Fontana classifica de “cacoete golpista” tentativa de envolver Lula

O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), classificou como um “cacoete golpista” a tentativa do PSDB de vincular o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos recentes episódios de suposta venda de dossiê que mostra atos de corrup

Fontana considerou como “absurdo” o pedido feito pelo PSDB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para cassar a candidatura à reeleição do presidente Lula, “É uma situação absurda, inaceitável, que mostra bem o caráter de golpismo que a oposição assumiu já faz bastante tempo, mas que agora demonstra uma espécie de desespero final”, frisou o líder.


 


Ele analisou que a suposta venda de um dossiê contra o candidato José Serra, não anula as acusações existentes contra a gestão de Serra no Ministério da Saúde, no governo FHC.


 


“Efetivamente, não se pode transformar a hipótese de um segundo delito – porque hipótese existe de que alguém tenha pago por este depoimento do empresário Vedoin. Mas este segundo delito, se devidamente comprovado, não pode invalidar o delito fundamental, que é a história real da máfia das ambulâncias e das propinas que foram pagas durante a gestão do então ministro José Serra no Ministério da Saúde”, disse.


 


O líder petista declarou ainda que “o partido está tranquilo” em relação às denúncias e não descarta a hipótese de armação para prejudicar a candidatura do presidente Lula.


 


Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo líder do PT, Henrique Fontana.


 


Golpe – Tenho a convicção de que este episódio não vai afetar em nada a reta final das eleições porque o presidente Lula não tem nenhuma responsabilidade com este caso. Eu tenho a tranquilidade e a serenidade para afirmar isso. O que está ocorrendo é mais uma tentativa da oposição, das vozes golpistas tradicionais como a do senador Jorge Borhaunsen (PFL), propondo a cassação do presidente. Aliás, faz um ano e meio que Borhaunsen propõe a cassação ou o impeachment do presidente Lula. É claro que a ilegalidade que ocorreu precisa ser profundamente e rapidamente investigada. Agora, a tentativa da oposição de jogar isso no colo do presidente Lula é golpista e irresponsável, porque eles (oposição) sabem que o presidente Lula tem hoje cerca de 60% dos votos válidos das pesquisas que temos lido.


 


Caiman – Um presidente que teve nas suas mãos um dossiê Caiman, sobre esquema de depósitos bancários de dirigentes do PSDB, e não usou quando estava perdendo uma eleição, porque iria atrás de um dossiê como este com acusações contra o candidato ao governo de São Paulo, José Serra, se neste momento o presidente (Lula) é franco favorito nas eleições? Não tem lógica esta construção do Jorge Borhaunsen e dos nossos adversários do PSDB e do PFL.


 


Envolvimento – Defendo que seja feita uma investigação seja quem quer que esteja envolvido na suposta compra do dossiê. Pode ser o irmão do presidente da República ou pode ser seu maior inimigo. Todos têm que ser investigados de igual maneira e a investigação deve ser feita com a máxima rapidez.


 


Ilegalidades – Estamos diante de duas ilegalidades que aparecem neste debate. De um lado, a compra do dossiê com dinheiro de procedência ilegal e escusa. De outro lado, a profundidade das ilegalidades descritas no dossiê. Na minha opinião, se a palavra do Vedoin, proprietário da Planan, valeu para incriminar e colocar sob investigação 82 deputados e senadores, então a palavra dele tem que valer agora para exigir que se faça uma investigação profunda sobre a gestão José Serra e Barjas Negri no Ministério da Saúde, durante o governo FHC. Os dois crimes são graves. A estruturação da máfia das ambulâncias e o pagamento de propinas durante o governo do PSDB e do PFL são fatos gravíssimos que precisam ser investigados. Não podemos trocar uma ilegalidade por outra. Também é gravíssimo o fato de alguém tentar comprar um dossiê com dinheiro ilegal. As duas coisas têm que ser investigadas com serenidade e firmeza.


 


Abel Pereira – O Vedoin foi muito explícito no que disse. Ele fala que o Abel Pereira, um nome com pouca circulação nos debates, era o operador financeiro do então ministro da saúde, José Serra, no governo FHC. Ele buscava os recursos e recebia os cheques de propina durante a gestão Serra. E no dossiê foi entregue um conjunto de cheques e datas de depósito que foram feitos nas contas do Abel Pereira. Ele precisa ser investigado com o mesmo rigor de Freud, outro nome que tem sido citado neste episódio. Eu li, inclusive, que foi pedida a prisão preventiva do Freud. Então, é preciso pedir também a prisão do Abel Pereira.


 


Interessados – O maior interessado em que não houvesse esta crise é o próprio presidente Lula. E a pergunta que ainda não tem resposta é a quem interessaria esta crise? Tenho a sensação de que pela forma como o debate está colocado interessaria a uma oposição que está em pré-desespero, agonizante na véspera da eleição, porque faz mais de um mês que o presidente Lula é o franco favorito para vencer as eleições no primeiro turno. Evidentemente que com este quadro, a oposição procura transferir um fato, que é ilegal, para o presidente Lula.


 


Investigação – Defendo que a investigação deva ser procedida com rapidez. Tanto sobre o que disse Vedoin neste dossiê contra Serra, Barjas Negri, o PSDB e o PFL; quanto sobre quem supostamente teria comprado este dossiê, e de onde obteve este dinheiro. Existe um fato notório: 75% das ambulâncias superfaturadas que alimentaram a máfia das ambulâncias foram fornecidas durante o governo do PSDB e do PFL. Ou seja, a máfia foi montada e estruturada no governo do PSDB e do PFL, e foi investigada e desbaratada durante o governo Lula.


 


No seu primeiro depoimento, o dono da Planan disse que entregou mais de 100 ambulâncias na véspera das eleições presidenciais passadas, sem o devido pagamento, porque acreditava que José Serra venceria as eleições e não haveria problema em receber o dinheiro. Isso é normal ou indica algum grau de promiscuidade nas relações entre Vedoin e o Ministério da Saúde do governo anterior?


 


Thomaz Bastos – A oposição entende de ações tendenciosas e por isso tenta dizer que o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, não está tendo isenção na conduta deste episódio. No tempo em que o PSDB e o PFL estavam no governo, a Polícia Federal teve um conjunto de ações tendenciosas e de omissão. Ou seja, houve uso político da Polícia Federal no governo do PSDB e do PFL que impediu investigações importantes para o país. A atuação da Polícia Federal, sob a coordenação do ministro Thomaz Bastos, é exemplar. Nunca a PF agiu com tanta independência e rigor como tem agido agora e esta é uma verdade que o povo brasileiro tem acompanhado pelas diferentes máfias que tem sido desbaratadas, como a que descobriu a máfia dos vampiros, que vendia derivados de sangue a preços superfaturados no governo FHC.


 


Armação – Estamos numa guerra eleitoral e de grande proporções. Então, não descarto a hipótese de que este episódio do dossiê seja uma armação. Tudo pode ser possível, até porque o presidente Lula tem, segundo as últimas pesquisas, cerca de 60% dos votos válidos. Particularmente, me filio ao grupo que defende investigações republicanas, rápidas e profundas. Que punam amigos e inimigos da mesma forma.


 


Fonte: Agência Informes (www.informes.org.br)