicamente. Se eles não os cometeram, ou agiram orientados pelas instâncias partidárias, o Partido deve protegê-los e assumir plenamente as suas responsabilidades. Esta é uma questão que o PT vai ter que enfrentar num futuro próximo, para que possamos nos recuperar como projeto político para o país;

 

7) Devemos ter claro, contudo – além de absorvermos as críticas que se mostrarem fundadas – que o governo Lula não está sendo atacado pelos seus limites. O governo Lula não está sendo atacado por erros cometidos através de certas políticas ou mesmo por equívocos que qualquer Presidente comete no exercício do seu mandato: o governo Lula está sendo atacado pelas suas virtudes, pelas políticas progressistas que desenvolve em diversas áreas, pela "plebeização" do processo democrático no país. Quem nos ataca não tem credenciais para recuperar a ética pública no país; a imprensa sabe disso, mas não diz isso. Por quê?

 

8) A "santa aliança" que se articula em toda a grande mídia – com exceções mínimas – quer é voltar aos tempos das privatizações selvagens para "enxugar" o Estado; quer é voltar aos tempos em que os movimentos sociais estavam em permanente ameaça de criminalização; quer é voltar ao período de alinhamento automático com os EEUU; quer é retomar a liquidação do ensino público superior como ocorria na época do Ministro Paulo Renato; quer é privatizar totalmente o setor elétrico; quer é acabar com a "gastança" do bolsa-família; quer é um governo que ajude os EEUU a promover a Alca e isolar as experiências progressistas na América Latina;

 

9) A síntese do governo FHC foi: juros altos, inflação alta, políticas sociais ínfimas; privatizações selvagens; compra de votos para a reeleição; servilismo na política externa; afundamento da Universidade pública; quadruplicação da dívida, estafa cambial. E o governo FHC não sofreu um décimo deste cerco. Sair desta situação em três anos e meio e recuperar a própria credibilidade da democracia foi um feito enorme do governo Lula, independentemente de graves erros cometidos por Ministros ou personalidades políticas do PT e ou da "base aliada".

 

10)A ofensiva agora vai continuar. Não nos iludamos. O período eleitoral vai exacerbar a guerra contra a alternativa democrática representada pelo PT, PSB e PCdoB e pela esquerda democrática do país. A direção do Partido deve comandar a resistência e a contra-ofensiva para reeleger Lula presidente. Este é apenas um pequeno e previsível capítulo da revolução democrática no país.

Tarso Genro