Delírio: Alckmin diz que ''Lula esqueceu o Nordeste''

A campanha está fazendo mal a Geraldo Alckmin. Neste fim de semana, o presidenciável tucano demonstrou um traço de sandice ao opinar sobre a atuação do governo federal. Segundo Alckmin, ''Lula esqueceu o Nordeste enquanto passeia em seu aerolula''. É o

Alckmin diz que ''o povo está empobrecido e a classe média achatada''. Podia aproveitar sua fúria denuncista para contextualizar essa análise, lembrando as danosas políticas de Fernando Henrique Cardoso. O presidenciável tucano, perdido, também tenta construir uma imagem retórica descabida: cita pejorativamente o novo avião presidencial comprado na gestão Lula como se o avião fosse fosse do presidente ou as viagens não tivessem caráter oficial.


 


Diz que o povo está indignado. Se for com Lula, os institutos de pesquisas deveriam ser fechados. Todos, porque perderam o prumo e estão ao léu. O que os institutos revelam é que eleitorado nordestino, público-alvo da mensagem alckmista, é o primeiro a não concordar com o tucano. Tome-se a última pesquisa Ibope para a Presidência da República. No Nordeste, o único candidato a crescer foi Lula. Em 8 de setembro, só na região, tinha 72% das intenções de voto.


 


Um levantamento da CNT/Sensus (29/8) indica melhor a preferência do povo supostamente esquecido por Lula. O presidente, segundo a pesquisa, bate Alckmin na região por 71,4% a 9,6%. O tucano vem despencando pesquisa a pesquisa – tinha 15,8% em julho e 11% no começo de agosto. A confiança do nordestino no governo é tanta que Lula deve vencer nos nove estados.


 


Êxito inédito
O caso de Alagoas é emblemático. Nas quatro eleições presidenciais que disputou, Lula nunca venceu lá. Nem mesmo em 2002, quando ficou atrás de José Serra, então apoiado pelos senadores Renan Calheiros (PMDB) e Teotônio Vilela Filho (PSDB). A situação mudou. Pesquisa do instituto Gape divulgada em 20 de agosto aponta Lula com 50%. Está bem à frente da alagoana Heloísa Helena (29%) e mais distante ainda de Alckmin (13%).


 


O Jornal do Commercio mostrou o isolamento do presidenciável tucano em Alagoas: ''Teotônio (maior liderança do PSDB  no estado) desconversa, mas mesmo ele tem evitado fazer campanha aberta para o presidenciável tucano. Nos seus eventos de rua, poucas são as bandeiras de Alckmin e no seu guia eleitoral, nem sinal do ex-governador de São Paulo''.


 


Em Pernambuco, um repeteco, Alckmin recebe o apoio do ex-governador Jarbas Vasconcelos e não passa de 14% das intenções de voto. Lula está com 69%, conforme pesquisa do Vox Populi do início deste mês. A diferença entre os candidatos vem aumentando. Ao perceber o marasmo da campanha presidencial, Jarbas decretou a aliados que se empenhem, sim – mas na disputa estadual.


 


Debandada tucana
A hegemonia não se dá apenas no eleitorado, no povo. Com sua administração voltada à emancipação do Nordeste, Lula conseguiu o apoio de diversos líderes locais. A campanha à reeleição tem recebido a adesão de dirigentes do PSDB, como ocorreu destacadamente em Sergipe. Três presidentes tucanos no estado se desligaram do partido e se declararam favoráveis à reeleição.


 


Até candidatos do PSDB ao governo, como Lúcio Alcântara (CE), não teve vergonha de abandonar a canoa furada de Alckmin para disputar as eleições ao lado de Lula. Isso no estado que o PSDB governa há mais tempo, sem nunca ter perdido uma eleição ao governo. Alckmin acusou o golpe e parece ter jogado a toalha. Nas próximas duas semanas, reservou somente três visitas ao Nordeste – e ainda assim a estados (Ceará, Pernambuco e Bahia) cujos governadores o apóiam.


 


O candidato tucano não luta apenas contra a apatia de sua campanha. Foi justamente no Nordeste que as principais marcas da gestão Lula promoveram mais qualidade de vida, autonomia econômica. Num comício realizado na cidade de Olinda, em 23 de julho, o presidente frisou esses avanços. Começou lembrando que, ''durante séculos, se falou que não valia a pena investir no Nordeste''. Na opinião dos antigos governantes (entre eles FHC, tão tucano como Alckmin), a região não teria condições de gerar progresso.


 


Peça-chave
''A verdade é o contrário'', rebateu Lula. ''Primeiro temos que investir (em infra-estrutura). Fazendo isso, o progresso vem atrás''. Em seu governo, a Petrobras resolveu investir na região, ao construir uma refinaria no Recife. A obra deve ficar pronta no final de 2007 e vai gerar mais de 20 mil empregos. Lula reativou o programa do álcool e fez uma revolução social com o biodiesel. Alçou o Nordeste à condição de peça-chave de uma política de Estado para o setor energético.


 


A aprovação do Nordeste a Lula não pode ser tão gratuita. Programas como Bolsa Família, Luz para Todos e ProUni se tornaram ''instrumentos de inclusão e ascensão social para a população mais carente''. Sem contar iniciativas tão complexas quanto ousadas do governo – a construção da ferrovia Transnordestina (com 2 mil quilômetros de extensão e capacidade de gerar 620 mil empregos), a transposição das águas do rio São Francisco, entre outras.


 


Se Alckmin quis criar um factóide, faltou lógica, inteligência e até habilidade retórica. Sua pseudodenúncia, seu grito frouxo, vai para o esquecimento. A afirmação de que Lula abandonou o Nordeste merecia um rótulo semelhante ao mais célebre artigo de Monteiro Lobato – ''Paranóia ou mistificação?''.


 


Por André Cintra,
da Redação