Para governador de São Paulo, Lula vence no 1º turno

O governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL) “não vê condições” de um segundo turno na eleição presidencial, pois “o Geraldo [Alckmin] está numa posição muito complexa porque a diferença entre ele e Lula é muito grande”. E diz para “não dar importância”

Terra Magazine: Governador, peço que senhor nos diga como percebe a sucessão presidencial hoje. Qual sua expectativa?



Cláudio Lembo: Eu creio que poderá haver uma mudança sim, se acontecer um fenômeno muito especial. Nesse momento creio ser bastante difícil uma vitória do candidato da oposição.
Do Geraldo Alckmin?



O próprio Geraldo…ele está numa posição muito complexa porque a diferença entre ele e Lula é muito grande. A não ser que aconteça um episódio totalmente inusitado.



Quantos anos o senhor tem na política?



Ah… mais de 40.



Com a sua experiência, o senhor imagina que haveria segundo turno ou nem isso?


 
No dia de hoje não. Não vejo condições de haver segundo turno nesse momento. Principalmente em razão da popularidade do governo. Uma coisa incrível face a uma comparação com os governos anteriores.



A eleição, então, praticamente hoje está…


 
É um momento difícil hoje para a eleição. Acho que nós estamos indo para a definição num primeiro turno.



Há um assunto que passa pelo seu Palácio, que passa pela sua mesa, que pareceu uma tentativa de politizar a crise policial, criminal de São Paulo. O que aconteceu? Existiram conversas de bandidos? O senhor teve acesso a conversas de bandidos? (NR: Em fitas gravadas pela polícia criminosos falam em atacar “políticos do PSDB…e não do PT”) O senhor teve informação de que isso existia? Me parece que havia uma escalada, uma preparação para algo…



Eu diria que realmente houve documentos dos bandidos…



Dizendo o quê?



No começo da minha chegada aqui… 12 de maio, 13 de maio (NR: quando eclodiu a crise em São Paulo)… o secretário Nagashi, ex-Secretário de Administração Penitenciária, chegou a me apresentar um documento que era uma carta entre presos que falavam o nome de partidos. Posteriormente surgiram outros sinais desse tipo, mas coisas muito pequenas, muito tópicas. Uma, duas cartas. Eu diria a você que dentro de presídios devem ter representantes de todos os partidos, desse, daquele… Portanto, não dêem importância a isso.



O senhor acha que não há nada concatenado, para ser objetivo, com o que saiu nas últimas horas, que existiria um plano para atacar políticos, menos os do PT?



Eu diria que pode muito bem ter presos que queriam isso, mas não creio que seja uma posição coletiva desse ou daquele grupo de má vida, do crime organizado.



O senhor acha que isso é um tema que deveria freqüentar dessa forma a sucessão?



Não, de maneira alguma. Nós temos que tratar a sucessão com um grande cuidado. Deve ser feito um processo democrático, o processo democrático tem que ser sempre preservado, e ter limites de comportamentos.



Em que nível se deu e até onde se deu, agora, a federalização – ou a concatenação do estado de São Paulo – no combate à criminalidade?



Muito bem, vai muito bem. Nós tivemos grandes diálogos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua equipe de governo. Eu creio que nós temos hoje uma interação total entre as tropas da PM paulista e o Exército, e também com a Polícia Civil e a Polícia Federal. Portanto, vai bem.



Mas sem a presença, como o senhor queria, de tropas federais no estado. (NR: O governador é contrário a tropas do exército nas ruas de São Paulo).



Não… eu sempre achei desnecessário tropa do exército ou de qualquer outra força nas ruas de São Paulo. Nossa Polícia Militar é muito competente e daria conta do recado, porém a inteligência do Exército e a inteligência da Polícia Federal estão usando continuadamente e usávamos naquela ocasião. Porém, agora, a integração é muito mais forte.



Uma última pergunta. O senhor que para sua cadeira já há um sucessor também? Ou é algo ainda de se ver?



Eu creio que nós estamos muito próximos de ver o José Serra Governador de São Paulo. Ele tem números muito bons nas pesquisas e o discurso dele em São Paulo tem uma boa veiculação. Será o Serra.



Por fim, para terminar, da última conversa que tivemos aqui no 18 de maio, daquelas referências… O senhor se arrepende de mencionar uma “elite branca, má e cruel”?



Não, não, pelo contrário, acho que foi bom para que a própria elite branca tenha consciência do resultado de sua ação nos 500 anos. Todos nós temos que ter consciência disso.



O PCC é um resultado disso…



Eu creio que o PCC e outras situações sociais extremamente degradantes são efetivamente o resultado de uma má visão do mundo que nós, da elite branca – e querem alguns que eu também seja, e eu sou – tratamos mal os problemas sociais.



Fonte: Terra Magazine