Bush usou 11 de setembro para fins políticos, diz escritora

Após os ataques de 11 de setembro de 2001, o medo passou a ser uma idéia fixa nos Estados Unidos, e esse temor generalizado foi usado pelo governo para fins políticos, segundo a jornalista americana Carol Brightman, 66, autora do livro “Insegurança Tot

Segundo ela o Iraque foi invadido pela administração de George W. Bush devido à necessidade americana por mais petróleo, e que a estratégia de guerra do atual governo foi “a pior da história do país”. “A administração Bush baseou sua guerra 'contra o terror' nos ataques de 11 de setembro, que criaram muito medo no coração dos americanos, com lembranças constantes da mídia, de forma que muitos jamais superaram o que se passou. O medo se tornou uma idéia fixa”, diz Brightman.


 


Para a jornalista, as invasões do Afeganistão — cujo governo Talibã havia sido apoiado financeiramente pelos EUA anos antes — e do Iraque não tiveram relação direta com o terrorismo, ou com a suposta ameaça do então presidente iraquiano Saddam Hussein, mas com a necessidade dos EUA de estar próximos de novas fontes de petróleo.


 


“Após declarar guerra contra o Afeganistão, Bush atacou seu alvo principal, o Iraque, e divulgou uma série de mentiras para justificar a invasão do país e a deposição de Saddam Hussein”, diz a escritora, citando a manipulação de Bush em associar o governo iraquiano à suposta rede terrorista al-Qaida e as acusações de que o Iraque possuiria armas de destruição em massa. Segundo ela, a real intenção de Bush era empreender “uma mudança de regime” no Iraque.


 


Brightman explica que, com a ação militar no país, Bush pretendia completar o domínio do Iraque, iniciado durante o mandato de George Bush, seu pai, com a Guerra do Golfo, em 1991. A necessidade crescente por mais petróleo seria a principal razão deste esforço de Bush, segundo a jornalista. “Os EUA precisam criar bases militares próximas de locais que sejam fontes de energia, assim como o Iraque e, se necessário, a Irã e a Síria”, diz.


 


Segundo a escritora, a política militar de Bush foi a “pior estratégia de guerra da história dos EUA”. Ela afirma que a necessidade de mudar o regime do Iraque teve início “muitos anos antes” da invasão do país. 'Em 1998, Clinton já alertou para a formação de um 'eixo do mal' de 'terroristas' e países 'sem lei', tais como o Iraque, que os abrigavam”, diz.


 


No entanto, ela lembra que foi Bush quem deu início à guerra. “Hoje a administração Bush não apenas perdeu a Guerra no Iraque, da qual não consegue se livrar sem admitir a derrota, como também sofreu outras perdas devido à política em torno da 'guerra contra o terror'”, diz.


 


Entre essas perdas, ela cita a escassez de recursos militares, causada pelo imensos gastos no conflito. “Milhares de tanques e veículos de guerra estão fora de uso devido à falta de fundos”.


 


O Exército americano também já não é capaz de recrutar soldados suficientes, e conta com poucos recursos para treinamento militar. De acordo com Brightman, os EUA hoje vivem um verdadeiro colapso militar, conseqüência da luta americana para garantir o domínio mundial.


 


Mas, segundo Brightman, as perdas dos EUA no “grande jogo” da política global não se resumem ao Iraque ou ao âmbito militar, e são “ainda maiores”. “A derrota americana se reflete também na derrota de Israel para o Hezbolá na recente agressão contra o Líbano”, diz a escritora.


 


Segundo ela, a posição dos EUA na economia global também decaiu. “Basta observar o corte dos gastos com educação e saúde e os gastos militares, que geraram dívidas, e o enorme orçamento do Pentágono”, exemplifica a jornalista.


 


A falha de Washington em responder à passagem do furacão Katrina — que devastou o sul dos EUA em 2005, matando mais de 1.300 pessoas — também aponta que as prioridades do governo americano mudaram. “Mas nem mesmo os gastos militares valem o preço da guerra”, diz ela.


 


A jornalista diz ver algumas similaridades entre o atual conflito no Iraque e a Guerra do Vietnã (1964-1975), alegando que “a guerra do Iraque, assim como o Vietnã, é uma guerra errada contra um inimigo errado em um momento errado”, diz ela. “E o governo de Bush já não consegue mais esconder isso.”


 


Segundo Brightman, a Operação Liberdade para o Iraque foi vista pelo governo americano como uma “demonstração de força”, cujo término deveria ser positivo, com uma população iraquiana “agradecida” e pronta para “se alinhar aos EUA na construção de um novo Iraque”.


 


“Já não se ouve falar em reconstrução no Iraque. Nem a Halliburton — companhia de serviços petrolíferos que já foi comandada pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney — nem a Bechtel — empreiteira americana — ousam entrar em Bagdá ou usar as perigosas estradas do país”, afirma, acrescentando que “a mistura de falsidade e má fé foi ainda maior no Iraque do que no Vietnã”.