Belluzzo: Pela estabilidade, é preciso um novo Bretton Woods?

Em artigo para a Folha de S.Paulo, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, analisa repercussões em torno do “dos desequilíbrios globais e do agravamento dos riscos financeiros”. O texto, publicado neste domingo (30/7), lembra que, “para Bretton Wo

Um novo Bretton Woods?


 


Por Luiz Gonzaga Belluzzo


 


Diante dos desequilíbrios globais e do agravamento dos riscos financeiros, não faltam o que propõem a realização de um “novo Bretton Woods”. Como é de conhecimento geral, a conferência convocada para a pequena cidade americana de Bretton Woods cuidou de debater, em 1944, a construção de uma arquitetura financeira internacional capaz de impedir as desgraças que assolaram o mundo nos anos 30. As estrelas do conclave foram o americano Dexter White e o economista inglês John Maynard Keynes.


 


Essencialmente, a reforma monetária que Keynes apresentou nos estertores da Segunda Guerra Mundial foi a seguinte: o dinheiro internacional seria simplesmente uma moeda de conta, ou seja, os países trocariam mercadoria por mercadoria e o dinheiro seria simplesmente uma moeda de cálculo. Os déficits e superávits seriam escriturados nas contas da Clearing Union. Os países superavitários seriam estimulados a aumentar suas importações e obrigados, com taxas de juros módicas, a financiar os déficits dos demais. Os países sistematicamente deficitários estariam sujeitos a processos de ajustamento comandados pela Clearing Union.


 


Keynes pretendia impedir os movimentos de capitais de curto prazo. Estava convencido de que o dinheiro internacional, pela experiência dos anos 20, tinha de ser administrado publicamente; não seria prudente deixar aos mercados a tarefa de prover liquidez e regular o ajustamento dos países que porventura tivessem um déficit na balança de pagamentos.


 


Para os reformadores de Bretton Woods, a estabilidade do câmbio e dos juros era fundamental para a tomada de decisão de produção e de investimento numa economia capitalista. Esses são os dois preços-chave de uma economia capitalista porque “informam” a temperatura do ambiente em que os capitalistas são obrigados a tomar decisões.


 


A incerteza quanto aos movimentos da taxa de juros estimula o detentor de riqueza a manter o seu capital sob a forma líquida e o afasta da decisão de gastá-lo em equipamentos e estruturas de ferro e tijolo que só vão permitir a recuperação do dinheiro ao longo do tempo. A estabilidade da taxa de câmbio nominal é importante porque seu movimento informa qual é a conveniência de manter a riqueza na moeda local ou encarná-la no dinheiro mundial. Se, porventura, a taxa de câmbio real flutua sem parar ou está sobrevalorizada, a decisão de investir nas exportações ou na produção de bens que concorrem com as importações torna-se uma aventura perigosa que nem mesmo os espíritos animais podem encarar.