Eleitores explicam à BBC as razões de seus votos à presidência

Para tentar explicar as motivações por trás de cada escolha eleitoral, a BBC ouviu eleitores típicos de cada um dos principais candidatos, e também um que pretende votar nulo, para colher algumas indicações que possam ajudar a responder porque decidira


Com base nos dados de uma pesquisa eleitoral do instituto Datafolha realizada em agosto, foram identificadas quatro pessoas que representam os eleitores típicos de cada um dos candidatos.



Perfis



Assim, a pesquisa indicava que aqueles que pretendem votar no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão concentrados principalmente no interior da região Nordeste, são majoritariamente do sexo masculino e têm em sua maioria entre 25 e 34 anos, renda até R$ 700 mensais e escolaridade baixa (até ginásio incompleto).



No caso do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), seus eleitores têm em sua maioria entre 16 e 34 anos e estão concentrados no interior da região Sudeste. A proporção de intenções de votos masculinos e femininos no ex-governador é praticamente igual. A maioria dos eleitores de Alckmin tem renda mensal superior a R$ 701 e escolaridade entre colegial completo e superior completo.



O perfil típico do eleitor que pretende votar na senadora Heloísa Helena (PSOL) é de uma mulher, entre 16 e 44 anos, moradora de alguma capital das regiões Sudeste ou Sul, com renda mensal entre R$ 701 e R$ 7.000 e escolaridade alta (entre colegial completo e pós-graduação).



Entre aqueles que pretendem votar branco ou nulo em 1º de outubro, a maioria mora em cidades capitais da região Sul, é mulher, tem entre 25 e 59 anos, tem renda mensal acima de R$ 1.051 e escolaridade também alta (entre colegial completo e pós-graduação).



Eleitor de Lula



Para representar os eleitores de Lula, foi escolhido o agricultor José Carlos dos Anjos, de 33 anos.



Assentado em uma propriedade desapropriada no ano passado no interior de Pernambuco, José Carlos considera-se grato ao presidente por sua suposta responsabilidade no processo que o transformou de sem-terra em pequeno produtor rural. O Lula foi fundamental para a nossa luta, diz.



José Carlos também se diz contente com auxílio recebido do governo federal por meio do Bolsa-Família. Minha mulher recebe o Bolsa-Família todo mês. É um dinheiro que vem sempre em boa hora, afirma.



José Carlos diz que tentaram sujar o Lula¿ com acusações de corrupção, mas que ¿até agora não conseguiram provar nada contra ele. Esse problema já vinha de outros governos, mas foi no governo do Lula que explodiu a bomba.



Eleitor de Alckmin



O eleitor típico de Alckmin é o comerciante Hudson Pessini, de 31 anos, proprietário de uma pequena loja de roupas no centro de Sorocaba, no interior do Estado de São Paulo.



Para Hudson, as ações do governo Alckmin para favorecer os comerciantes e os empresários paulistas influenciaram sua escolha.



Como comerciante, o que mais me prejudica é a alta carga tributária. O Alckmin quando foi governador reduziu bastante os impostos estaduais e mesmo assim a arrecadação subiu. Isso não aconteceu com os impostos federais, diz.



O comerciante considera que a atual onda de violência atribuída à agrupação criminosa PCC prejudicou a campanha do ex-governador à Presidência, mas que ele não teve culpa pela situação.



Eleitora de Heloísa Helena



A professora do ensino fundamental Denise Brasil, de 39 anos, da cidade do Rio de Janeiro, foi escolhida para representar a eleitora típica de Heloísa Helena.



Ela diz ter escolhido o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) por considerá-lo um partido que tem como proposta uma reversão de prioridades dessa política de acúmulo de capital, de juros, que hoje está comandando o Brasil, para prioridades reais da população.



Dirigente sindical, ela foi militante do Partido dos Trabalhadores até o fim de 2003, quando houve o racha que resultou na criação do PSOL. Acho que houve um esgotamento do PT como ferramenta de luta da classe trabalhadora, diz ela.



É importante, ter um partido que defenda os interesses dos trabalhadores. Porque para defender os interesses do poder econômico, das grandes corporações ou do sistema financeiro internacional, já tem gente demais, argumenta.



Voto nulo



A historiadora Sandra Jatahy Pesavento, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, tem o perfil típico daqueles que pretendem votar nulo ou em branco na eleição presidencial.



Para ela, a opção por anular o voto foi um processo que foi amadurecendo, com o desgaste deste processo político nacional e pela desilusão também. Acho que é a única opção que resta, porque dizer que vamos escolher aquele que não é tão ruim quanto os outros é muito duro, não é, questiona.



Ex-eleitora de Lula, ela se diz decepcionada e que não vota nunca mais nem em Lula nem no PT, nem em ninguém que está aí se candidatando a presidente da República. Nenhum, enfatiza.



Ela diz que gostaria de poder ter alguém em quem votar nas eleições seguintes, mas que tem poucas esperanças. Gostaria muito que as coisas mudassem, mas não vejo muita luz no fim do túnel, lamenta.


 
 
Fonte: BBC Brasil