Família Vedoin implica Serra na máfia das ambulâncias

Atualizada às 16h30


 


Nesta semana, Darci Vedoin e seu filho, Luiz Antônio, sócios da empresa Planam, apresentaram documentos que comprovariam o envolvimento do candidato ao governo do Estado de São Paulo, José Serra, com a máfia q

O empresário garantiu que a confiança no pagamento ''era tão grande'' que a Planam chegou a entregar ''cento e tantas ambulâncias antes da verba ser liberada''. Os documentos foram entregues ao MP, para a Justiça e também à CPI das Sanguessugas. A revista IstoÉ teve acesso aos papéis e os repórteres Mário Simas Filho e Biô Barreira assinam a reportagem da edição deste final de semana.


 


Em meio aos documentos entregues pelos Vedoin se destaca uma relação de emendas, feitas no Orçamento da União, que demonstram que a Planam foi beneficiada com a venda de 891 ambulâncias entre 2000 e 2004 — 70% delas pagas até o final de 2002, quando Barjas Negri — substituto de Serra, que saíra para disputar a eleição presidencial — deixou do Ministério da Saúde.


 


A denúncia inclui o aparecimento de um novo personagem na trama: Abel Pereira, empresário da construção civil em Piracicaba, hoje administrada por Barjas Negri. ''O Abel falava em nome do ministro Barjas'', relata Luiz Antônio Vedoin. ''Quando o Serra era ministro as operações eram feitas por parlamentares. Quando o Barjas assumiu o comando do Ministério, Abel passou a ser o responsável pelos recursos, apesar de não possuir cargo algum naquela Pasta''.


 


Nos documentos a que a IstoÉ teve acesso, aparecem cópias de pelo menos 15 cheques emitidos pela Klass, uma das empersas de Vedoin, que teriam sido entregues ao próprio Abel. No total, os cheques somam RS 601,2 mil.


 


No último ano da administração tucana, em 2002, foi o ano em que a Planam mais distribuiu ambulâncias para municípios – um total de 317. Há suspeitas de que os repasses tenham sido utilizados para pagar despesas de campanha presidencial de 2002.


 


''Somos culpados, mas não somos os maiores. A maior culpa é dos governos antigos que propiciaram isso tudo. Lamais liguei para parlamentares. Eles é que ligavam para mim'', afirmou Darci Vedoin.


 


Nas vezes em que o dinheiro não era repassado diretamente para Abel, as empresas do grupo Planam faziam depósitos em contas de pessoas jurídicas ou físicas, indicadas pelo ministro. Há pelo menos seis depósitos feitos em contas de pessoas ainda desconhecidas no caso.


 


Entre os depósitos que mais chamaram a atenção dos integrantes da CPI dos Sanguessugas estão os destinados às empresas Kanguru Factoring Sociedade de Fomento Comercial, que encerrou suas atividades em 2003; à Datamicro informática e a Império Representações Turísticas.


 


Os nomes de Valdizete Martins Nogueira, de Jaciara (MS); Robson Rabelo de Almeida, da mesma cidade, e Mario J. Martignago, também estão entre os beneficiados.


 


Abaixo um trecho da entrevista:


 


 


ISTOÉ – Quem é Abel Pereira?



Luiz Antônio – É um empresário de Piracicaba que operava dentro do Ministério da Saúde para nós. Era ele
quem conduzia todo o processo e fazia sair todos os empenhos… Era um operador, uma pessoa indicada e muito ligada ao Barjas Negri, secretário executivo do Ministério quando José Serra era o ministro e seu sucessor.



Darci – O Barjas Negri é o braço direito do José Serra. Nosso esquema já funcionava no Ministério. Quando o Serra saiu, o Barjas assumiu o Ministério e foi indicado o Abel para continuar a operar.



ISTOÉ – O Abel, então, deu continuidade a um esquema que já existia?



Darci – Quando nós iniciamos a montagem, em 1998, já existia esquema dentro do Ministério da Saúde, com os parlamentares. Nós acertávamos com os parlamentares e o dinheiro saía. Naquela época era muito mais rápido para sair os empenhos e os pagamentos.



(…)



ISTOÉ – Os srs. Estiveram reunidos pessoalmente com o ex-ministro José Serra alguma vez?



Darci – No ano de 2001 estivemos com ele em dois eventos no Mato Grosso. Um na capital e outro em Sinop.



ISTOÉ – É natural e até dever de um inistro da Saúde participar de eventos para entrega de ambulâncias. O ministro sabia que nos bastidores daqueles eventos havia um esquema de popinas?


Luiz Antônio – Era nítido a todos.


 


Darci – Posso te afirmar que as emendas quando eram destinadas para esses eventos saíam ainda mais rápido.


 


(…)



ISTOÉ – Como exatamente funcionava o chamado Esquema Sanguessuga? 


 


Darci – O parlamentar apresentava a emenda orçamentária pedindo o recurso e quando o dinheiro era liberado nós pagávamos 10% ao parlamentar. A cobrança deles sempre foi de 10% sobre o valor da emenda.


 


Luiz Antônio – No melhor período, quando o Serra e depois o Barjas eram os ministros, a bancada do PSDB é que conseguia agir com maior rapidez. Com eles era muito mais fácil e muito rápido. Quando as emendas eram da bancada era coisa de um dia para o outro.


 


Darci – A confiança de pagamento naquela época era tão grande que nós chegamos a entregar cento e tantos carros somente com o empenho do Ministério da Saúde, antes de o dinheiro ser liberado. Isso acontecia no País inteiro. Sempre quando se tratava de parlamentares das bancadas ligadas ao governo.