Datafolha: 47% dos brasileiros dizem ser de direita
Pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (13/8) revela que 47% do eleitorado brasileiro se define com sendo de ''direita''. Outros 23% de ''centro'' e 30% de ''esquerda''.
Publicado 13/08/2006 13:26
Apesar de menos da metade se definir como de ''direita'', é esmagadora a maioria que adota posições geralmente associadas ao conservadorismo, como a condenação ao aborto, às drogas e a defesa de medidas mais duras de combate ao crime.
A pesquisa mostra que são contra a descriminalização da maconha 79%. Do aborto, 63%. Outros 84% defendem a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e 51% querem a instituição da pena de morte.
Os percentuais gerais acima não diferem muito mesmo isoladamente em cada um dos grupos de eleitores (''direita'', ''centro'' e ''esquerda''). Exemplo: entre os que se dizem de ''esquerda'', 87% (mais do que a média) são favoráveis à redução da maioridade penal.
Em alguns temas, como aborto, drogas e pena de morte, os eleitores mais jovens se mostram até um pouco mais conservadores que os mais velhos.
No geral, também são pequenas as diferenças de opinião entre os eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Geraldo Alckmin (PSDB). Os simpatizantes ao tucano são ligeiramente mais conservadores apenas em relação à maioridade penal e à pena de morte.
Tendência mantida
A pesquisa, feita na semana passada, ouviu 6.969 eleitores pelo país. Comparados aos resultados de levantamentos semelhantes nos últimos anos, os dados mostram que o perfil conservador do eleitor permanece forte desde a década de 90.
Para o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, embora boa parte do eleitorado não consiga discernir exatamente o que vem a ser ''esquerda'' ou ''direita'', o posicionamento mais conservador do brasileiro ''faz sentido''.
''Há elementos culturais que mudam com muita dificuldade no Brasil. Entre as pessoas menos sofisticadas, a busca de ''soluções simples'', como a redução da maioridade penal, têm muitos atrativos'', afirma.
Walter Maierovitch, ex-secretário nacional antidrogas no governo FHC e especialista em assuntos de segurança, vê nos resultados da pesquisa ''uma falta de informação generalizada'' entre a população.
''O brasileiro é muito mal informado sobre esses temas polêmicos e geralmente acaba se alinhando com posições que emanam dos EUA, onde essas discussões são mais profundas e conservadoras'', diz.
O cientista político norte-americano David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, concorda. ''A televisão é a grande fonte de informação do brasileiro. O imperialismo cultural e de costumes norte-americano, que ficou muito conservador nos últimos 20 anos, é uma forte referência.''
Newton Bignotto, professor de filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais, afirma que os resultados contraditórios da pesquisa atestam ''a cacofonia da sociedade brasileira''. ''Causa perplexidade a desconexão entre a percepção sobre os costumes, os costumes de fato e a cultura política.''