Em coletânea, pensadores avaliam crise política brasileira
Marilena Chauí, Wanderley Guilherme dos Santos, João Pedro Stélide e Leonardo Boff conversaram com Juarez Guimarães sobre origens da crise e seus desdobramentos. Livro “Leituras da Crise”, lançado pela Funda&c
Publicado 19/06/2006 20:22
Uma boa contribuição neste sentido é o livro “Leituras da Crise – Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo”, coletânea de entrevistas publicada pela Fundação Perseu Abramo e coordenada por Juarez Guimarães, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e editor do boletim eletrônico mensal “Periscópio”, da Perseu Abramo.
Guimarães escolheu quatro entrevistados para falar sobre a crise política: Marilena Chauí, professora da Filosofia da Universidade de São Paulo (USP); João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST); Wanderley Guilherme dos Santos, professor titular de Teoria Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Leonardo Boff, escritor e um dos principais nomes da Teologia da Libertação.
São quatro olhares diferentes sobre a crise. Diferentes porque partem de lugares distintos e procuram lançar alguma luz sobre aspectos distintos da mesma. Na avaliação de Juarez Guimarães, o livro fornece talvez “a melhor reflexão pública que se produziu sobre a crise vivida pela democracia brasileira em 2005 e os caminhos para superá-la. Defendendo que “a inteligência crítica é companheira inseparável da esperança”, Guimarães acredita que o livro representa um instrumento valioso para pensar sobre o que aconteceu e para evitar que velhos erros se repitam.
Cada um dos entrevistados procura extrair lições da crise. Em cada uma das quatro análises há pelo menos um importante ensinamento sobre o que aconteceu se seus desdobramentos no presente. “A sociedade brasileira vive uma crise de destino, uma crise de projeto. Não basta o governo ficar respondendo se há ou não corrupção. O que é importante é o governo recuperar o debate na sociedade sobre a necessidade de um novo modelo econômico para o país”, defende João Pedro Stédile.
“O PT está no meio da parte mais substancial da problemática do país no curto e médio prazo. Qual é a versão que o principal partido da mudança no Brasil, que se chama Partido dos Trabalhadores, tem a respeito de si próprio nas suas relações com o mundo privado?, interroga Wanderley Guilherme Guimarães.
“Não pode existir uma ética petista própria e separada de uma construção democrática e republicana das instituições brasileiras”, sustenta Marilena Chauí. “Vale a pena investir esperança no resgate do PT, bebendo do capital de esperança que não se esgota no PT e, por isso, não deixa que a crise vire uma tragédia”, propõe Leonardo Boff.
O livro “Leituras da Crise” fornece elementos suficientes para refletir sobre o que aconteceu. Para quem recusa a via do tapete, é uma leitura obrigatória.