PC Libanês: A Resolução vai mesmo cessar a agressão israelense?

O Partido Comunista Libanês, em sua página na internet, colocou em dúvida a validade da Resolução 1701, da ONU, que estabeleceu um cessar-fogo no Líbano após um mês de agressão israelense ao país. O PCL aponta incongruências e duvida que os países agresso

Um mês e um dia após o começo da agressão americano-israelense contra o Líbano, após seu fracasso e sua incapacidade para atingir seus objetivos, após a repetida utilização pelos EUA de táticas de procrastinação, atrasando sessões previstas do Conselho de Segurança, e após numerosos rascunhos propostos pelos americanos e a seguir retocados pela França, foi o campo de batalha no sul do Líbano e a nobre resistência que impuseram uma nova realidade até agora desconhecida para Israel em toda a sua longa história de batalhas na região e as suas guerras bem conhecidas.


 


Após ataques e retiradas em várias aldeias no sul, depois de o inimigo apregoar ter vencido alguma tipo de vitória ou atingido algum objetivo, a poeira baixou e é óbvio que o campo continua nas mãos da Resistência Islâmica, que se defendeu, resistiu e infligiu perdas e baixas militares ao inimigo ocupante. Esta realidade esgotou as desculpas dos EUA, o seu armazém de táticas dilatórias e o seu tempo.


 


O que se verifica no campo de batalha resultou num crescente número de fissuras, diferenças e interpretações variadas em muitos lados — dentro do Líbano, entre israelenses, entre a Europa e os Estados Unidos — o que misturou as cartas. Diplomatas trabalharam intensamente até aprovar a Resolução 1701, anunciada hoje (sábado 12 de agosto) contra o pano de fundo da decisão do governo israelense de expandir o âmbito das suas operações militares terrestres no sul até o rio Litani, operações que são militar e politicamente desconcertantes dentro de Israel.


 


Podemos dizer que a resolução do Conselho de Segurança foi emitida de forma a permitir à comunidade internacional recuperar o fôlego na batalha furiosa, permitir fazer uma reavaliação calma, não só em termos dos desenvolvimentos mais recentes nos campos de batalha como também em termos dos desenvolvimentos políticos mais recentes, e as transformações que têm lugar (nas posições dos estados árabes e a posição interna libanesa, por exemplo).


 


A Resolução, portanto, foi o resultado da firmeza das forças da resistência e do povo. A questão agora é: será implementada de forma séria? Será encarada como um primeiro passo ou uma trégua temporária? Muitas questões poderiam ser levantadas se examinassemos profundamente cada parágrafo da resolução que finalmente emitida.


 


Mas é demonstrável que um acordo sobre esta resolução não teria sido alcançado se todos os meios disponíveis para Israel a fim de mudar a realidade no campo de batalha não tivessem sido esgotados, e se não houvesse mudanças nas posições de várias parte (da França, vários grupos no Líbano, nos estados árabes, e a mudança de uma posição de conceder legitimidade à agressão para a de abraçar a resolução de ontem [redigido em 12 de Agosto] do Conselho de Segurança).


 


Apesar disso, podemos ver que há muitas minas espalhadas sobre o “campo” desta Resolução, que não cumpre as exigências mínimas libanesas apresentadas nos sete pontos que o governo libanês aprovou unanimemente, apesar de partes deles terem sido extraídos e inseridos.


 


O acordo excluiu a exigência de Israel ser levado a julgamento à luz do direito internacional pela selvageria da sua agressão contra o território e o povo do Líbano. Ao invés disso, o acordo condenou o Hezbolá como o “instigador” do combate, ignorando os crimes de Israel e os seus atos de agressão contra o Líbano.


 


O acordo não incluiu um apelo a cessar fogo imediato e sim a uma cessação de operações militares. Isto significa que foi deixada aberta a porta para Israel e o seu exército ajustarem-se à resolução e tomarem quaisquer passos militares que considerarem adequados à necessidades conjuntas israelenses-americanas.


 


No acordo, os EUA fazem um recuo táctico temporário, após o fracasso da agressão e da sua incapacidade para atingir seus objectivos, numa tentativa de criar uma situação onde possa apoderar-se do que está a perder e por em jogo algumas das suas cartas bem conhecidas, tais como a situação interna libanesa.


 


A resolução ignora a questão dos prisioneiros; deixa o assunto da área dos campos de Shabaa fora de discussão, possivelmente com o objetivo de utilizar isto posteriormente em acordos com com atores regionais.


 


É de se notar que todo ponto na resolução que é do interesse do Líbano é um ponto preparatório, uma declaração acerca de alguma coisa para a qual os assuntos estão a ser preparados; ao passo que todo ponto que é do interesse de Israel é um ponto para implementação real.


 


Muito pode ser dito acerca da resolução, mas em qualquer caso este acordo não teria sido alcançado se não fosse pela contínua, esplêndida e patriótica firmeza popular; se não pela corajosa resistência que mais uma vez afirmou que o Líbano com a sua resistência patriótica e islâmica e a firmeza do seu povo, e com o alinhamento de todas as forças democráticas e patrióticas em torno da resistência, não pode ser transformado numa arena para o esquema americano para a região. O Líbano não será tornado um ponto de lançamento do “Novo Oriente Médio”; o Líbano será unicamente um lugar de firmeza, patriotismo e identidade árabe, pouco importando quais os sonhos que alguns possam entreter acerca da sua transferência da orla árabe para a orla americana.


 


Até o momento, todas as tentativas internacionais de implementar a resolução fracassaram. Tem sido igualmente um fracasso todas as tentativas de atingir qualquer objetivos da agressão americana-israelense além daqueles de matar as mulheres, crianças e pessoas inocentes que pagaram o preço deste ódio neo-nazi.


 


As tentativas de alguns integrantes das forças do 14 de março (movimento que surgiu após o atentado que vitimou Rafik Hariri, nota da redação) — incluindo Saad al-Hariri, que fugiu de Beirute num helicóptero francês, com permissão americano-israelense, tentando passar-se por um salvador político, espalhando a idéia de que a solução veio devido aos seus esforços incansáveis no exterior ao longo de todo o período da agressão — serão inúteis a menos que aceitemos o princípio de uma conferência nacional na base de que o Líbano obteve uma vitória sobre o esquema americano-israelense e que devemos trabalhar rapidamente e com todo o nosso poder elevar o nível das nossas responsabilidade e utilizarmos esta vitória politicamente, a fim de dar um passo em frente rumo à construção de um estado de direito e institucional, livre de nomeações por confessionalismos políticos e acima de interesses sectários estreitos.


 


O povo e a resistência do Líbano mostraram a sua poderosa vontade de aço. Devemos agora frustrar todas as tentativas de esvaziar e diminuir esta vitória patriótica do seu conteúdo nos níveis militar, político, econômico e social. Nossa tarefa central deve ser fortificar e reforçar a unidade nacional libanesa, impedindo qualquer infiltração, reforçando a confrontação legítima com o esquema americano-israelense em andamento contra a nossa pátria.


 


Partido Comunista Libanês, 12 de agosto de 2006


 


O original (em árabe) encontra-se em http://www.lcparty.org/120806_1.html . A tradução em inglês encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/lcp120806.html