Franklin Martins comenta a “tensa tranquilidade” de Lula

Ontem à noite, enquanto Fernando Mitre e eu esperávamos Lula chegar à biblioteca do Palácio da Alvorada, onde se realizaria a entrevista para o Jornal da Band, conversei com vários colaboradores próximos do presidente sobre a reta final da disputa pres

 


por Franklin Martins


 


Um dos assessores mais próximos de Lula recorreu a uma imagem futebolística, tão ao gosto de seu chefe, para resumir a situação: “É como se estivéssemos ganhando de um a zero, aos 40 minutos do segundo tempo, um jogo em que só precisamos empatar para levar a taça. Mesmo se tomarmos um gol, ainda está bom para a gente. O adversário está perdido em campo e, quando pega a bola, não sabe o que faz com ela. Mas não dá para brincar”. E sem esconder a ansiedade: “Não vejo a hora desse jogo acabar”. O temor é de que a reta final possa descambar para a baixaria.


 



Conversa daqui, conversa dali, outro colaborador de Lula comemorou um gol contra dos tucanos: a carta de Fernando Henrique aos militantes do PSDB. Com a experiência de quem está participando de sua quinta campanha presidencial, ele disse que o efeito de um documento como o do ex-presidente deve ter sido devastador para a moral da tropa tucana. “Sei que não ganhamos um voto por causa da carta. Nem Alckmin perdeu. Mas o impacto de uma crise como essa é tremendo. Perde-se tempo e energia. As brigas internas vêm à tona e campanha passa a ser dominada por uma agenda negativa. Para nós, foi um presente que caiu do céu. É um sinal de como as coisas estão complicadas do lado de lá”, concluiu.


 



Lula entra na biblioteca. Estava numa saletinha ao lado, repassando dados com a assessora Clara Ant. Está evidentemente tenso, embora tente demonstrar o contrário. Enquanto o técnico de som fixa o microfone na lapela de seu paletó, pergunto-lhe: “E aí, tranqüilo com a eleição?”. Ele responde: “Tranqüilo? Eu? De jeito nenhum. Quem pode estar tranqüilo é o Cristovam, que tem um por cento e não está disputando”. E, ainda rindo da própria piada, arrematou: “Numa disputa como essa nunca se pode ficar tranqüilo. Só quando acaba”. Como se vê, estão todos falando a mesma língua na campanha de Lula.


 



Mas há um quê de formalidade nesse discurso. Um milímetro abaixo do verniz politicamente correto, que manda não usar salto alto em campanha eleitoral, existe um Lula absolutamente confiante na vitória, já no primeiro turno. Não disse isso com todas as letras em momento algum. Ao contrário, fez questão de afirmar o tempo todo que nada está decidido. Mas, terminada a entrevista, numa rápida conversa sobre outros assuntos, especialmente sobre a crise com a Bolívia, falou sobre o futuro como se não lhe passasse pela cabeça a hipótese de que nos próximos anos venha a deixar o Palácio da Alvorada, para voltar a morar em seu apartamento em São Bernardo do Campo.


 



Na saída, ao despedir-me de Dona Marisa, perguntei-lhe o que tinha achado do marido na entrevista: “Esteve muito bem. Só acho que ele falou um pouquinho mais do que devia sobre o Fernando Henrique. Não precisava tanto”.


 



Temos uma divergência no casal, sem dúvida. Pelo brilho nos olhos e o sorriso nos lábios na hora da resposta, em nenhum outro momento da entrevista Lula esteve tão à vontade. Bateu com gosto em Fernando Henrique. E gostou de bater.



Fonte: blog do Franklin Martins