Comunista presidirá a Câmara italiana; no Senado há disputa

Fausto Bertinotti, secretário-geral do Partido da Refundação Comunista (PRI), deve ser o próximo presidente da Câmara dos Deputados, depois da vitória “sob medida” da União, coalizão de centro-esquerda,

Berlusconi admitiu finalmente, com duas semanas de atraso, a sua derrota eleitoral, oficializada nesta segunda-feira (24). Fiel a seu estilo e sem telefonar para o vencedor Romano Prodi, ele expressou o reconhecimento em uma canção napolitana, que entoou acompanhado pelo comediante Mariano Apicella. “Vamo-nos, abandonemos tudo, partidos, tevê, jornais, vamos para uma ilha longínqua chamada paraíso”, diz a letra, composta, segundo ele, “na noite da derrota”.
Andreotti, 87, ataca outra vez
Após uma eleição parlamentar, nos dias 9 e 10, que mostrou a Itália dividida quase ao meio, o bloco berlusconista se prepara para dar trabalho ao novo governo de centro-esquerda, que terá Prodi como primeiro ministro. A candidatura Andreotti à presidência do Senado é um começo.
Andreotti que já foi sete vezes primeiro-ministro, nos tempos de hegemonia democrata-cristã antes da “Operação Mãos Limpas”, declarou-se pronto para a disputa, em um Senado onde a vantagem da União é de apenas dois votos. Ele é senador vitalício – ocupa oc cargo há 15 anos – e apresenta-se como “um nome que não pertence a nenhum dos dois pólos”, embora apoiado pela Casa das Liberdades.
“Nenhum acordo é possível com uma direita iliberal e antieuropéia que malbaratou por cinco anos o país e agora não aceita a derrota”, responde Marco Rizzo, eurodeputado do Partido dos Comunistas Italianos, uma cisão do PRI que participa também da coalizão vencedora. Ele assegura que Marini, dos Democráticos de Esquerda (DS, na sigla em italiano), a maior sigla deste bloco, “é o candidato de toda a União”.
Centros de poder
 Na Câmara, a correlação de forças é mais tranquila para a União, que conta com 340 dos 630 deputados. Mas a indicação de Bertinotti para a presidência teve de enfrentar um concorrente interno, o presidente da DS, Massimo d’Alema. Este só desistiu depois que Prodi apoiou a indicação de Bertinotti, em nome do pluralismo na aliança.
No parlamentarismo italiano, a presidência da Câmara e a do Senado têm influência real sobre os rumos do país. Chegam a atuar, para alguns analistas, como “centros de poder paralelo”. Já a presidência da República, que também estará em disputa, em votação parlamentar no mês que vem, é principalmente um cargo de representação do Estado, que pode vir a ser ocupado por d’Alema.
Império “deve emagrecer”
A perspectiva de presidir a Câmara não amainou o estilo de Bertinotti. Fortalecido por um desempenho que fez a Refundação saltar de 16 para 68 parlamentares, entre 2001 e este mês, o dirigente comunista vem de comprar uma polêmica sobre o papel de Berlusconi, já não como chefe de governo, mas como mega-empresário televisivo.
A Mediaset de Berlusconi praticamente monopolisa a tevê privada no país (rivalizando com a forte tevê estatal RAI). A Publitalia, tentáculo publicitário do pool de empresas do ex-governante, fica com 66% dos investimentos em publicidade.
Para Bertinotti, esse império “deve emagrecer”. O dirigente comunista disse ser necessário “reduzir os seus canais e os seus ingressos publicitários”. Entrevistado por Lucia Annunziata no programa “Em Meia Hora”, Bertinotti disse que “é preciso combater a condição de moinopólio, duopólio ou oligopólio”, no que foi interpretado pela direita como uma “posição de vingança”. 
Com agências