Emprego ganha qualidade e paga salário maior

Em média, um trabalhador brasileiro que conseguiu emprego com carteira assinada em fevereiro deste ano foi contratado por um salário de R$ 583, valor 4,1% superior ao dos que conseguiram um trabalho no mesmo mês de 2005, já descontada a inflação.

No ano passado, nessa mesma comparação, o salário médio dos novos admitidos no mercado cresceu bem menos: 1,7% em relação a 2004, segundo dados da MB Associados. Além do saldo entre vagas abertas e fechadas ter sido recorde em fevereiro – 176,6 mil em 2006, um aumento de 140% em relação ao mesmo mês do ano passado -, a qualidade dos novos empregos também é melhor. A indústria de transformação, setor que, tradicionalmente, paga os salários mais altos, abriu 23,5 mil postos em fevereiro. No bimestre, o número beira os 43 mil. Já em 2005, em fevereiro, esse setor teve um saldo entre demissões e contratações de apenas 810 vagas e, no bimestre, o saldo foi de 33,6 mil.
Para Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), esses números sinalizam uma recuperação da indústria e a continuidade da melhora do mercado de trabalho em 2006. Outra notícia positiva diz respeito à diferença de salários de quem é contratado e de quem é demitido. Há dez anos, por exemplo, o salário dos admitidos equivalia a 84% do rendimento dos desligados. Em 2005, esse percentual foi de 89%. Fábio Romão, da LCA Consultores, que fez os cálculos com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, acredita que essa diferença entre rendimentos tem ficado maior ao longo dos anos por conta de uma maior demanda por trabalhadores nos setores que empregam mão-de-obra mais qualificada.
Séries

É o caso das instituições financeiras. Nos dois primeiros meses deste ano, o saldo de vagas nesse ramo de atividade chegou a 4,5 mil. Em igual período de 2005, a quantidade de novos empregos formais foi quatro vezes menor: 1,1 mil postos. Estruturalmente, o rendimento de quem acaba de arrumar um emprego é menor do que o daqueles que estão deixando o mercado. Isso acontece porque um profissional que está há mais tempo empregado já passou por aumentos salariais, como os dissídios da categoria. E, ao mesmo tempo, para quem é admitido este pode ser o primeiro emprego ou então um novo trabalho depois de muito tempo desocupado, o que leva os trabalhadores a aceitarem salários menores. "Nos últimos anos, no entanto, a tendência tem sido de redução do espaço entre os salários", comenta Romão.

A análise das séries do salário médio desde 1996 até agora também indica que o rendimento dos contratados é bem mais volátil do que o dos demitidos. Em tempos de pouco crescimento, como em 2002, quando o PIB cresceu apenas 1,9% , o salário de admissão despencou 21% e o dos demitidos sofreu uma redução de 17%. Nesses períodos, mais pessoas procuram emprego para ajudar na renda familiar. Com um contingente maior de pessoas em busca de trabalho, a pressão por aumento de salário é menor, ao mesmo tempo em que a pressão inflacionária acaba sendo maior, o que potencializa a corrosão dos salários. Há ainda o alto custo das demissões, que faz com que os empresários tenham mais cautela na hora de dispensar funcionários.

As informações são do

jornal Valor Econômico