Sem Lula, oposição faz debate morno e sem novidades

Seguindo orientação de seus coordenadores de campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu ontem ao debate entre os candidatos à presidência da República promovido pela TV Bandeirantes. Como era de se esperar, a ausência de Lula foi c

O mediador do debate, o jornalista Ricardo Boechat, afirmou na abertura do primeiro bloco que o presidente havia comunicado à Bandeirantes que não compareceria. Uma cadeira vazia assinala, na bancada dos presidenciáveis, a notável ausência do candidato petista.




No primeiro bloco, Boechat fez uma pergunta comum aos cinco participantes: que escolhessem entre desejos dos eleitores como ''mais emprego, mais educação, mais saúde e menos corrupção'' e indicassem soluções concretas, de preferência originais, como primeiras medidas de seu governo.




Luciano Bivar, do PSL, disse que, para dar emprego, é preciso formalizar a classe trabalhadora com ajuda da reforma tributária. Segundo ele, com o imposto único em cima de uma alíquota de 1.7% os impostos federais que prejudicam a geração de empregos seriam substituídos.




O candidato tucano Geraldo Alckmin fez suas primeiras críticas ao adversário Lula: ''Nossa prioridade absoluta é resgatar a esperança. Sentimos a população desencantada com corrupção, desvio de dinheiro em ministérios, com má gestão'', afirmou. Alckmin estabeleceu duas ''prioridades absolutas'': um projeto nacional de desenvolvimento com emprego, renda e trabalho e a qualidade da escola pública. Exatamente as mesmas bandeiras defendidas como prioridade pelo governo Lula.


 


Instado por Eymael a explicar a crise de segurança sob os 12 anos de gestão tucana em São Paulo, Alckmin saiu pela tangente: lamentou “a ausência do Lula, que deveria prestar contas de por que se omitiu na questão da segurança pública”. Desviou-se de sua responsabilidade culpando a “omissão federal” no controle da entrada de armas e drogas pelas fronteiras, na falta de liberação de verbas e na ausência de reformas de leis federais.


 


Sem ser confrontado diretamente pela candidata do PSOL, Alckmin escapou de ter que dar explicações sobre as dificuldades de se instalar CPIs durante sua gestão à frente do governo paulista e sobre os resultados ruins de São Paulo em áreas como educação e saúde.




Cristovam Buarque voltou a destacar a educação, segundo ele, ''o único dos problemas que é solução para os outros, o único meio de fazer a revolução''. ''Violência tem a ver com falta de educação'', disse, prometendo, se eleito, contratar 400 mil professores e 30 mil operários para construírem as escolas.


 


A insistência do candidato do PDT no tema educação foi observada por jornalistas que participaram do debate e qualificaram Cristovam como ''candidato de uma nota só''.




José Maria Eymael, do PSDC, afirmou que ''o Brasil vive hoje luta do mal contra o mal''. O mal do governo FHC, que aumentou a carga tributária e produziu desemprego, e o mal do governo atual, que, segundo ele, além de copiar o anterior, retirou a esperança da população. ''Minha proposta central é transformar Estado de senhor em servidor'', disse, repetindo o bordão da campanha. ''O primeiro objetivo é fazer esse país crescer''.




A candidata do PSOL, Heloísa Helena, foi a primeira a mencionar a ausência de Lula, com ''tristeza e indignação''. ''Não aceito que a arrogância o faça pensar que é maior do que os outros candidatos, porque ele não é''. Usando sua conhecida verborragia, Heloísa citou a ''roubalheira do seu governo'', referindo-se a Lula, e disse que dois setores irão perder, se ela for eleita: os banqueiros e os políticos corruptos.


 


Heloísa Helena tentou focar sua participação em temas ligados à economia, como combate aos juros altos e política fiscal, mas, na avaliação do jornalista Franklin Martins, ela não conseguiu sair do lugar comum ao travar este debate e não conseguiu explicar como fará as ''mudanças profundas'' que tem prometido. 


 


A senadora frisou, na maior parte de suas falas, que os principais problemas do país, sobretudo na área de segurança, são heranças dos governos ''do PT e do PSDB''. 




Foram convidados os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL), Cristovam Buarque (PDT), José Maria Eymael (PSDC) e Luciano Bivar (PSL).




Segundo a emissora, o número de participantes do debate, que excluiu o candidato do PCO, Rui Pimenta, foi decido em acordo entre os assessores dos partidos durante as reuniões preparatórias do evento.




O debate tem cinco blocos, com mediação do jornalista Ricardo Boechat. No quarto bloco, participam também com perguntas os jornalistas Franklin Martins, José Paulo de Andrade e Joelmir Beting.


 


A audiência do debate foi de 5,8 pontos (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande SP), menor que a audiência média de programas como Pânico na TV (Rede TV), Programa Raul Gil (Bandeirantes) e Thimoty Vai à Escola (TV Cultura). Para efeito de comparação, o Jornal Nacional, da rede Globo, tem em média 40 pontos no Ibope. 


 


O blog do jornalista Ricardo Noblat, do Estadão, um dos que acompanham com mais ênfase os acontecimentos políticos do país, qualificou assim o  debate de ontem: ''Alckmin foi um tecnocrata eficiente de sempre – e portanto excessivamente cerebral e chato. Eymael foi um tsunami de adjetivos dispensáveis e de poucos substantivos – quase todos inócuos. Cristovam foi o pastor de uma nota só. Bivar… o que foi bem Bivar? Não faço idéia. Heloísa foi a única que falou com emoção e que pode ter despertado os sonolentos. E ponto final.''


 


Da redação,
Cláudio Gonzalez