Polícia já registra 71 ataques e seis mortes em SP

Dois meses depois de uma onda de violência que paralisou a capital paulista, o Estado de São Paulo sofreu 71 ataques criminosos entre a noite de terça-feira e o final da tarde desta quarta-feira, que deixaram ao menos seis mortos, ônibus incendiados e açõ

O Secretário de Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, descartou a existência de uma suposta lista de presos que seriam transferidos, apontada como possível causa desses ataque, mas reconheceu que a informação pode ter provocado alguma reação.



''A publicação da lista gerou essa movimentação, mas essa lista não existe'', afirmou o secretário em entrevista à imprensa na secretaria, referindo-se a notícia publicada na imprensa.



''O governo nos sondou sobre qual seria o número de vagas que iríamos querer (no presídio), respondemos 40, mas não foi decidido'', disse, referindo-se ao recém-inaugurado presídio federal em Catanduvas (PR). Segundo o secretário, só as vagas foram cogitadas, mas nenhum nome foi definido oficialmente.



O secretário afirmou ainda que a polícia fez escutas telefônicas durante a noite e, dessa forma, soube que os presos estavam falando sobre uma possível transferência.



Nas ações, registradas a partir das 22h de terça até a tarde desta quarta, morreram seis pessoas e 30 ônibus foram incendiados, 12 bancos sofreram ataques, assim como seis revendedoras de veículos, dois supermercados, uma loja, um sindicato e três residências de PMs, segundo a Secretaria da Segurança Pública.



Em Salvador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a oferecer a ajuda de forças federais ao Estado e disse que São Paulo está ''aterrorizado''. A oferta foi recusada, mais uma vez, pelo governador Cláudio Lembo (PFL).



O secretário de Segurança disse, no entanto, que a ajuda do Exército seria bem-vinda e que o governo deveria contratar mais pessoas para a Polícia Federal em São Paulo.



''Nunca foi oferecido para nós, pessoalmente, a ajuda de uma guarda nacional (Força de Segurança Nacional), mas o Exército é bem-vindo. Agora, pergunte para qualquer oficial do Exército se ele é favorável a isso'', ironizou. ''Precisamos de contratação, a Polícia Federal de São Paulo é muito pequena.''



Representação contra Saulo de Castro



Mas as ironias de Saulo de Catro podem estar com os dias contados. Nesta quarta-feira um grupo de 24 deputados estaduais protocolou uma representação na Procuradoria-Geral de Justiça contra o secretário por desacato ao Parlamento. Saulo de Castro é denunciado por ofender publicamente vários deputados, inclusive com ofensas ''de cunho discriminatório''. Como atingiu os deputados, o secretário ''ofendeu por conseqüência o Poder Legislativo'', diz a representação.



As ofensas ocorreram durante o depoimento Saulo Castro à Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa em seis de junho. Na ocasião, ele foi convocado para falar sobre a crise na segurança pública no Estado a partir dos ataques atribuídos ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e que culminaram com quase duzentos mortos.



Ao depor, Saulo de Castro veio ''acompanhado de um aparato policial jamais visto'', conforme a representação, ''para intimidar os deputados em suas funções constitucionais, haja vista as vaias aos deputados quando estes interpelavam o secretário''.



Os parlamentares que assinaram a representação pedem que o MPE (Ministério Público Estadual) apure os fatos e responsabilize o secretário nos termos da legislação vigente. Anexam à procuração fotos, publicações da grande imprensa, cópia da gravação pela TV Assembléia e as notas taquigráficas da sessão.


 


Deputado diz que governo de SP está entregue aos bandidos



O deputado estadual Romeu Tuma (PMDB), um dos que assinaram a representação contra Saulo de Castro considera que o apoio do governo federal é imprescindível para restabelecer a ordem no setor de segurança pública em São Paulo. ''O governo do Estado está na mão dos bandidos. Deve deixar a questão política de lado e aceitar a ajuda'', afirma Tuma.



Segundo o deputado, os novos ataques aos policiais, agentes de segurança e civis são reflexo da política que o Estado criou na última década. ''Privatizaram tudo e deixaram a questão da segurança pública de lado. Fizeram uma PPC nos presídios, ou seja, uma parceria público-criminal. Só podia terminar assim'', acrescenta.


 


Para Tuma, a situação das penitenciárias também merece atenção das autoridades. ''Já faz tempo que são os presos que ditam as regras. Todo mundo sabia disso, mas o governo encobria o problema e dizia que estava tudo sob controle'', diz.



O deputado estadual cobra uma postura mais incisiva das autoridades, sobretudo do secretário estadual de Segurança Pública, ''O secretário minimiza o problema e a população fica cada vez mais com med'', diz Tuma.



Sobre a representação contra o secvretário, Tuma diz que ele ''ao invés de esclarecimentos, Saulo tripudiou com o parlamento e ensaiou passinhos de dança'', recorda Tuma. ''Agora quero ver ele aparecer lá para dar explicações''.



Agentes penitenciários são principais alvos



Na noite desta quarta-feira, a Secretaria de Segurança Pública confirmou a sexta morte na mais recente onda de ataques em São Paulo. O agente penitenciário Abner Machado da Silveira, 53 anos, foi morto por volta das 18h, próximo ao presídio Ataliba Nogueira, em Campinas, onde trabalhava.



Colegas ouviram os disparos e encontraram Silveira baleado. Ele morreria pouco depois, no hospital.



Segundo os dados apresentados anteriormente pela polícia, um soldado da Polícia Militar foi baleado ao sair de casa, na zona norte de São Paulo, e sua irmã, que saiu à janela no momento do ataque, também foi atingida e morta.



Na Baixada Santista, segundo o comandante da Polícia Militar, coronel Elizeu Eclair, três seguranças privados foram mortos durante a madrugada.



Ataques a funcionários da área de segurança já vinham sendo deflagrados no Estado nos últimos dias. Uma das razões para isso que tanto a imprensa quanto as fontes oficiais do governo tetam esconder é que os agentes tês agido com extrema truculência contra os presos dentro das unidades penitenciárias, negando aos detentos direitos elementares como alimentação e higiene.



O sistema prisional registrou motins e greves de agentes penitenciários, que vinham denunciando mortes de funcionários. Na terça, o filho de um carcereiro foi baleado em São Vicente e morreu depois de ser levado a um pronto-socorro da região, mas o comandante da PM não contabilizou essa morte.



Os ataques a alvos das forças de segurança do Estado incluíram delegacias, bases da Polícia Militar e postos da Guarda Civil Metropolitana. Além das forças de segurança, os ataques também tiveram como alvo agências bancárias, supermercados, revendedoras de veículos e ônibus municipais.



São Paulo registrou uma onda de violência em maio, com diversos ataques a alvos de segurança e civis e rebeliões simultâneas, atribuída à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).


Da redação,
Com informações das agências