Ombudsman critica matéria que insinua elo entre PCC e PT

“O caso, tal como aparece na Folha, me pareceu mal contado e faltou ao jornal apurar melhor”, escreveu Marcelo Beraba, em sua análise diária. Trata-se de um caso importante, diz ele, pois “mistura criminosos e partidos políticos às vésperas de uma elei

O jornalista Marcelo Beraba, ombudsman do jornal Folha de São Paulo, criticou vários elementos da matéria publicada quarta-feira (23) sobre um suposto elo entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o PT, qualificando-a como uma história mal contada e sem questionamento por parte do jornal. Na matéria intitulada “Polícia apura se há elo entre PCC e petistas”, a Folha afirma que tinha desde julho a fita em que criminosos do PCC, em 12 de maio, orientariam ações contra políticos, especificamente contra os do PSDB, e ordenariam que os do PT fossem preservados. O jornal disse que só publicou o material depois que tomou conhecimento que a polícia abriu inquérito para apurar o suposto elo entre o PCC e o PT. Beraba diz que o fato de haver inquérito policial torna o caso público e justifica a divulgação. Mas indaga: por que não publicou antes? “O caso, tal como aparece na Folha, me pareceu mal contado e faltou ao jornal apurar melhor”, escreve o ombudsman, em sua análise diária disponível na internet.


 


Marcelo Beraba apontou o que considerou “inconsistente por parte da polícia e do governo de São Paulo e sem questionamento do jornal: “A polícia sabe desde 12 de maio dos planos do PCC contra o PSDB e de preservar o PT. O governador e vários deputados do PSDB tomam conhecimento das ameaças já no dia seguinte, com a polícia mobilizada para dar segurança. Mas, segundo o jornal, só “recentemente” a Secretaria de Administração Penitenciária recebeu as fitas e as repassou para a Secretaria de Segurança Pública. A polícia sabia desde o início, mas a Secretaria de Segurança não sabia? Segundo a reportagem que segue na página C4 (“Segurança de políticos foi reforçada”), “delegados ligados ao secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, se encarregaram de avisar os deputados sobre os riscos”. Mesmo assim o Secretário só foi tomar conhecimento “recentemente” e só agora abriu inquérito?”


 


A Folha de São Paulo não informa quando o inquérito foi aberto, acrescenta Beraba: “se foi só “recentemente”, depois de a fita ter sido entregue pela Secretaria de Administração Penitenciária à Secretaria de Segurança, por que a polícia levou tanto tempo para tomar uma providência legal de investigação se já tinha conhecimento desde maio do teor das fitas?” – indaga. O jornalista prossegue em sua análise da matéria: “Se o inquérito foi aberto há mais tempo, já naquela época, a notícia deveria ter sido, passados três meses e meio, o resultado do inquérito – confirmando os vínculos do PT com o PCC ou comprovando que não há vínculo – , e não a sua abertura. O que a polícia fez nestes meses todo em relação ao caso? Segundo o jornal, só agora, passados três meses e meio, a polícia deverá ouvir os dois criminosos flagrados nas gravações. Por que não foram ouvidos antes? Não deveria ter sido a primeira providência da polícia? As gravações foram feitas por uma “autoridade da região oeste de SP”. Nunca vi uma definição assim; se a gravação era legal e foi aberto inquérito policial, por que o jornal omite o cargo da autoridade?”


 


O ombudsman também questiona o contato que o jornal estabeleceu com a direção do PT: “No espaço em que tenta ouvir o PT (“Presidente do PT paulista não comenta o caso”), o jornal informa que o partido só se dispôs a responder ao repórter se obtivesse respostas para sete perguntas, “entre as quais sobre a fonte de informação do grampo”. Ora, se já há inquérito policial aberto conforme o jornal noticia, a fonte é o inquérito policial. Não há mais segredo, suponho. Ou não?” Beraba conclui que “a história está até agora cheia de buracos” e que “os bastidores levantados pela Folha até aqui não ajudam a entender o que está acontecendo”.


 


Ele lembra, por fim, “para as dificuldades que a imprensa tem por desconhecimento, de questionar os procedimentos de investigação das polícias”. Trata-se de um caso importantíssimo, ressalta, “porque mistura criminosos e partidos políticos às vésperas de uma eleição; tal como aconteceu em 89 com o seqüestro de Abílio Diniz”.


 


Ele considerou o comportamento da Folha correto ao esperar a instauração do inquérito para noticias, mas errado “ao não questionar as falhas gritantes nos procedimentos da polícia e das secretarias estaduais envolvidas e demonstra dificuldades para levantar os bastidores políticos que norteiam o caso”. Se por um lado, prossegue, o jornal “demonstra cautela, no meio dos textos, com o uso eleitoral da informação”, “a própria publicação (da matéria) e os títulos escolhidos na primeira página e internamente já colocam o caso no centro do debate eleitoral em São Paulo”. “Cabe à Folha agora continuar a apuração com o objetivo de esclarecer se existe ou não elo entre o PCC e o PT. É evidente que só as gravações não são suficientes para provar que existe”, conclui Marcelo Beraba em sua análise da matéria.


 


Fonte: Agência Carta Maior