Artur promete pluralismo na CUT, mas insinua retaliação à CSC

“Uma gestão realmente compartilhada, com estratégia claramente definida e decidida no coletivo”. É o que anuncia o novo presidente da CUT, Artur Henrique dos Santos, em entrevista ao Vermelho, concedida nesta sex

Nas negociações para o pleito, a ArtSind não abriu mão de nenhum dos oito cargos mais importantes da Executiva Nacional cutista. O vice-presidente da central, Wagner Gomes, da Corrente Sindical Classista (CSC), também está com o posto ameaçado. Tudo porque a CSC, segunda grande força da CUT, não se coligou à Articulação, lançando chapa própria na disputa para a diretoria. “Nós dissemos antes: se montassem a chapa, os cargos não estariam definidos”, enfatiza Artur (foto).

Caso faça valer a insinuação, o presidente da CUT começará seu mandato rompendo acordo entre as duas tendências. Acordo, aliás, selado pelo próprio coordenador-geral da ArtSind, Carlos Alberto Grana. Em reunião realizada durante o Concut, Grana afiançou a Wagner Gomes que a vice-presidência e ao menos uma secretaria estavam garantidas à CSC.

O futuro da central

Controvérsias à parte, não é apenas o presidente da CUT — mas, sim, a Executiva Nacional — que define, em conjunto, a divisão de cargos. Com a votação recebida nesta sexta-feira, a chapa de Artur (composta por ArtSind e Corrente Sindical Democrática — CSD) pode indicar 18 diretores efetivos e cinco suplentes. Já a coalizão em torno da CSC assegurou sete cargos efetivos, mais dois na suplência da direção da CUT. A Articulação, como reconhece Artur, terá privilégios, sem ter condições de dar a palavra final.

Aos 44 anos, o eletricitário,  sociólogo e sindicalista Artur Henrique diz querer mudar as feições cutistas. Gostaria que, no fim de sua gestão, a maior central sindical do Brasil esteja “mais enraizada no local de trabalho”. Antes de tudo, o primeiro desafio — diz ele — é preparar os trabalhadores para as eleições 2006. No Concut, afinal, a imensa maioria dos delegados deliberou apoio à reeleição de Lula, para evitar a volta da direita neoliberal e avançar nas mudanças.

Confira abaixo a entrevista exclusiva de Artur ao Vermelho.

Na disputa de hoje (09/06), sua chapa obteve quase 70% dos votos válidos. O resultado era previsto?
Era, sim. O percentual bateu exatamente com o cálculo que nós fazíamos antes das eleições. Nós já esperávamos que a Articulação tivesse um número maior de dirigentes após esse congresso, e foi isso o que houve. Do total de vagas, a CSD indicará três de seus companheiros para a direção. A outra chapa (na verdade, o grupo aliado a João Felício) deve ter nove nomes indicados à Executiva Nacional da CUT.

A distribuição dos cargos já está consumada ou ainda há margem para negociação?

Tem muita coisa já discutida, já debatida — a Secretaria-Geral, a Tesouraria, Secretaria de Organização, Secretaria de Formação. São cargos que, de certa forma, já estão resolvidos, de acordo com o debate que fizemos antes de montar a chapa. Com relação ao restante dos cargos, a gente deve fazer a indicação na primeira oportunidade em que a Executiva Nacional se reunir.

A Corrente Sindical Classista  reivindica a vice-presidência da central, que também é cobiçada pela CSD. Para onde vai esse cargo?
Antes mesmo do processo, nós falamos que, de houvesse uma chapa única, não teríamos qualquer problema em manter a vice-presidência com a Corrente Sindical Classista. Não temos divergência nenhuma com a CSC em termos políticos, e o resultado das votações aqui no Congresso mostrou isso. Nos grandes temas do Congresso, votamos conjuntamente. Mas, a partir do momento em que outra chapa sai além da nossa, a Corrente assumiu um risco de achar que nós teríamos uma quebra maior de delegados, por conta de toda a disputa ocorrida no nosso campo (para obter a candidatura, Artur travou uma batalha aberta, dentro da Articulação, com o então presidente da CUT, João Felício, que buscava a reeleição). Apostaram que poderiam ter um número maior de dirigentes sindicais nessa disputa. Infelizmente, não chegaram ao êxito. Nós conseguimos reunificar a Articulação e colocá-la num patamar de manutenção dos cargos. Então essa questão da vice-presidência não está garantida, e nós dissemos antes: se montassem a chapa, os cargos não estariam definidos. Agora, cabe à chapa vencedora fazer a discussão interna primeiro, para a gente avaliar que cargos vamos escolher para poder administrar e tocar a CUT. Mas sempre tendo uma visão de uma gestão mais compartilhada, inclusive com os companheiros da Corrente, da Articulação de Esquerda e do Trabalho. Queremos uma gestão realmente compartilhada, com uma estratégia claramente definida e decidida no coletivo.

E qual o primeiro desafio a ser enfrentado por essa nova gestão?
Com certeza, a primeira coisa é preparar a militância sindical, a base, para essa disputa na sociedade brasileira, em que há projetos políticos claramente contraditórios, de luta de classe. A eleição é um importante evento. Além disso, já no mês de junho, vamos fazer uma grande manifestação da Coordenação de Movimentos Sociais, na linha de apresentar para a sociedade um projeto de Brasil soberano, com geração de renda.

Daqui até 2009, sob sua gestão, qual será a cara da CUT? O que é a central a partir de hoje?
Acho que vai ser a cara de uma CUT que vai crescer muito e estar mais enraizada no local de trabalho. Uma CUT alinhada não só à mobilização dos trabalhadores e das trabalhadoras. Uma CUT que, além de ter movimento, negocia, faz pressão e ajuda a organizar a base a partir do local do trabalho, na perspectiva de avançar mais nos direitos trabalhistas.

De São Paulo,
André Cintra