Lançamento de programa de Alckmin vira festival de baixarias

A oposição transformou o lançamento do programa da candidatura à Presidência de Geraldo Alckmin, nesta quarta-feira, num verdadeiro festival de baixarias, com direito a uso de palavras de baixo calão e acusações generalizadas contra o governo. Acabou n

Todo o alto comando do PSDB e do PFL compareceu ao ato, que reuniu cerca de 500 pessoas —a organização esperava pelo menos o dobro de participantes. O evento ocorreu numa tenda montada às margens da Baía de Guanabara. O próprio Alckmin, candidato da coligação que reúne os dois partidos, foi um dos que contribuíram para desvirtuar o objetivo do ato. Ele afirmou que apesar da data ser de lançamento do programa, “o assunto é outro”.


 



“O Brasil vive um momento muito grave, muito maior que a questão eleitoral”, afirmou Alckmin, no evento que ocorreu na Marina da Glória, no Rio. “O que estamos enfrentando não é uma candidatura. É uma sofisticada organização criminosa incrustada no Estado brasileiro.”, disse o tucano, repetindo omantra que tem sido adotado pela candidata do PSOL, Heloísa Helena.


 



Alckmin aproveitou a platéia favorável e repetiu frases de efeito que, mesmo sem correspondência com a verdade, tem sido uitilizadas fartamente em seus discursos.


 



“Só nessa última semana, vimos 11 milhões de reais da Secretaria de Comunicação desaparecerem. Disseram que (as cartilhas) foram entregues nos diretórios do PT para parecer um crime menor. Não houve produção nenhuma. Desviaram esse dinheiro”, acusou Alckmin, em referência à impressão e distribuição de 2 milhões de cartilhas com propaganda do governo federal, produzidas entre 2003 e 2005, que são alvo de contestação do Tribunal de Contas da União (TCU). Mas ao contrário do que afirmou Alckmin, o TCU não nega que as cartilhas tenham sido produzidas, apenas contesta os valores cobrados pelas gráficas.


 



Para Alckmin, também houve desvio de dinheiro para ONGs ligadas ao PT e no episódio do dossiê, no qual foi apreendido pela Polícia Federal 1,7 milhão de reais.


 


“Vou auditar estatal por estatal, empresa por empresa”, prometeu Alckmin, numa das poucas referências a seu programa de governo. “Vou criar na Advocacia Geral da União um grupo especializado só para recuperar dinheiro roubado”, completou.


 


Na semana passada, o ministro Jorge Hage (Controladoria Geral da União) analisou as “propostas” de combate à corrupção lançadas pelo candidato do PSDB e qualificou as medidas como um “espetáculo de arrombamento de portas abertas”.


 


“Fiquei perplexo com as propostas, pela absoluta ausência de originalidade, sequer de imaginação. Não há absolutamente nada de novo. É um espetáculo de arrombamento de portas abertas. Tudo aquilo que está enumerado ali já vem sendo feito. Estão descobrindo a pólvora”, afirmou.


 


Baixaria compartilhada


 



O tom do discurso de Alckmin foi repetido pelos demais presentes, incluindo o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra, envolvido no dossiê apreendido pela PF e suspeito de participar da Máfia dos Sanguessugas quando foi ministro da Saúde no governo FHC.


 


“Em primeiro lugar, tratou-se de baixaria eleitoral para beneficiar o candidato do PT em São Paulo. Baixaria organizada pelo PT, pelo presidente do PT e pelo candidato do PT em São Paulo”, disse Serra, em ataque direto a seu adversário na campanha, Aloizio Mercadante.


 


Serra cobrou explicações da origem do dinheiro apreendido, que tem sido o mote do discurso da oposição. E não disse uma palavra sobre seu envolvimento no escândalo. “Esse (a questão do dinheiro apreendido) é o fator fundamental agora. Tratam-se de delinquentes, de comercialização de baixaria. Temos que esperar ação eficiente por parte da Justiça e da Polícia Federal.”


 


O governador de Minas Gerais, o também tucano Aécio Neves, franco favorito à reeleição, classificou o episódio do dossiê “como o maior tiro no pé já dado por um partido e por um governo”. Ao contrários dos seus colegas de partido, Aécio criticou duramente o PT, mas poupou o presidente Lula de críticas.


 


“Um brasileiro em especial deve querer que as explicações sejam cabais, definitivas e que não reste qualquer dúvida. É o presidente da República”, afirmou Aécio, dizendo confiar na apuração da Polícia Federal.


 


Aécio não colocou obstáculos a uma investigação “nos dois sentidos”, como defendeu o presidente Lula, apurando a tentativa de compra e o conteúdo do dossiê.


 


“Tem que haver investigação sobre todo o processo que envolve os sanguessugas, em qualquer tempo. Não acho que tem que parar num mandato, que vá lá atrás”, disse Aécio, numa linha que difere de seus aliados tucanos.


 


Mas para o governador mineiro, existe um fato concreto, de tentativa de interferência no processo eleitoral, que a seu ver tem que estar esclarecido antes do dia 1o de outubro. “E aí a população vai votar com informação. Pode ser até que vote no presidente Lula, mas terá todas as informações”, defendeu. Questionado sobre se a população votando em Lula, o próximo governo começaria sobre o risco do impeachment, Aécio demonstrou respeito às urnas.


 


“O resultado eleitoral é a expressão cabal da vontade da população.”, disse Aécio.


 



Maia: o rei da baixaria



As palavras mais agressivas do evento couberam ao prefeito do Rio de Janeiro, o pefelista Cesar Maia, que fez o papel de mestre de cerimônias. Ao afirmar que se a capital do país fosse no Rio “esse governo cairia”, o prefeito falou em “mar de lama”, expressão que marcou a oposição udenista ao presidente Getúlio Vargas, antes do seu suicídio em agosto de 1954.


 


Sobre o presidente, Maia afirmou que “um mar de lama escorre debaixo da porta dele (Lula), entra, ele pisa e pensa que é chocolate. Se ele é idiota (por não saber das irregularidades), não pode ser presidente. E, se não é idiota (e sabia), também não pode ser presidente”, afirmou Maia sob aplausos entusiásticos da platéia.


 


Antes do discurso, em entrevista, Maia havia afirmado que Lula poderá sofrer um processo de impeachment no início do novo governo, caso vença as eleições presidenciais.


 


Da redação,
com agências