Israel sofre derrota e crise prossegue no Oriente Médio

Finalmente, depois de 33 dias de massacre e genocídio, de crimes contra os direitos humanos e desmedidas violações do direito internacional perpetrados pelos agressores israelenses com o apoio do imperialismo norte-americano, o Conselho de Segurança da ON

A exigência de que tivesse fim o holocausto do povo libanês era um clamor de toda a humanidade. A morte de mais de mil civis, as fugas em massa de cerca de um milhão de pessoas, a destruição de hospitais e escolas, que constituíram o doloroso cotidiano do Líbano durante mais de um mês ficarão indelevelmente marcados na história como sinais de uma época em que a guerra de agressão foi escolhida como o método pelo qual os poderosos impõem a sua vontade às nações mais vulneráveis.


 


São sempre válidas medidas adotadas no terreno político e diplomático para evitar que essa tendência prevaleça e interromper o sofrimento de um povo, como é válido tudo o que outros países realizem no âmbito das Nações Unidas, no sentido de impedir que os Estados Unidos decidam sobre os destinos da humanidade e imponham sua concepção de ordem mundial, impregnada de ameaças para todos os povos e nações independentes. Por esta razão, foi bem recebida pelas forças progressistas em todo o mundo a decisão do Conselho de Segurança sobre o cessar-fogo. É uma vitória de todos aqueles que na vastidão do Planeta, se manifestaram nas ruas contra as brutalidades da aviação e do exército israelenses.


 


A Resolução sobre o cessar-fogo resultou principalmente da tenacidade e do heroísmo com que a resistência nacional libanesa resistiu à agressão israelense e rechaçou os invasores. Apesar de todo o sofrimento infligido ao povo libanês, da infinita superioridade tecnológica dos agressores e de todo o apoio político que lhe foi brindado pelo imperialismo estadunidense, Israel foi derrotado. Os sionistas e seus patronos estadunidenses retardaram ao máximo a decisão sobre o cessar-fogo porque supunham que quando este fosse politicamente inevitável, seu inimigo já estaria batido e seu objetivo de reconquistar o sul do Líbano consolidado.


 


Foi todo o contrário o que ocorreu. O cessar-fogo tornou-se possível na medida em que inevitável era a derrota israelense. Não se sabe ao certo quantas perdas humanas e materiais os agressores israelenses terão infligido às forças da resistência nacional libanesa, entre estas o Hezbollá e os comunistas libaneses, que registram vítimas dessa guerra em suas fileiras. Mas todos os observadores são unânimes em asseverar que a milícia árabe continua capacitada a novos combates e sai dessas refregas politicamente fortalecida. A tal ponto que o vetusto e conservador O Estado de São Paulo, em editorial de ontem, chega a afirmar que “só o profeta Maomé é mais venerado do que Nasrallah, o número 1 do Hezbolá”. Para Israel, esta foi uma guerra inútil. Seus esbirros não conseguiram libertar os prisioneiros de guerra feitos reféns em 12 de julho, seu território foi atacado pelos Katiusha em resposta aos bombardeios de sua aviação, seus soldados perderam os combates terrestres, ocorrendo muitas baixas. Em decorrência, o governo foi desmoralizado e abriu-se uma crise política.


 


Em todo o mundo árabe, convivem o luto pelas perdas de vidas sob as bombas israelenses e um sentimento de orgulho nacional por sentir-se capaz de enfrentar e abater o agressor, o que dá novo impulso a toda a luta nacional árabe e palestina, pelo Estado nacional palestino, pela desocupação do Iraque e contra as tentativas de desestabilização da Síria.


 


Se tem aspectos positivos porque determina o cessar-fogo, a Resolução 1701 contém alguns aspectos contraditórios. Não é correto estabelecer uma equivalência entre a retirada das forças israelenses do sul do Líbano e o desarmamento e desativação da milícia Hezbolá. A presença de tropas israelenses no Líbano fere a soberania nacional deste último e nessa medida constitui violação flagrante do direito internacional, ao passo que o modo de lidar com a milícia do Hezbolá é uma questão que o próprio Líbano tem condições de resolver. Quanto à presença de tropas sob comando da ONU, precisaria corresponder a uma necessidade explicitada pelos órgãos de soberania do Líbano (governo e parlamento) e cingir-se ao estrito objetivo de resguardar o território libanês da presença de forças estrangeiras.


 


O cessar-fogo determinado pelo Conselho de Segurança da ONU não encerra a crise no Oriente Médio, porquanto não foram atacados os fatores que a determinaram. Enquanto não forem resolvidas a questão palestina e a questão iraquiana, e a situação na região continuar sendo pautada pelo plano de “reestruturação” da Administração Bush e pelos interesses expansionistas de Israel, não haverá paz na região.


 


De todo modo, espraia-se a sensação de que o Oriente Médio não é mais o mesmo depois da derrota israelense na guerra dos 33 dias. E o que mudou é o sentimento de que nem Israel nem seus patrões imperialistas são invencíveis. E isto ajuda, e muito, a luta antiimperialista.