Desesperada, direita quer cassar o voto dos brasileiros

Por Renato Rabelo*
A direita brasileira perdeu de vez a compostura, confirmando que não tolera a democracia e que despreza o voto popular. Já prevendo uma fragorosa derrota nas urnas, como atestam todas as sondagens eleitorais, ela resolveu partir para

Flagrada em vídeos num esquema de superfaturamento de ambulâncias, a direita tenta se passar por vítima de uma desastrada tentativa de compra de dossiês da parte de setores do PT.



A manobra é evidente e canhestra. É a repetição da velha tática de que a melhor defesa é o ataque. Ela só ganha dimensão devido à cumplicidade despudorada da mídia, que abafa as denúncias contra os tucanos e lança uma cortina de fumaça diversionista contra a candidatura Lula. Seu objetivo, porém, é abertamente golpista. Com base na lamentável tentativa de compra do dossiê, desbaratada pela própria Polícia Federal, PSDB e PFL ingressaram no Tribunal Superior Eleitoral com pedido de investigação contra o presidente Lula. Pelo processo em andamento, o presidente pode ficar inelegível por três anos e até perder o mandato após ser empossado. Há até quem fale em impugnação do registro da candidatura a poucos dias do pleito.



Os objetivos dos golpistas



O intento desta manobra é colocar na defensiva a campanha pela reeleição do presidente Lula exatamente no momento de sua arrancada final, quando o candidato reúne e empolga milhões de pessoas no Norte e Nordeste e a maioria dos eleitores do país, parte para um discurso mais contundente visando garantir a vitória de seus aliados nas eleições para os governos estaduais, senado e deputados federais. Ela também é uma última tentativa, desesperada, para protelar a disputa sucessória para o segundo turno. “Se for bem utilizada, pode contribuir para o Lula perder os pontos percentuais necessários ao segundo turno”, confessou o senador Álvaro Dias, membro da coordenação da campanha de Geraldo Alckmin. Rejeitada por milhões de eleitores brasileiros, que não esquecem o trágico reinado de FHC, desprezam o candidato tucano e valorizam as conquistas sociais do governo Lula, a direita golpista tenta sua cartada derradeira, suja e hipócrita.  



Além destes objetivos imediatos, a oposição direitista segue os conselhos do seu conspirador-mor, FHC. Há tempos, ele lamentou o fato da direita não ter aproveitado o pior período da crise política, em meados do ano passado, para pedir o impeachment do presidente. Logo depois, já prevendo a baita surra eleitoral, ele citou o exemplo do ex-presidente estadunidense Richard Nixon, que foi deposto logo após conquistar a reeleição, para insinuar que este deveria ser o caminho dos golpistas brasileiros. Há poucas semanas, ele causou espanto ao ressuscitar a sinistra figura de Carlos Lacerda, o golpista que se jactava de ter levado ao suicídio o presidente Getúlio Vargas e de ter orquestrado o golpe militar contra João Goulart. Também afirmou que era preciso “por fogo no palheiro” para forçar um segundo turno. Na sua “carta testamento”, que causou constrangimento até em certos tucanos, o detestado ex-presidente pregou abertamente o golpe. Em suma, a direita toma o caminho orientado pelo manual golpista: impedir a vitória de Lula, se vitorioso impugnar sua diplomação, se iniciar o segundo governo derrubá-lo. 



Estado de alerta máximo



Diante desta nova e repugnante manobra, as forças populares e democráticas devem entrar em estado de alerta máximo. O presidente Lula já garantiu que está pronto para o confronto. “Em conversas reservadas, ele disse que iria ‘para o pau’ contra a oposição se ela insistir em vinculá-lo à tentativa de compra de um dossiê”, revela o jornalista Kennedy Alencar. Indignado com o uso destes dossiês, ele teria recordado que nunca recorreu a este expediente sujo, citando o famoso caso do dossiê Caribe contra a alta cúpula tucana. “Ele achou condenável a tentativa de compra de dossiê contra Serra, mas julgou injusto o PSDB e o PFL quererem pedir a impugnação de sua candidatura… Acusou PSDB e PFL de serem ‘maus perdedores’… e disse que, se a oposição insistir na tese, vai chamá-la de golpista e buscará apoio popular”.



O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, informou que o seu partido irá apurar o suposto envolvimento de petistas na compra do dossiê, mas criticou a “armação da direita” e garantiu que não aceitará passivamente a manobra. A própria revista IstoÉ, que sempre adotou um postura ácida diante do atual governo, emitiu uma nota oficial na qual esclarece que “não compra nem nunca comprou dossiês”; a decisão de publicar as denúncias envolvendo o nome do ex-ministro da Saúde, José Serra, deveu-se ao fato de que foram formuladas pelos empresários que têm pautado as investigações e acusações em torno da CPI dos Sanguessugas; por fim, a revista teme que manobras diversionistas possam tirar do foco central as investigações sobre as graves denúncias a respeito da máfia das ambulâncias.



Até alguns jornalistas com senso crítico e postura independente criticaram esta nova trama. O articulista Franklin Martins, demitido da TV Globo num nebuloso incidente, condenou o PSDB e o PFL pelo pedido de cassação do registro da candidatura Lula. “A 14 dias da eleição, tem gente no primeiro escalão desses partidos propondo expurgar da urna eletrônica o nome do candidato que, segundo todas as pesquisas, deve vencer as eleições já no primeiro turno. Não tiveram peito para pedir o impeachment de Lula no auge da crise do mensalão e vão pedir a cassação da candidatura dele agora, quando há mais de 60 milhões de pessoas se preparando para votar no homem. Vê se pode”.



Em síntese, não dá para ficar quieto diante desta nova armação da direita golpista. O desafio agora é o de garantir a reeleição de Lula ainda no primeiro turno, com folgada vantagem sobre o candidato da direita, e o de viabilizar a vitória dos candidatos progressistas no maior número de governos estaduais, no Senado e na Câmara Federal. As forças democráticas e os movimentos sociais, que foram determinantes para conter a onda do impeachment no ano passado, estão chamados novamente a ocupar seus postos na trincheira da resistência aos golpistas. O feitiço pode se virar contra o feiticeiro. A hora é tensão máxima das energias para imputar uma fragorosa derrota à direita neoliberal no Brasil.


 


* Presidente do PCdoB