CUT e sindicatos fazem ato nesta quarta (9) contra censura

A CUT e os 23 sindicatos responsáveis pela Revista do Brasil promovem ato público nesta quarta-feira (09/8), em protesto contra a censura à publicação. O primeiro número da revista está proibido de circular desde 26 de junho, quando o ministro

A manifestação desta quarta, chamada de ''Ato pela liberdade de expressão'', começa às 12 horas, em frente à Prefeitura de São Paulo, na região central. Foram convidadas várias entidades que defendem a liberdade de imprensa e os direitos humanos. A imprensa internacional também foi avisada da tentativa de cerceamento à liberdade de expressão dos trabalhadores.


 


Nesta terça (8), os sindicalistas Luiz Cláudio Marcolino e José Lopez Feijóo, diretores responsáveis pela Revista do Brasil, divulgaram o artigo ''Querem acabar com a liberdade de expressão''. O texto, publicado originalmente na Agência Carta Maior e reproduzido pelo Vermelho, expressa o direito à livre opinião no país: ''Onde está escrito que o trabalhador não pode ter sua voz?''.


 


A publicação foi censurada a pedido da coalização neoliberal que lança Geraldo Alckmin à presidência da República. O bloco, marcadamente avessa à liberdade de expressão e às entidades sociais, classificou um amplo e denso trabalho jornalístico como mera ''propaganda política''. Produzida por 23 dos maiores sindicatos do país, a Revista do Brasil nasceu da fusão de outras revistas mantidas por algumas dessas entidades. Foi lançada em maio com tiragem de 360 mil exemplares – número de associados dos sindicatos.


 


Teor crítico
No primeiro número, lançado em junho, uma reportagem trazia dados e entrevistas com responsáveis por pesquisas de opinião, explicando por que, apesar de toda crise política, o presidente Lula continuava sendo o preferido dos eleitores brasileiros. A matéria foi contestada pela coligação tucano/pefelista.


 


Outra fonte de raiva direitista foi o texto sobre a tolerância da Assembléia Legislativa paulista com o governo do PSDB. O estado de São Paulo era o único a não sofrer nenhum tipo de fiscalização em sua Assembléia Legislativa. Durante toda a gestão de Geraldo Alckmin, houve 69 pedidos de CPI's arquivados. Até que, na quarta (2), decisão do Supremo Tribunal Federal mandou alterar a regra da casa e instalar comissões que tenham pelo menos um terço dos votos dos parlamentares – e não a maioria em plenário, como era antes.


 


Apesar da contundência da denúncia, o primeiro número da revista foi proibido de circular em qualquer meio de comunicação. A CUT foi multada em R$ 21 mil, num ofensivo ataque a seu direito de informar os trabalhadores brasileiros. No mesmo dia, os sindicatos e a central entraram com recurso para revogar a medida antidemocrática. A reação das entidades tem o apoio da ABI, que saiu em defesa da publicação e classificou a censura como uma ''exorbitância do TSE''.


 


Em entrevista à Agência Brasil, o presidente da associação, Maurício Azedo, aconselhou a CUT a entrar com representação no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir o direito à liberdade de expressão. ''A Constituição é clara quando diz que a lei não poderá constituir nenhum empecilho à liberdade de expressão do pensamento por qualquer meio de comunicação. O TSE cometeu um atropelo à Constituição'', afirmou Maurício Azedo, sem ressalvas.


 


A ótica do trabalhador
A disparatada decisão de Carlos Alberto Menezes será apreciada nas próximas sessões do TSE. Desse modo, os outros ministros do Tribunal terão a oportunidade de reverter a censura. ''Acredito que o TSE vá rever sua decisão'', declarou Daniel Reis, diretor de imprensa da CUT/SP. ''Não é possível que os trabalhadores sejam proibidos de manter uma publicação própria, que não tenham direito a contar o seu lado da história, como fazem os mais poderosos por meio da grande mídia.''


 


A Revista do Brasil, a caminho da terceira edição, pretende divulgar ''informação apresentada sob a ótica dos trabalhadores''. O segundo número da publicação, por exemplo, destaca a crise da Volkswagen, que pretende demitir mais de 6 mil funcionários no Brasil. Trata-se de mais um veículo para a classe trabalhadora expor idéias e se informar de modo crítico.


 


Os textos da revista se aprofundam um a um, na tentativa de contextualizar os leitores. Mas o bloco conservador alega que a divulgação da revista faz prática de conduta ilícita.  Algumas das matérias acabavam por ''ressaltar a suposta força eleitoral do atual presidente da República, ao informar que seu governo não desmantelou programas sociais e não privatizou direitos sociais e culturais'', segundo texto divulgado no site do TSE.


 


Que crime, afinal?
Se o argumento for válido, é preciso fechar praticamente todos os veículos da grande imprensa. A cada rodada de pesquisa de intenção de votos para as eleições de outubro, é notória a força nas camadas mais pobres de Lula, candidato à reeleição. Esse potencial não é gratuito. Analistas políticos, donos dos institutos de pesquisas e até jornalistas do establishment reafirmam justamente o peso dos programas sociais na predisposição do eleitorado.


 


PSDB e PFL citam nominalmente a matéria de capa (''O segredo de Lula'') e ''Pavor de investigação'', sobre as CPIs barradas na Assembléia. Apontam uma suposta ''panfletagem eleitoral'' em favor de Lula e ''propaganda negativa'' em relação ao candidato Geraldo Alckmin. Uma vez que a base de sondagem são os trabalhadores, nada mais natural do que a preferência por um candidato egresso desse mesmo meio, cujo governo valorizou o salário mínimo, aumentou os índices de empregos formais e ainda legalizou as centrais sindicais. Interpretações e análises políticas não podem ser confundidas – como fez o TSE – com propaganda eleitoral.


 


''Revistas como Época, IstoÉ e principalmente a Veja fizeram capas extremamente ofensivas ao presidente da República, ao Partido dos Trabalhadores'', reforça José Lopez Feijóo. ''E, muitas vezes, fazem isso em relação aos sindicatos e aos trabalhadores, e são tratadas dentro dos parâmetros da liberdade de imprensa''.


 


Da Redação, com agências


 


Leia também: Por que a ''Revista do Brasil'' foi censurada? (artigo)