EUA dizem ter morto “terrorista” da al-Qaida no Iraque

O suposto líder da organização terrorista al-Qaida no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, teria morrido hoje em um ataque aéreo das forças de ocupação americanas no Iraque, que "cooperavam" com a polícia

O suposto terrorista jordaniano "pôde ser identificado graças a suas impressões digitais", argumentou o comandante-em-chefe das tropas americanas no Iraque, George Casey.

"O ataque aéreo certeiro foi realizado às 18h15 (11h15 de quarta-feira em Brasília) contra seu esconderijo de Hibib, onde se abrigava com vários de seus ajudantes", continuou a dar a versão oficial o comandante Casey.

Hibib é uma aldeia situada cerca de 30 quilômetros ao noroeste de Baquba, capital de Diyala, uma província ainda não dominada pelas tropas invasoras e que luta contra a ocupação americana e contra as autoridades iraquianas, consideradas colaboracionistas pela resistência iraquiana.

Ao suposto terrorista atribuiam, entre outras coisas, a decapitação do refém britânico Ken Bigley, seqüestrado no Iraque em 2004 e cujo corpo ainda não foi recuperado. O irmão da vítima, Stan Bigley, mostrou sua satisfação pelo terrorista "ter sido eliminado da face da Terra, não só por Ken, mas por toda as pessoas que ele assassinou".

Testemunhas citadas pela televisão iraquiana na mesma aldeia disseram que "a operação durou várias horas e produziu um estado de anarquia na área onde aconteceu o ataque". O comando militar americano esquivou-se de revelar se o ataque teria produzido mortes entre os civis. Limitou-se a dizer que "há pelo menos outros sete mortos", supostos ajudantes de Zarqawi.

Albasrah: “Zarqawi não existe"

Há alguns meses o sítio árabe Albasrah.net, um dos mais destacados no fornecimento de informações sobre o desenrolar dos combates no Iraque, afirmou que vinha sendo vítima da propaganda feita pela cadeia de mídia americana MSNBC, que veiculou repetidas vezes "uma campanha mentirosa, dizendo entre outras coisas que o site faz propaganda do terrorista al Zarqawi".

"O Albasrah não publicou nenhuma reportagem relacionada com al Zarqawi por que nem mesmo acreditamos que essa figura mitológica exista. Os invasores movem estas acusações para justificar os ataques que fazem em toda parte no Iraque cometendo massacre após massacre, de Faluja a Samara, passando por Bagdá”, denunciou ainda a direção do sítio, que acrescentou: “é óbvio que o objetivo verdadeiro do Império é apagar as poucas vozes que cobrem os massacres cometidos pelas tropas ocupantes e seus colaboradores dentro do Iraque ocupado”.

Invenção dos invasores

O xeque iraquiano Jawad Jalessi denunciou, em entrevista publicada pelo jornal francês, Le Monde, em 15 de setembro do ano passado, que Zarqawi não existe: “Não creio que Zarqawi exista como tal. É só uma invenção dos invasores para dividir o povo iraquiano, porque ele foi abatido ao norte do Iraque no início da guerra. Sua família na Jordânia esteve à frente de uma cerimônia, depois de sua morte. Zarqawi é um joguete utilizado pelos estadunidenses, uma desculpa para manter a ocupação, um pretexto para não se retirar do Iraque”.

O líder religioso de Bagdá fez suas denúncias logo após mais uma das "declarações" do suposto Zarqawi — que só serviam aos interesses dos invasores — de que estaria começando uma “guerra total aos xiitas”.

"Nem mandou condolências"

Em uma entrevista concedida à cadeia de televisão australiana ABC (Australian Broadcasting Corporation), em marços deste ano, o jornalista britânico Robert Fisk também falou de Zarqawi. Fisk cobre há anos a política no Oriente Médio e as guerras que o imperialismo trava na região para apoderar-se de seus recursos naturais. Em um trecho da entrevista Fisk fala sobre o suposto terrorista jordaniano:

Tony Jones: Robert Fisk é um dos mais experientes observadores do Oriente Médio e no seu recente livro The Great War for Civilisation – the Conquest of the Middle East [A Grande Guerra pela Civilização – A Conquista do Médio Oriente], ele percorre quase 30 anos de reportagens feitas a partir da sua base no Líbano para nos dar uma perspectiva das forças intervenientes nos actuais acontecimentos e conflitos. Há uma semana (a entrevista foi feita em 2 de março de 2006), houve o atentado à bomba contra o santuário dourado de Samarra. Agora, a maioria das pessoas acha que os únicos com motivos para fazer aquilo seriam os terroristas da al-Qaida do Iraque, liderada pelo Al-Zarqawi. Você não concorda?

Robert Fisk: Bem. Eu não sei se o al-Zarqawi está vivo. Sabe, o Zarqawi existia antes da invasão anglo-americana. Ele estava lá em cima, na região curda, que aliás não era propriamente controlada pelo Saddam. Mas depois disso parece ter desaparecido. Sabemos que há um documento de identidade que apareceu. Sabemos que os americanos dizem que crêem tê-lo reconhecido numa gravação vídeo. Quem é que o reconhece na gravação vídeo? Quantos americanos já se encontraram com o Zarqawi? A mãe do Zarqawi morreu há mais de um ano e ele nem sequer mandou condolências ou disse "Tenho muita pena.

A mulher dele, com quem foi sempre muito possessivo, é tão pobre que teve de arranjar um emprego na cidade de Zarqa, donde é a família. Daí o nome Zarqawi. Eu não sei se o Zarqawi está vivo ou existe neste momento. Não sei se ele não é uma espécie de criatura inventada para preencher os espaços vazios da história, por assim dizer. O que está acontecendo no Iraque neste momento é muito misterioso. Eu vou ao Iraque e, de momento, não consigo deslindar essa história. Alguns dos meus colegas continuam a tentar, mas não conseguem. Não é tão simples como parece. Não acredito que andem por ali todos esses lunáticos enraivecidos às voltas a pôr bombas nas mesquitas.

O que se vê é muito mais do que isso. Todos esses esquadrões da morte que andam por ali fazem parte das forças de segurança. Em alguns casos são forças de segurança xiitas ou claramente forças de segurança sunitas. Quando o exército iraquiano vai às cidades sunitas, são soldados xiitas que vão. Isto não é claro para nós. De tropas iraquianas, há só um batalhão novo. O exército iraquiano está em formação. O exército iraquiano está dividido. Alguém está a fazer funcionar essa gente. Não sei quem. Não é tão simples como se pretende fazer ver. Que é isso de o Bush dizer que temos de escolher entre o caos e a unidade? Quem é que quer esse caos? Será crível que todos esses iraquianos, que andaram oito anos a combater juntos contra os iranianos, xiitas e sunitas juntos, na longa e mortífera guerra entre iranianos e iraquianos, de repente querem todos matar-se uns aos outros? Porquê?

Passa-se algo de errado com os iraquianos? Eu não creio. Eles são pessoas inteligentes e cultas. Há qualquer coisa de muito estranho que se está a passar em Bagdá.

Com informações de agências internacionais, Hora do Povo e Centro de Mídia Independente