Um foco sobre a disputa eleitoral em São Paulo

Por Walter Sorrentino



Nada será mais pernicioso que considerar as eleições de outubro com espírito rotineiro. Já está claro que se trata de uma disputa radicalizada, que chega ao nível da falta de escrúpulos contra Lula e seu governo. Mante

Ambas, interligadas, fazem destas eleições uma das mais importantes e disputadas ao longo desta jornada que vai longe desde a redemocratização do país em 1985.



O que ensinou a gestão Marta



As forças populares jamais governaram o Estado de São Paulo. Chegaram, como se sabe, ao governo da capital, onde Marta Suplicy constituiu um legado muito positivo, ainda presente nas camadas mais desassistidas desta que é a maior metrópole do país. A gestão Marta Suplicy deixou o ensinamento do quanto se pode fazer a partir de um governo progressista e de inclusão social. Ou melhor, do quanto de fato os governos tradicionais estão alheios às carências sociais da população.



É exatamente isso que precisa ser debatido. Os governos tucanos em São Paulo revelam o esgotamento de um modelo. Eles tiveram suas oportunidades para demonstrar capacidade em abrir para São Paulo uma rota de desenvolvimento. Os oito anos de governo FHC, combinados com os 12 de Covas-Alckmin, cumpriram religiosamente o programa conservador, com privatizações e ajustes fiscais escorchantes.



Como São Paulo regrediu em 12 anos



Desenvolvimento foi o que não se viu – São Paulo perde nos índices comparados com o país, diminuiu sua participação no PIB industrial. O serviço público foi sucateado a um nível sem precedentes. Para ficar em apenas duas áreas, a educação pública – nascida em São Paulo, orgulho de toda uma geração – foi relegada a um dos mais baixos níveis da federação.



Na segurança pública, os tucanos produziram um apagão, para tomar emprestada a expressão do que se verificou no governo FHC com a energia elétrica. Durante esses 12 anos, constituiu-se a escola do crime, ancorada nos presídios, tendo por base a Febem, cujo modelo é simplesmente obscurantista e já foi abandonado em todo o país. Os delegados de São Paulo recebem o segundo pior salário do país.



Uma campanha de baixezas



Claro que os tucanos podem ostentar obras realizadas. Mas 12 anos é muito tempo! O potencial realizador já se esgotou há tempos! Pode-se verificar a falta de perspectivas dos tucanos hoje, em São Paulo, quando estes apelam para uma campanha de baixezas, insinuando ligações entre PT e PCC. Na verdade, o PCC se constituiu durante o governo tucano, que tem nessa nevrálgica área um secretário de Segurança Pública que é um autêntico atentado à segurança, dado o comportamento amolecado que demonstrou em arguição na Assembléia Legislativa de São Paulo.



A mesma falta de perspectiva se vê no candidato tucano. Tendo largado a prefeitura de São Paulo com apenas um ano de mandato, não faz campanha, não comparece a debates, não apresenta projeto. É como se tudo devesse continuar como está. Diz-se que é uma estratégia eleitoral, de administrar a vantagem que aufere nas pesquisas. Melhor constatar que governo de São Paulo não pode ser prêmio de consolação a quem foi deixado para trás na disputa presidencial. Talvez por isso José Serra revela-se sem energia e amuado.



As forças vivas de São Paulo haverão de refletir sobre esse esgotamento de modelo dos governos tucanos. Um bom governo no Estado de São Paulo, com base em forças sociais que expressem os anseios populares, representará um salto de qualidade no projeto nacional. Em outubro, pela primeira vez na história do país, se poderá conciliar um governo federal e estadual em São Paulo coincidentes nesses propósitos. Isso vale o bom combate, continuação em patamar mais elevado dessa já longa jornada em prol do desenvolvimento, dos direitos sociais e de uma profunda participação democrática dos paulistas. É hora da esquerda governar São Paulo, com as forças democráticas e populares! Lula e Mercadante, numa campanha que é única, são a renovação que São Paulo precisa.