Amazônia possui base inédita de pesquisas

A Amazônia possui hoje uma das maiores experiências científicas do planeta na área ambiental. É o LBA (Experimento de Grande Escala da Biofera-Atmosfera na Amazônia), um robusto programa de estudos, liderado pelo Brasil, com cooperação científica inter

E graças ao LBA o país coleciona um acervo de conhecimentos inéditos da Amazônia. “Nunca antes tantas novas informações sobre essa região do planeta foram coletadas e sistematizadas num só programa de estudos”, destacam os organizadores do programa. Criado em 1998, o LBA envolve 281 instituições, 169 das quais estrangeiras, e envolve quase 2 mil pesquisadores de áreas diversas.


 



Além das instituições brasileiras (MCT, CNPq, Fapesp, Finep, entre outros), o programa é financiado por organismos internacionais. Entre eles destacam-se a Nasa (a agência espacial dos Estados Unidos), a National Science Foundation, a  Comissão Européia e o IAI (Instituto Interamericano de Pesquisas sobre Mudanças Globais).


 



As descobertas feitas pelos cientistas do LBA têm beneficiado direta ou indiretamente a Amazônia.  Na área ambiental, por exemplo, eles conseguiram comprovar que os desflorestamentos e as queimadas aceleram o efeito estufa, reduzem a radiação solar para fotossíntese das plantas em até 60%, devido à fumaça, alteram o mecanismo da formação de nuvens, e podem diminuir chuvas na Amazônia e em outras partes do país ou mesmo do continente.


 



Os cientistas do LBA também constataram que grandes concentrações de aerossóis das queimadas (e especialmente do carvão negro) na atmosfera, alteram os mecanismos de formação de nuvens na Amazônia, produzindo “nuvens frias”, que se desenvolvem em profundidade, formam gelo e descargas elétricas e podem não produzir chuvas na região onde são formadas.


 



Descobriu-se ainda uma forte relação entre a formação de nuvens na Amazônia e a ocorrência e distribuição de chuvas no Sudeste e Sul do Brasil, através dos mecanismos de jatos de baixos níveis na atmosfera, com implicações no caso dos continuados e extensivos desmatamentos na região. Os cientistas comprovaram que os impactos das mudanças do uso da terra e da cobertura vegetal (substituição da floresta por pastagens, cultivos agrícolas e, ainda mais claramente, pela urbanização) estão afetando a composição química das águas de pequenos rios amazônicos.


 



Chuvas ácidas


 



Os estudiosos do LBA fizeram outra grande descoberta.  Mostraram que liberação do nitrogênio da biomassa para o ar, nas queimadas, permite a formação de chuvas ácidas sobre áreas desflorestadas, com deposição de grande quantidade de amônia. Outra constatação é a de que a construção de estradas (muitas delas ilegais) e a extração seletiva de madeira permitem a chegada dos incêndios florestais em áreas anteriormente isentas de fogo. Esse mecanismo inaugura um processo de retro-alimentação que pode levar a novos incêndios nos anos seguintes, com a conseqüente degradação da floresta.


 



Outra contribuição importante do programa é a que permite o desenvolvimento e a criação de sistemas avançados de detecção de desflorestamentos e queimadas por imagens de satélite. Esses sistemas permitem não somente estimar a extensão e o impacto da extração seletiva de madeira, mas também a construção das estradas ilegais de acesso à floresta, em tempo quase real. A utilização desse sistema permite prontas ações de fiscalização e controle do desmatamento.


 



Para tudo isso acontecer, o LBA fez um forte investimento na infra-estrutura científica da Amazônia: instalou dezenas de novos sítios instrumentados de pesquisa, formou centenas de jovens cientistas e deu origem ao Sistema de Informações e Dados do LBA, chamado LBA-DIS, cujo acesso público é mantido pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe).


 



Políticas públicas


 



Apesar do interesse internacional no LBA, já que as mudanças na floresta amazônica podem afetar o clima mundial, o grande beneficiado do projeto é o Brasil. Tudo por que as novas informações obtidas têm potencial para influir na adoção de políticas públicas e de novas leis, que ajudem a manter a estabilidade hidrológica, a qualidade das águas, a biodiversidade e os demais serviços ambientais prestados pelos ecossistemas amazônicos.


 


Os dados do projeto ficam no país, e todas as atividades do LBA são monitoradas (até mesmo para ir a campo os pesquisadores estrangeiros são, por acordo, necessariamente acompanhados por cientistas brasileiros).  Hoje, um dos maiores desafios para o desenvolvimento da Amazônia é como conciliar a preservação da natureza com as necessidades sociais da região.


 



  Na Amazônia (no Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela) vivem 24 milhões de pessoas, e as soluções para desenvolvimento sustentável que permita a evolução social sem destruir o patrimônio natural começam a surgir a partir das pesquisas dos cientistas do LBA.



Fonte: Agência Amazônia