Comício-gigante do Hezbolá celebra vitória sobre Israel

Em um comício da vitória, no sul de Beirute, o líder do Hezbolá, xeque Hassan Nasrallah, revelou que sua milícia ainda possui 20 mil foguetes em condições de uso. Nasrallah reuniu centenas de milhares de apoiadores do hezbolá num subúrbio da capital liban

Um dos objetivos proclamados por Israel na ofensiva de julho-agosto era eliminar a capacidade do Hezbolá para disparar foguetes. Milhares deles atingiram o país durante o conflito.



Esta foi a primeira aparição de Nasrallah em público desde a coletiva de imprensa em 12 de julho, quando ele anunciou a captura de dois soldados israelenses por combatentes do Hezbolá — o ato que conduziu aos ataques de Israel.



Multidão veio de todo o país



A multidão presente, avaliada em centenas de milhares de pessoas, segundo a TV Al-Manar, do Hezbolá, foi engrossada por partidários do Amal, agitando as bandeiras verdes deste movimento, rival do Hezbolá mas últimamente aliado a ele.



Os manifestantes vieram de todo o Líbano, com muitos acampando fora da capital na quinta-feira, vindos de carro de aldeias xiitas do sul do país — uma área severamente castigada pela ofensiva de Israel.



Armas não serão entregues



Nasrallah disse que os combatentes do Hezbolá só entregarão suas armas quando “as ameaças de Israel” tiverem fim e o governo do Líbano for forte o bastante para proteger o país. “Não entregaremos nossas armas a um Estado libanês débil, incapaz de defender a si próprio da ameaça de Israel”, afirmou.



“Não existe exército no mundo que possa tirar as armas das nossas mãos, do nosso controle”, disse ainda o xeque. “Não libertaremos os dois soldados israelenses exceto numa troca por prisioneiros libaneses”, agregou.



“Qualquer proposta de desarmamento da resistência sob este Estado, esta autoridade, este regime e  na atual situação significaria deixar o Líbano em perigo de ter Israel matando e bombardeando à vontade”, disse Nasrallah.



“Um Estado forte e justo”



A TV árabe Al Jazira noticiou que Nasrallah também fez um chamamento: “Vamos construir um Estado forte e justo”. E propôs um novo governo libanês de união nacional.



“Temos como objetivo e propomos o estabelecimento de um Estado, mas nunca deixaremos ninguém insuluar-nos. O tempo da vitória teve início e o tempo das derrotas se foi”, afirmou o líder do Hezbolá.



Nasrallah criticou com severidade, embora indiretamente, o líder druzo anti-Síria, Walid Jumblat, um aliado-chave do atual governo. Solicitou que Jumblat peça desculpas por suas declarações no passado.



Clima de festa



Fouad Siniora, o primeiro ministro do Líbano, não compareceu ao comício. O correspondente da Al Jazira em Beirut reportou que muitas pessoas gritavam lemas anti-Siniora, exigindo sua renúncia.



A atmosfera do comício foi descrita como alegre e festiva. Muhammed Hajj Hussein, 50 anos, disse: “Hoje é um feriado para o Líbano e eu nunce estive mais contente. Estou felicíssimo com a vitória da resistência.”



Para Hasan Slyman, “esta é uma vitória do Líbano e do mundo islâmico. Estou muito orgulhoso e espero que a comunidade internacional agora atue contra as violações e incursões de Israel em nosso território.”



Ali Sahhar declarou: “Todos pensavam que o exército de Israel era invencível. Isso não era verdade e hoje estamos declarando a vitória da resistência.”


 


O comício foi programado para coincidir com o fim da retirada dos soldados israelenses do sul do Líbano. No entanto, o comandante do exército de Israel disse na quarta-feira que ainda havia “alguns objetivos a serem alcançados” antes que a retirada se complete.


 


Israel perdeu 157 soldados



As forças de Israel começaram a recuar gradualmente do território que tinham invadido, em combates onde morreram cerca de 1.200 libaneses, na maioria civis, e 157 israelenses. O Hezbolá proclamou-se o vencedor da guerra. Durante os combates a milícia disparou cerca de 4 mil foguetes sobre o norte de Israel.



Nos termos da trégua que concluiu os combates, no mês passado, a ONU e as forças armadas do Líbano estão se deslocando para o sul para monitorar o cessar-fogo e tentar estabelecer a autoridade do governo de Beirute. Mas Nasrallah afirmou que os combatentes do hezbolá permanecem na fronteira com Israel e não se desarmarão.



Antes do comício, o primeiro ministro de Israel, Ehud Olmert, recusou-se a dizer se o líder libanês seria atacado caso aparecesse na tribuna. “Você acha que, se fosse o caso, eu lhe diria?”, indagou ele no Canal 10 da TV israelense, nesta quinta-feira.