Pesquisa confirma parcialidade tucana dos grandes jornais

Uma pesquisa divulgada terça-feira (29) pelo Observatório Brasileiro de Mídia (OBM) avalia o espaço dado pelos jornais impressos aos quatro principais candidatos à Presidência da República. Os nomes de Lula, Geraldo Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam

Ao todo são 2056 menções, em reportagens, aos dois principais candidatos à Presidência. Geraldo Alckmin responde por 798 delas, sendo que 544 menções são positivas ou neutras, e 254 são negativas.


 


Já Lula, como “candidato”, é citado 1.258 vezes nas matérias avaliadas, sendo que 439 citações são positivas e 740, negativas. A pesquisa tem um índice semanal de avaliação das notícias positivas, negativas e neutras, que vai de 7 de julho a 25 de agosto.




O número de menções a Luiz Inácio Lula da Silva nas reportagens tende a ser maior, por ele ser presidente da República. Segundo Kjeld Jakobsen, membro do Observatório de Mídia, Lula não deve reclamar da falta de espaço na imprensa, mas do tipo de atenção que recebe. “Ele é o alvo da mídia, justamente por ser presidente e ter origem de esquerda”, analisa.




Os dados permitem dizer que, no total, o Lula “candidato” tem 47,30% de notícias negativas e 52,70% de notícias neutras ou positivas na imprensa, no período avaliado. Já Alckmin tem um saldo maior de menções positivas ou neutras: 68,18% de todas as reportagens avaliadas. As citações negativas endereçadas ao candidato correspondem a 31,82% do total.




Para Jakobsen, os dados refletem a preferência da grande imprensa por Geraldo Alckmin, que é do PSDB. Ele cita três veículos em que considera existir apoio explícito à candidatura tucana: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo.



Na sua opinião, “um meio de comunicação pode apoiar este ou aquele candidato. Mas nenhum dos três deixa explícito aos leitores quem apóia, seja em editoriais ou outros espaços”. Para Jakobsen, que preside o Instituto Observatório Social, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), esta prática da imprensa prejudica a democracia.




“Houve casos de eleições em que a ajuda da mídia literalmente levou candidatos ao poder, como foi o caso do ex-presidente Fernando Collor de Mello”, diz ele. Mas hoje, em sua opinião, esse impacto se reduziu porque a população tem mais esclarecimento quanto à política e eleições do que possuía há 18 anos.




Jakobsen acredita que os meios de comunicação impressos perderam a capacidade de mudar os resultados de uma eleição, “ao contrário da televisão e do rádio, que ainda pautam muitos eleitores”.


 


O especialista, porém, descarta que haja uma “guinada à esquerda” por parte das emissoras de TV que demonstram imparcialidade ou apoio a Lula. “Os proprietários dos grandes meios impressos são conservadores, e eles também dominam as emissoras de rádio e televisão, como é o caso do Globo”.




Os gráficos fornecidos pelo OBM diferenciam o “candidato” Lula do “presidente” Lula. A pesquisa em termos relativos para cada semana aponta que, em média, o “presidente Lula” têm o mesmo número de notícias negativas (49,50%) que as neutras e boas somadas (50,50%). Ou seja, há um equilíbrio na imprensa entre “bater” e “elogiar”, ou “não maltratar” o presidente.




Porém a “condescendência” com seu principal adversário, Alckmin, é maior se avaliada por este ângulo: ele tem 72,29% da soma de notícias positivas (41,29%) e neutras (31%) a seu respeito, enquanto as notícias negativas sobre o tucano, que esteve à frente do governo de São Paulo por seis anos, correspondem a 27,71% do total.




Outros candidatos



No que tange as reportagens positivas, os candidatos Geraldo Alckmin e Heloísa Helena são os “queridinhos” da grande imprensa.


 


Em nenhum momento as menções negativas superam as positivas no caso de Heloísa Helena, que é citada positivamente em 56,76% das reportagens publicadas entre os dias 11 e 18 de agosto.


 


Já Alckmin aparece bem em 41,86% das reportagens no mesmo período. É no momento imediatamente posterior ao dia 18, medido até o dia 25 de agosto, que o candidato recebe o maior número de reportagens negativas – 57,65%, de acordo com a pesquisa do Observatório de Mídia.




“Com certeza as notícias negativas surgem porque a campanha dele vai mal”, diz Jakobsen. Ele menciona a falta de apoio que Alckmin têm do candidato ao governo do Ceará, Lúcio Alcântara, como um exemplo. “Essa é uma reportagem reproduzida por todos os jornais, péssima para o candidato tucano”, explica.




Para ele, o reduzido número de reportagens sobre Heloísa Helena e Cristovam Buarque leva o foco das citações para as propostas de governo e outras menções positivas.


 


A melhor avaliação de Cristovam Buarque foi feita entre 11 e 18 de agosto, quando atingiu 66,67% de boas menções na imprensa. Já a semana entre 21 e 27 de julho inverteu a lógica: as notícias negativas sobre ele foram de 52,63%, bem maiores do que na semana anterior, quando eram 28,57%.




Criação



O Observatório de Mídia teve sua primeira pesquisa elaborada em 2004, “sob caráter experimental” nas palavras de Jakobsen, para as eleições da prefeitura de São Paulo. Na época, foram analisadas reportagens sobre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, de forma similar à que hoje se configura para as eleições de presidência da República.




Criado formalmente no Fórum Social Mundial, em janeiro de 2005, o OBM terá uma atuação permanente a partir deste ano, segundo o especialista.


 


“Queremos avaliar a forma como a mídia impressa trata temas relevantes, como a educação, a saúde e o trabalho”, diz Jakobsen. Ele explica que a metodologia desenvolvida pelo Observatório não pode ser aplicada às emissoras de televisão e rádio, “muito mais difíceis de acompanhar”.




Leia mais sobre a pesquisa na página na internet do
Observatório Brasileiro de Mídia.


 



Fonte: Agência Carta Maior