Volks nega acordo, rebaixa metalúrgicos e aumenta crise

A Volkswagen colocou mais gasolina no incêndio provocado pelo anúncio de que demitirá 5.773 trabalhadores nos próximos três anos em suas unidades no Brasil. A multinacional alemã se recusou a aceitar todas as propostas apresentadas pelos sindicatos de

Na semana passada, houve 26 horas de conversa, em seis reuniões entre a fábrica e representantes sindicais dos metalúrgicos do ABC, Taubaté, São Carlos e São José dos Pinhais. A empresa nada acatou, mantendo a mesma ladainha quanto à necessidade de cortar gastos, empregos e direitos, para continuar operando normalmente no país. “Depois de seis encontros, o circo das negociações foi desmontado. A Volks disse que queria negociar apenas para parecer simpática à sociedade”, afirmou José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.


 


De acordo com Feijóo, “sem que a Volks coloque (os termos do acordo) no papel – e timbrado -, não há o que dialogar. Só com oficialização das propostas”. O sindicalista conclamou a categoria a se manter mobilizada. “A luta pode acontecer a qualquer momento”, já que existe a possibilidade da Volks iniciar demissões a partir desta semana nas fábricas de Taubaté, no interior paulista, e São José dos Pinhais, no Paraná. “A montadora quer impor um tratado de rendição. Se aceitássemos essa chantagem, abriríamos a porta para um desastre trabalhista no país”, acrescentou o líder metalúrgico.


 


Outra denúncia partiu de Wagner Santana, o Wagnão, vice-presidente do Comitê Mundial de Trabalhadores da Volks. Apesar do excesso de capacidade produtiva no Brasil, a Volks abrirá outras fábricas na Índia e na Rússia. Segundo Santana, a intenção da montadora é “fazer leilão com a mão-de-obra e forçar o metalúrgico a trabalhar em piores condições”.


 


Argumentos falaciosos
A alegação da Volks de que as demissões se devem ao câmbio desfavorável foi desmentida por Feijóo. Só neste ano, a empresa registrou um crescimento de 15,9%. “Se compararmos o mês de maio com abril, o crescimento foi de 25%”, afirma o sindicalista. “São números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea). A Volks é a líder do mercado, a empresa que mais vende.”


 


Para Feijóo, “uma política baseada na conjuntura cambial não poderia ser uma política para três anos”. O líder dos metalúrgicos do ABC disse que a empresa está construindo novas fábricas com postos de trabalho precários, ausência de direitos, salários menores e longas jornadas. “A montadora usa essas fábricas para chantagear os trabalhadores de outros países e impor perdas generalizadas.”


 


Diante da truculência com que a empresa vem agindo contra a organização sindical e os direitos dos trabalhadores, Feijóo destacou que os sindicatos terão uma reunião de urgência com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico de Social (BNDES). No encontro, vão reivindicar a suspensão do empréstimo de R$ 500 milhões que o banco liberou à montadora neste ano. “Não é correto o BNDES emprestar para quem quer demitir”, sublinhou.


 


A intenção da Volks tem conseqüências econômicas sobre o país, os estados e municípios. “Em São Bernardo, por exemplo, deixarão de circular na economia local, pelo desemprego na empresa, R$ 192 milhões, sem contabilizar o impacto no conjunto da cadeia produtiva, que também existirá. Muita gente que trabalha no setor de serviços, no comércio, perderá o seu emprego”, afirma Feijóo. “Não estamos nem contabilizando o corte de direitos, que significa redução de renda – talvez num volume tão intenso quanto o das demissões. Estamos falando de um prejuízo brutal para a sociedade, e é preciso reagir.”