Reeleição de Lula está consolidada, diz diretor do Vox Populi

“Os candidatos, os bancos, todos os que recebem pesquisas não têm mais dúvidas quanto a isso. É uma conformação nova e é difícil imaginar o que vai acontecer, mas podemos evitar certos equívocos de avaliação”, afirmou o diretor do Vox Populi, Marcos Coimb

A nítida preferência dos eleitores mais pobres e de menor instrução está garantindo a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o fenômeno não deve ser entendido como um “chavismo à brasileira”, segundo o diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra.


 


“Lula está ganhando a eleição porque conseguiu comparar favoravelmente seu governo com o anterior, não porque teria dividido o país entre pobres e ricos”, afirmou Coimbra à “Reuters” nesta quinta-feira.


 


Nestas eleições, o Vox Populi foi contratado para dirigir as pesquisas na campanha do presidente-candidato. Para o cientista político, a oposição aceitou o jogo de Lula, tratou a questão ética de maneira “histérica”, anestesiando o eleitorado em relação a escândalos e, por isso, a menos de 20 dias da eleição, o quadro já estaria consolidado.


 


“Os candidatos, os bancos, todos os que recebem pesquisas não têm mais dúvidas quanto a isso. É uma conformação nova e é difícil imaginar o que vai acontecer, mas podemos evitar certos equívocos de avaliação”, afirmou.


 


O principal desses “equívocos”, segundo Coimbra, seria tomar a virtual reeleição de Lula como um sintoma de que o Brasil estaria politicamente dividido entre pobres, que votam no presidente-candidato, e ricos, que preferem o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin.


 


“Estamos encarando nessa eleição o velho mito de que o povo não sabe votar. A prevalência desse entendimento em determinados círculos pode nos levar a algo muito negativo e prejudicial ao debate, como por exemplo a falsa idéia de um chavismo à brasileira”, disse o analista.


 


Na pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira, o candidato tucano alcançou 52% das intenções de voto entre eleitores com renda familiar acima de dez salários mínimos, contra 25% de Lula, quando havia um empate técnico neste segmento uma semana antes. Entre os que ganham até um salário mínimo, Lula bate Alckmin por 59% a 21%.


 


Para alguns analistas, isso caracterizaria uma divisão semelhante à que ocorre na vizinha Venezuela, de Hugo Chávez, mas as últimas pesquisas do Vox Populi e do Ibope mostram empate técnico de Lula e Alckmin entre os ricos.


 


“A base da amostra nas faixas mais altas de renda e escolaridade não permite configurar uma tendência nova, mas a principal característica dessa eleição é a distância entre ricos e pobres”, disse Mauro Paulino, diretor do Datafolha.


 


“A série mais longa das pesquisas mostra intenções de voto semelhantes para Lula e Alckmin nessas faixas, apesar de variações de amostra”, discorda Coimbra.


 


“Se os ricos e instruídos fossem mesmo contra Lula, uma boa parte desses eleitores seria menos inteligente que a outra”, disse.


 


Para Paulino, do Datafolha, o impacto de programas assistenciais, especialmente o Bolsa Família, determina a vantagem do presidente-candidato.


 


“Lula não vai ganhar a eleição porque comprou voto com programa assistencialista”, discorda Coimbra mais uma vez.


 


Ele recorda que entre 2001 e 2002, o governo Fernando Henrique Cardoso ampliou “a toque de caixa” seus programas sociais e isso “não ajudou em nada” o candidato oficial na época, José Serra.


 



“Rigorosamente, o Bolsa Família simboliza apenas o compromisso cumprido por Lula, juntamente com a política salarial e a política de preços menores na cesta básica. Lula disse que era diferente dos outros, que faria mais que os outros, e uma impressionante maioria está concordando com isso”, afirmou.


 


Marcos Coimbra ressalta que no espaço de um ano, desde o escândalo do mensalão, Lula reverteu um quadro em que era rejeitado por quase metade da população, seu índice de votos tinha regredido ao patamar histórico de 30% e ele deveria perder no segundo turno para qualquer adversário. “Lula decidiu transformar uma eleição perdida numa comparação entre o seu governo e o do Fernando Henrique. Foi como se o técnico do Brasil tivesse combinado a estratégia com a seleção adversária, porque a oposição bateu em retirada, nenhum programa de TV defendeu FHC”, avalia Coimbra.


 


Para o analista da candidatura oficial, o eleitor mais simples não tomou os escândalos como critério exclusivo para decidir seu voto, por que “personagens vociferantes na televisão criaram uma histeria que acabou anestesiando o eleitor em relação a esse tema, o que não significa conivência”.


 


“Seria até paradoxal que justamente o eleitor mais instruído fosse decidir seu voto levando em conta um único fator, a corrupção, e o eleitor mais simples decidisse de forma mais sofisticada”,  compara Coimbra.


 


“Isso não é verdade, embora muitas vozes queiram afirmar que seja”, concluiu.


 


Fonte: Reuters