UFMG conquista sua nona patente internacional

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conseguiu sua nona carta-patente internacional, 10 anos depois de tê-la depositado no ''Patent Trademark Office'', nos Estados Unidos. A importância da concessão não se restringe ao reconhecimento da inovaç


 


    A patente obtida é de uma metodologia desenvolvida nos laboratórios do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e da Escola de Veterinária, em Belo Horizonte, para detectar o vírus da anemia infecciosa eqüina, doença grave e incurável, que atinge cavalos, jumentos, burros e mulas.


 


    Segundo o coordenador da pesquisa, professor Paulo César Peregrino, do ICB/UFMG, essa doença está para os animais como a Aids está para os humanos. O teste foi desenvolvido por meio da metodologia do DNA Recombinante, em que uma bactéria passa a produzir a proteína desenvolvida pelo vírus no hospedeiro. A presença de anticorpos contra o antígeno produzido pela bactéria comprova ser o animal portador da doença.


 


     Esse tipo de teste, que funciona por meio da detecção de anticorpos no sangue, é denominado Elisa, e tem sido ''muito usado em outros tipos de diagnósticos'', diz o professor Paulo Peregrino. Mas é a primeira vez que é testado para detectar a anemia infecciosa eqüina. ''No estudo que fizemos, foi possível produzir tanto a proteína para verificar se o animal tem a doença, quanto criar o método para detectar o anticorpo, indicativo da anemia infecciosa eqüina'', explica o professor.


 


    Endêmica, a anemia infecciosa tem vários focos no Brasil. Os principais estão no Pantanal Matogrossense, Roraima e Amazônia. Em Minas Gerais, as regiões mais atingidas são o Norte do estado e as divisas com Goiás, Bahia e Espírito Santo. No Boletim de Defesa Sanitária Animal do Ministério da Agricultura, divulgado na década de 1990, foram relatados 2,5% de positividade para os cerca de 215 mil animais em todo o país. O vírus da anemia infecciosa tem predileção por células do sangue (macrófagos e linfócitos) de defesa do organismo. Os primeiros sintomas do animal infectado são fraqueza, pouca resistência, febre, e falta de imunidade.


 


    ''É uma doença, que por ser infecciosa, pode ser repassada de animal para animal, por meio de um vetor, que pode ser uma mosca (mutuca), por exemplo. O exame para detectar esse tipo de doença é exigido, pelas normas brasileiras, toda vez que há o deslocamento de um animal. Exemplo disso é o caso dos rodeios, quando os animais são levados de um estado ou de uma cidade para outra'', explica Peregrino. Tanto a proteína quanto o método para o teste desenvolvidos pela UFMG podem ser usados em laboratórios sofisticados ou na cocheira de uma fazenda, pelo peão ou responsável que faz o manejo dos animais. ''Vai depender do interesse da empresa que quiser produzir industrialmente a proteína ou o método'', acrescenta Peregrino.


 


    Para ele, o grande ''achado'' de ter a patente internacional, reconhecida inclusive pelos Estados Unidos, é que a partir de agora o Brasil tem condições de fazer seus próprios exames. ''Quem quiser usar nossa técnica, vai ter que pagar royaltie para o Brasil. Estamos invertendo a posição que tínhamos de importar tudo. É a universidade pública dando seu retorno para a sociedade, sendo base para a pesquisa e formação de pessoas. Isso é o mais importante'', ressalta.


 


    O grupo do ICB, coordenado por Peregrino, é o mesmo que obteve a primeira patente internacional da UFMG, ao descobrir um tipo de proteína do grupo dos interferons, usados no tratamento da hepatite B e da esclerose múltipla.


 


UFMG lidera entre instituições federais


 


    ''Para nós foi motivo de alegria ter a patente reconhecida pelos EUA. É a contribuição de uma instituição pública mineira, por mínima que seja, para a sociedade'', avalia o professor Rubén Dario Millan, coordenador de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG. Segundo ele, a UFMG é a primeira instituição federal brasileira de ensino superior (Ifes) em número de patentes. ''Só perdemos para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)'', aponta.


 


    A UFMG tem 44 patentes internacionais em análise – sendo examinadas em diversos países –, nove já concedidas, 167 patentes nacionais e 17 marcas registradas. São 13 processos de transferência de tecnologia: patentes que são licenciadas para indústria, sendo que dois deles já estão em testes clínicos. ''Em pouco tempo teremos produtos no mercado, saídos de pesquisas do câmpus da UFMG'', complementa Rubén Millan.


 


Fonte: Jornal Estado de Minas