Indústria brasileira já exporta 27% do que produz
O Brasil está exportando uma fatia maior de sua produção de bens intensivos em tecnologia.
Publicado 13/07/2006 17:51
No ano passado, o país vendeu no exterior 36% dos automóveis que produziu, revela levantamento inédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esse percentual era de 32% em 2004 e de 20% em 2000. O crescimento mais expressivo da indústria ocorreu no setor de material eletrônico e de comunicações. Impulsionada pelas exportações de celulares, a parcela da produção que é exportada saltou de 17% em 2004 para 31% em 2005. “O Brasil está caminhando para uma especialização no setor metal-mecânico”, afirma Fernando Puga, economista da secretaria de Assuntos Econômicos do BNDES e autor do estudo, que será divulgado na quarta edição do boletim Visão do Desenvolvimento, nova publicação semanal do banco.
Ele explica que o país possui uma vantagem comparativa, já que é um dos maiores produtores de minério de ferro do mundo. A fatia da produção de máquinas e equipamentos que é destinada ao mercado externo aumentou de 32% em 2004 para 35% no ano passado. Em 2000, esse percentual era de apenas 20%. No setor de máquinas e equipamentos, o Brasil se destaca lá fora em máquinas agrícolas e para construção civil. O percentual da produção que é exportada no setor de metalurgia básica também subiu de 32% em 2004 para 34% em 2005. O país também exportou 17% das máquinas, aparelhos e materiais elétricos que produziu, comparado a 15% em 2004.
Um setor com crescimento acelerado é o de refino de petróleo e álcool. Com os investimentos da Petrobras, o Brasil se tornou auto-suficiente na produção de petróleo, aumentando também o excedente exportável. O percentual da produção do setor que é exportado saiu de 4,9% em 1996 para 6,8% em 2000, 12% m 2004 e atingiu 14% no ano passado. Os setores intensivos em tecnologia garantiram o bom desempenho da indústria brasileira no comércio exterior, apesar da alta do real. Em 2005, a indústria da transformação enviou para o exterior 25% da produção, contra 23% em 2004, completando sete anos de alta ininterrupta desse indicador. Na indústria geral, que inclui a extrativa, a alta foi de 25% para 27%.
Especialização
Puga diz que “não vê sinais de queda” do coeficiente exportado (exportação/ produção) em 2006. Mesmo com o real forte, as exportações dos produtos intensivos em tecnologia seguem vigorosas. No primeiro trimestre do ano em relação a igual período de 2005, o volume de exportação de automóveis subiu 17,5% , de material elétrico, 20%, e de equipamentos eletrônicos, 28%, conforme dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Se não afeta a economia de maneira generalizada, a valorização do real frente ao dólar está prejudicando a performance exportadora nos setores intensivos em trabalho.
A fatia da produção destinada à exportação ficou estagnada em 52% no setor de calçados e 8% no vestuário em 2005 comparado com 2004. No setor têxtil, a alta foi de apenas um ponto percentual para 18%. “Esse setores sofrem com a concorrência da China”, diz Puga, acrescentando que muitos países enfrentam o mesmo problema que o Brasil. Na avaliação do economista, a Ásia está “forçando” uma especialização em diversos países. “Felizmente, o Brasil está entrando em segmentos de maior valor adicionado, como metal e mecânica. Não existe uma primarização da economia”, conclui.
Importações
A participação dos produtos importados no consumo da indústria brasileira cresceu de 19% em 2004 para 20% em 2005, indica o BNDES. Na indústria da transformação esse percentual ficou estável em 17%. Puga diz que, apesar da força do real, ainda não é possível identificar um movimento geral de substituição de produtos nacionais por importados. Ele descarta uma alta expressiva desse indicador em 2006, mas reconhece que alguns setores estão sendo mais afetados pela concorrência externa. A participação das máquinas e equipamentos importados no consumo brasileiro aumentou de 32% em 2004 para 36% em 2006.
Em máquinas industriais, como injetoras plásticas, os chineses competem direto com os fabricantes nacionais e conquistam mercado. Em automóveis, a fatia dos importados também cresceu de 16% para 19% no último ano. No setor têxtil subiu de 9% para 11%. O setor de material eletrônico e de comunicações apurou o aumento mais expressivo, de 40% para 50%. Nesse caso, Puga acredita que o bom desempenho das exportações incentivou as importações.
Com informações do
jornal Valor Econômico