Berzoini: “Oposição faz debate demagógico sobre ética”

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), acusou a oposição de fazer um debate demagógico sobre ética, com fins eleitoreiros. "Um partido (PSDB) cujo presidente da República foi flagrado discutindo forma&ccedil

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), acusou a oposição de fazer um debate demagógico sobre ética, com fins eleitoreiros. "Um partido (PSDB) cujo presidente da República foi flagrado discutindo formação de consórcio durante a privatização das teles ou que teve a diretoria do Banco do Brasil inteira condenada à prisão por gestão temerária no caso Encol não tem autoridade para falar em ética", declarou Berzoini em entrevista à Folha de S. Paulo publicada neste domingo (23).
O presidente do PT também questionou a oposição por não querer que se faça a comparação entre os resultados alcançados pelo governo Lula e o que foi feito nos oito anos da coligação conservadora PSDB/PFL liderada por Fernando Henrique Cardoso. "As pessoas comparam naturalmente. É comum as pessoas comentarem: vou voltar na reeleição do Lula porque, no governo passado, o desemprego só cresceu. E nesse, apesar da dificuldade, caiu".
A seguir, os principais trechos da entrevista:

Na sua opinião, qual deve ser a participação do PT na campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
Ricardo Berzoini
– Participação importante porque é o partido do presidente, não apenas do ponto de vista formal, mas também no imaginário da população. Mas o PT deve ter consciência de que não é o único partido que trabalha com apoio à reeleição. A campanha da reeleição não é só partidária do PT. Ela deve buscar apoios não-partidários e de partidos que não são coligados, além de lideranças regionais e nacionais.
O sr. discorda dos que defendem uma dissociação do presidente do partido?
Berzoini
– Claro, porque, embora a liderança do presidente seja maior do que a do PT hoje, em função de sua trajetória e da tradição brasileira de lideranças pessoais serem mais fortes que as instituições partidárias, o presidente Lula nunca deixou de defender o partido e dar sua opiniões, inclusive quando eram críticas.
O sr. acha que o PT entra nesta campanha mais debilitado?
Berzoini
– O PT continua sendo o partido mais forte do país, com mais inserção e capilaridade nos movimentos sociais. Ao mesmo tempo, sabemos que, em alguns setores -por exemplo, da intelectualidade e da classe média-, houve um desgaste mais acentuado e que precisa ser trabalhado com debate político. Não adianta arrogância e desprezar a opinião das pessoas. Vamos trabalhar para reconquistar os que se afastaram, mostrando que, em alguns casos, houve mais do que fatos, muita onda em torno do PT e da crise.
O sr. acha que a crise do caseiro pode afugentar militantes?
Berzoini
– Não. Não conta com a aprovação do PT o ato de violação de sigilo, nem faz parte de nossas tradições. Não há nenhum tipo de conflito entre a postura do partido sobre o fato e o que foi adequadamente tratado pelo governo.
Muitos petistas abatidos pela crise foram fundamentais para eleição de Lula: Paulo Okamotto, Antonio Palocci, José Dirceu, Delúbio Soares, Silvio Pereira. Essas pessoas terão algum papel na campanha pela reeleição?
Berzoini
– O Romário foi fundamental para o Brasil ganhar a Copa em 1994. Mas, em 2002, fundamentais foram o Ronaldo e o Rivaldo. As pessoas são fundamentais em determinadas circunstâncias, mas quem não tiver capacidade de renovação não sobrevive nem no futebol nem na política.
O sr. acha que vai ser difícil arrecadar?
Berzoini
– Isso vai acontecer para o mundo político. A crise chamou atenção para algo que era visto com uma certa displicência por todo o mundo político, que foi o que o Delúbio chamou de recursos não-contabilizados, popularmente chamados de caixa dois. Empresas que sempre trabalharam com a política de não doar oficialmente ou passarão a doar oficialmente ou se afastarão.
A comparação com Fernando Henrique Cardoso está na pauta da campanha?
Berzoini
– As pessoas comparam naturalmente. É comum as pessoas comentarem: vou voltar na reeleição do Lula porque, no governo passado, o desemprego só cresceu. E nesse, apesar da dificuldade, caiu.
O sr. acha que o PT precisa explicar a crise ou Lula saiu ileso?
Berzoini
– Acho que o PT e os aliados não devem fugir do tema da crise. Mas acreditamos que esse não é o tema central. A população não vai prestar mais atenção em quem falar desse assunto. Mas falar é importante até para registrar nosso compromisso de combater os mecanismos que levaram a desvios políticos.
O sr. acha que a oposição erra ao insistir no debate ético na campanha?
Berzoini
– A oposição faz um debate demagógico sobre a questão da ética. Um partido cujo presidente da República foi flagrado discutindo formação de consórcio durante a privatização das teles ou que teve a diretoria do Banco do Brasil inteira condenada a prisão por gestão temerária no caso Encol não tem autoridade para falar em ética.

Qual será a linha da campanha petista?
Berzoini
– Reforçar o sentimento de que tivemos um mandato que teve a responsabilidade de organizar o país, a economia, constituir programas sociais eficazes, melhorar a geração de emprego. E de que, com base na credibilidade na macroeconomia e dos programas sociais conquistada neste mandato, podemos ter muito mais resultados num segundo mandato.
Como candidato a deputado, o sr. se sente confortável numa chapa que inclui nomes de acusados de envolvimento no mensalão?
Berzoini
– Essas pessoas vão dialogar com seus eleitores com tranqüilidade para mostrar o que aconteceu e o que não aconteceu. Repudio o tratamento desrespeitoso que os meios de comunicação dão a pessoas que têm uma história de vida e de política correta que foram aleatoriamente chamados de mensaleiros. Não só me sinto confortável como à vontade para fazer a campanha aos lado deles.

Fonte: Informes