CSC sai fortalecida do 9º Concut

Por João Batista Lemos*

A bancada da Corrente Sindical Classista (CSC) alimentava um sentimento de vitória na plenária final do 9º Congresso Nacional da CU

As principais resoluções políticas, apresentadas em conjunto com a Articulação Sindical, corresponderam às opiniões classistas, incluindo a que define o apoio à reeleição de Lula em oposição à possibilidade de retrocesso representada pelo candidato da direita neoliberal, Geraldo Alckmin. No plano das relações internacionais, cabe destacar a aprovação da proposta de constituição de um Fórum Sindical das Américas, feita pela corrente classista com o propósito de unificar o movimento sindical do continente contra o neoliberalismo, independente da filiação às centrais internacionais ou posições ideológicas. Cabe destacar e exaltar a garra e o espírito de unidade que orientaram o comportamento da delegação classista. Democracia na CUT

A participação no processo eleitoral que definiu os nomes para a nova direção da central foi outro ponto positivo. Em sintonia com o anseio e as expectativas da sua delegação, a CSC decidiu encabeçar uma chapa de oposição à Articulação Sindical, em aliança com outras forças cutistas. No total, três chapas se apresentaram ao pleito. A Chapa 1 reuniu os sindicalistas contrariados com o governo Lula (ligados principalmente ao P-Sol) e não conseguiu obter número de votos suficientes para figurar na direção. Alguns dos seus componentes anunciaram durante o congresso a criação de uma nova "intersindical", sugerindo que estão a caminho de abandonar a CUT. A Articulação Sindical, unificada em torno do eletricitário Artur Henrique dos Santos, concorreu com a Chapa 3, que sem maiores surpresas obteve uma expressiva maioria dos votos. Já a corrente classistas, que abriga os comunistas, encabeçou a Chapa 2 (através de Wagner Gomes), que foi composta ainda por sindicalistas de três outras tendências ligadas ao PT: O Trabalho, Articulação de Esquerda e Tendência Marxista.

O principal motivo para esta opção, que contrastou com a unidade predominante na abordagem das resoluções políticas, foi a rejeição da cultura hegemonista dos dirigentes da Articulação Sindical e a necessidade de enfatizar a luta por maior combatividade, democracia interna e autonomia da Central em relação a governos e partidos políticas. Tal hegemonismo foi exibido no Cecut da Bahia, farto em evidências de manipulação contra a CSC para favorecer a tendência majoritária. A defesa de uma CUT autônoma, democrática, plural e de luta norteou a campanha e unificou os integrantes da Chapa 2.


Desafios


Realizado à véspera de uma acirrada eleição presidencial, já polarizada entre as forças de centro-esquerda que sustentam o governo Lula e a direita neoliberal capitaneada por PSDB e PFL, o 9º Concut reiterou antigas batalhas e apontou novos desafios para a maior central sindical da América Latina. Salienta-se a necessidade desta se comportar com autonomia e independência no cenário político nacional que emergirá do pleito de outubro, procurando resgatar sua histórica combatividade na defesa intransigente dos interesses da classe trabalhadora brasileira.

As lideranças cutistas devem aprender a combinar as reivindicações específicas das diferentes categorias com as lutas políticas nacionais, de modo a elevar o nível de consciência e de luta da classe trabalhadora. A estratégia neste sentido deve mirar um novo projeto nacional de desenvolvimento, fundado na soberania e na valorização do trabalho. O foco da ação cutista deve estar centrado na mobilização e união dos trabalhadores em torno das bandeiras do trabalho e da soberania nacional, com destaque para a redução da jornada sem redução de salários, reforma agrária, valorização do salário mínimo, universalização dos serviços públicos e defesa da integração econômica e política solidária dos países latino-americanos.

Não se deve negligenciar o fato de que vivemos uma época ainda marcada pela ofensiva neoliberal, que no Brasil não faz segredo do desejo de impor a flexibilização e redução dos direitos sociais por meio de uma contra reforma trabalhista. É preciso reiterar, em contraposição às pressões dos capitalistas, a necessidade de uma unidade mais ampla da classe trabalhadora, envolvendo na luta desempregados, informais, precarizados e terceirizados, que constituem mais de 50% da nossa população trabalhadora. Unir todas as correntes que atuam na CUT em torno desses objetivos é uma pré-condição para o êxito de uma estratégia classista e aparentemente corresponde também ao pensamento do novo presidente, Artur Henrique dos Santos. Isto exige mais democracia e respeito à diversidade de opiniões e posições no interior da CUT, como ficou demonstrado durante o congresso. É fundamental assegurar no mínimo a manutenção dos espaços já conquistados pela CSC, assim como o cumprimento do acordo da Bahia, que reserva aos classistas o cargo de tesoureiro. Com isto, a CUT sairá fortalecida e unificada para enfrentar os grandes embates de classe que virão.


* Coordenador nacional da CSC